Crítica: O Cheiro do Ralo

Porque eu tenho escolhido filmes tão complicados para assistir? Tanto tempo que tenho a possibilidade de assistir essa obra e nunca me dediquei...Sábado tive o conhecimento de que este filme tinha ganho muitos prêmios no Brasil e que estava muito bem conceituado. Será que mesmo com tudo isso ele vai conseguir agradar ao público? Será que ele é mais um filme para os críticos e não para a platéia?

Complicado...Complicado...Complicado.

Vamos tentar desenvolver este mundo de idéias que estão passando por minha cabeça. Este filme é extremamente interessante e ao mesmo tempo péssimo. A curiosidade que ele desperta lhe prende e toma sua atenção...Ao mesmo tempo nada de muito novo é apresentado durante toda a obra, o que lhe torna interessante e longe de ser um dos melhores. Os temas abordados apesar de serem críticos e bastante ricos em análises e interpretações, são temas pouco vistos antes e daqueles que não fazem o público delirar.

Conhecemos com ele duas coisas bem simples...tomamos conhecimento do que o dinheiro pode comprar e ao mesmo tempo noção que dinheiro não trás felicidade. Uma análise um pouco clichê que pode ser melhor explicada com uma breve sinopse. O ralo está presente em todo o momento na vida de Lourenço e o seu fedor lhe irrita de forma incontrolável. Na verdade o que mais irrita o protagonista é saber que sua vida toda poderia se resumir aquele ralo fedido. Seu noivado não vingou, não consegue demonstrar amor por ninguém e seu maior objeto de desejo é a bunda da garçonete. Para ele tudo tem um preço, por exemplo, a bunda da garçonete implica em comer uma comida péssima e em conseqüência uma ida ao banheiro não muito cheirosa, o que ocasiona um fedor insuportável no ralo. Todo esse pensamento doentio e a frieza que adquiriu em sua empresa, onde compra bugigangas para revender, fazem de Lourenço um lunático e simplesmente esnobe comerciante.

Conseguiram sacar a loucura que o filme propõe? Para mim que sou aspirante a administrador, este serviu para conhecer o poder de negociação. Primeiro o cara compra um olho sem utilidade e logo este vira o olho de seu pai falecido na segunda guerra mundial. Depois ele estampa em sua sala um poster do filme Getaway, mas ao ser questionado sobre cinema disse nunca ter visto antes. Não que isso seja uma coisa lá muito ética, mas o filme mostra que um negociador bom é aquele que percebe o teor de necessidade do próximo, para assim assumir o poder ou não. Nem sempre Lourenço se saía muito bem em seu negócio, mas uma qualidade era saber admitir a derrota.

Os Acontecimentos são cômicos, mas levam a crer que você está diante de um trabalho feito para os mais detalhistas. Poucos são aqueles que vão identificar toda a ambiquidade proposta e é exatamente por isso que consigo dizer que este não é filme para todo mundo e que o famoso "povão" não vai curtir.

Selton Mello (Mulher Invisível, Jean Charles) está mais uma vez dando um show de interpretação e carrega muito bem a obra e as cenas pesadas que estão em todo momento...Roupas sendo tiradas, dignidade sendo comprada, simulação de estupro e de assalto. Todos esse fatores entrelaçados dão o tom de sujeira proposto pela direção. Em meio a este sentimento caótico, consigo dizer que a idéia é genial e aqueles que conseguirem sentir as vibrações de cada cena irão se divertir com o sarcasmo.

Não levem tanto em consideração uma possível nota. Com tanta disparidade proposta e tantos pensamentos múltiplos e opostos, acredito que 8 em cada 10 espectadores poderão ter visões diferentes. A minha é de um filme acima de média...e a sua qual será? Assista e venha comentar...filmes complicados merecem discussão.

Nota: 7,0

Trailer do Filme: