Crítica: Heavy Metal - Universo em Fantasia (trilha sonora)

19 de agosto de 2010 0 Comente Aqui!

Heavy Metal foi um divisor de águas no mundo da animação. Sua inovação foi violar brutalmente a idéia que (ainda) vigorava á trinta anos atrás sobre desenhos animados – o “para toda a família” da Disney. Heavy Metal costura junto histórias da revista homônima, por sua vez uma adaptação da francesa Metal Hurlant, capitaneada por titãs dos quadrinhos europeus: Jean Giraud (vulgo Moebius), Enki Bilal e Milo Manara, entre outros. Tanto a Heavy Metal quanto sua versão original se destacaram pela anarquia criativa que explode de suas páginas – e dá-lhe sexo, drogas e ficção científica, junto com uma boa dose de deboche e experimentalismo narrativo. Esses elementos deram a tônica das revistas nos seus anos áureos. Nisso, o filme é fiel ao espírito “sem censura” da revista, acusado de ser “juvenil” e “misógino” pelos politicamente corretos.

A trajetória de Heavy Metal foi complicada. Depois de sair dos cinemas, entraves legais envolvendo a trilha sonora adiaram o lançamento do filme em home vídeo por quinze anos (!). Os fãs tinham de se contentar com cópias piratas de péssima qualidade ou dar a sorte de assistir o filme quando passava na HBO. Quando Heavy Metal finalmente chegou em DVD, a espera quase compensou: os extras incluíam cenas inéditas, um documentário making of, galeria das capas da revista, etc.
  
Veteranos do rock pesado povoam a trilha de Heavy Metal – Blue Öyster Cult, Nazareth, Grand Funk Railroad e, claro, os pais do monstro: o Black Sabbath. Em "Mob Rules" ouvimos o Sabbath sem Ozzy, renascido, na sua fase Ronnie James Dio (falecido em maio desse ano). Outro da velha guarda é o Grand Funk Railroad, que junto á Alice Cooper era uma das poucas bandas americanas batiam de frente com a “segunda invasão inglesa” (Led Zeppelin, Deep Purple e o Black Sabbath). A inclusão de “Psychic Wars” do Blue Öyster Cult é quase obrigatória, tanto pelo som quanto à obsessão perene do grupo por sci-fi. Nazareth, da Escócia - aquela banda que fez sucesso à milênios atrás com "Love Hurts" - vem com "Crazy (A Suitable Case for Treatment)".

Da safra de bandas mais novas temos o Cheap Trick, visionários que fizeram a ponte entre o “rock jurássico” e o punk, influenciando no processo de Guns ‘n’ Roses à Green Day. “Reach Out”, com seus sintetizadores e suas guitarras nervosas, consegue ser a melhor música do disco. "I Must Be Dreamin'" mostra aquele lado mais experimental da banda, nunca parada no tempo, sempre reformulando seu som. Temos também “Prefrabricated” da francesa Trust, banda cult apreciada pelos fanáticos do estilo, conhecida por suas letras politizadas e incisivas.
  
Apesar do título, o álbum não se prende ao metal. É uma decisão que rende boas surpresas. Don Felder, ex-guitarrista do Eagles, conhecidos por suas baladas country-rock (entre elas o super-ultra-mega-hit “Hotel California”), é uma dessas zebras. Apesar das credenciais do rapaz não saltarem à vista, Felder surpreende com “Taking a Ride (Heavy Metal)” e a floydiana “All of You”. Os geeks do Devo não dão a mesma sorte. O seu synthpop esquizóide soa ainda mais esquisito (e deslocado) exprimido entre o Riggs e o Blue Öyster Cult. Donald Fagen, a metade da dupla Steely Dan, se sai melhor, com um jazz rock de qualidade (“True Companion”). Stevie Hicks (ex-Fleetwood Mack) também agrada com “Blue Lamp”, uma baladinha new wave. Noutras vezes, essa aposta na diversidade não convence. O “rock farofa” do Journey não deixa mentir. No mesmo ano que Heavy Metal foi lançado o Journey conquistou o mundo com “Don’t Stop Believin'” (reavivada recentemente por Glee) e o chororô interminável de “Open Arms”, parte da trilha.

Enquanto acabo de digitar essa resenha, um novo capítulo da saga Heavy Metal se abre. Desde 2008 o diretor David Fincher (Se7en, Clube da Luta, A Rede Social) luta para fazer um remake do filme em 3-D. Fiel ao espírito do original, os vários segmentos serão feitos por diferentes diretores. Dizem por aí que Zack Snyder (300), Gore Verbinski (da série Piratas do Caribe), Guilhermo Del Toro (O Labirinto do Fauno) e até o todo-poderoso James Cameron vão colaborar nesse megaprojeto. Caso um dia esse filme se torne realidade, tomara que sua música esteja no mesmo nível que a direção, e que tenhamos o privilégio de ver mais um bom casório entre rock e cinema.

O Cinema Detalhado não disponibiliza links pra download. Se quiserem ouvir a trilha, mandem uma mensagem pra mim que eu a envio via e-mail. Obrigado.

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