Conta Comigo (Stand By Me)

18 de agosto de 2010 0 Comente Aqui!

Caros leitores...No mundo dos Blogs terminamos conhecendo muitas pessoas e com o passar do tempo passamos a admirar o trabalho de muitos. Hoje vamos contar com a participação de Cristiano Contreiras do "Apimentário". O texto está maravilhoso e fala sobre um filme que aparentemente é muito legal! Confiram!


Há filmes que falam sobre o coração, quando não há nada que os cale: eles falam por si. Qual sentido da amizade? Deliberado, o filme Conta Comigo revela-se inevitavelmente um estudo pleno, singelo e incondicional sobre a amizade. Pois, quatro diferentes amigos descobrem o próprio significado de existência rumo à compreensão humana - diante de uma jornada que trilham em busca de um corpo de um adolescente desaparecido. Os quatro são amplamente divergentes: há o sensível Gordie (Wil Wheaton), o medroso Vern (Jerry O'Connell), o destemido Teddy (Corey Feldman) e o maduro valente Chris (River Phoenix). O roteiro, genuína adaptação sentimental do conto "O Corpo" de Stephen King, revela-se um estudo discreto sobre a autodescoberta, amizade ocasional que perdura, manifestações da pré-adolescência sexual e boa dose de psicologia de transgressões familiares. Os quatro garotos lidam com o desapego familiar, a necessidade de questionarem os próprios problemas. O enredo é narrado pelo ponto de vista do personagem Gordie, já homem, escritor, e personificado por Richard Dreyfuss: eis que sua percepção já madura e um tanto nostálgica condiciona o espectador avaliar, junto com ele, toda sua vivência no verão de 1959. E o roteiro de Raynold Gideon evidencia essa busca sentimental sobre jovens em constante sede de amizade, doce partilha de companheirismo e fidelidade conjunta. Como deve prevalecer a mais pura amizade?

Os diálogos sensíveis, as brincadeiras, as travessuras, em meio ao leve humor e densa dose emocional - conduz um roteiro muito primoroso, de pura ternura e realista. Quem não teve amigos pra toda vida em tão curto espaço de tempo? Quem não recorda momentos da infância ou pré-adolescência? Mais que um condicionamento narrativo sobre amizade: é um exercício quase literário cinematográfico de lealdade - deve ser, portanto, classificado como um melodrama pautado na reflexão de temas como crescimento pessoal, maturidade e perda. Os garotos traçam a própria perda da infância pra maturidade, no decorrer da jornada. Com o fim da inocência: o ganho da vida? O diretor Rob Reiner é perspicaz em conduzir cenas com emoção à flor da pele, preenchendo com fidelidade a aura dos anos 60 - repleta de hits sonoros, roupas, hábitos e costumes - para dar vazão a um sentimento único: o valor da amizade, jamais deve ser dissipado. O que fazer quando uma amizade é abalada? O que define o sustento desse sentimento? O que deve prevalecer?

A música Stand by me, de John Lennon, aqui é performado com êxtase imortal por Ben E. King e dá tom à atmosfera juvenil do filme, deliciosamente transmitido com ternura. Jornada de aprendizado? O que se configura mais tocante no filme: a importância da amizade só é exercida quando essa deixa de existir. De fato, encontrar amizades sinceras é algo bastante improvável. Nem toda amizade é eterna, principalmente as de infância que cicatrizam, mas são difíceis de serem cultivadas até a fase adulta. Há situações, constantemente, que coloca tudo a prova. O risco é pouco? No filme, há uma humanização dos personagens. River Phoenix, morto poucos anos depois do filme, interpretava magistralmente com misto de emoção e sinceridade. Há um Corey Feldman cativante, John Cusack como o irmão falecido de Gordie e até uma participação de Kierfer Sutherland como um bad boy antagonista da trama.

O roteiro expressa as diferenças psicológicas entre os garotos: enquanto Vern e Teddy mantinham papos desconexos, brincadeiras infantis e certa imaturidade - Chris e Gordie tinham sintonia pra papos mais existenciais, reflexivos e demonstravam maior sexualidade pela maturidade mais evidente. Tanto Chris e Gordie servem de catalisadores para a motivação reflexiva sobre abordagens íntimas de melancolia, insatisfação de vida e meditação sobre problemas pessoais. Eis uma lição de vida bem concebida, película poética. "Amigos nas nossas vidas são como garçons em restaurantes. Sempre passam, porém, alguns demoram mais do que outros".

Nota: 9,0

Trailer do Filme:

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