O cinema alternativo europeu tem
se especializado em realizar filmes de temática forte, muitas vezes apostando
em um terror mais palpável. Saem fantasmas e estéticas clássicas e entram o
poder da mente diabólica de um ser humano, inseridos em uma vida mais
cotidiana. Na verdade, isso não chega a ser uma novidade, muitas obras de
terror dos anos 70 usaram e abusaram desse expediente. Recentemente comentei
que os filmes de terror cada vez menos metem medo, mas por outro lado apostam
em outras nuances que ainda fazem o gênero um nicho interessante. Apreciador
confesso que sou do gênero, sempre arrisco em obras pouco conhecidas ou
desprezadas. E tenho chegado à conclusão que delas acabam saindo às gratas e
assustadoras surpresas, como aconteceu com esse Kill List, um filme que me
fez ter pesadelos, coisa que não acontecia há muito tempo.
Alguns dias atrás, li uma
entrevista do diretor brasileiro Karim Ainouz (residente na Suíça)
falando de como o cinema em geral se apega a esquemas de gêneros e também como
as produções de origem nórdico-escandinavas, há muito tempo, quebraram esses
paradigmas e transitam livremente pelos diversos gêneros em suas obras. O
próximo filme de Ainouz, Praia do Futuro, vai ser algo tramado nesse
esquema e esse tipo de tratamento, vem fazendo escola na Europa. A própria
Hollywood recentemente recrutou alguns desses cineastas (na intenção de
reciclar seu cinema) que ficaram em evidencia ao trabalhar essas temáticas,
como o atualmente hypado Nicolas Winding Refn. O diretor inglês de Kill
List, Ben Weatley, é novato na realização, mas parece ser um aplicado
aluno do “cinema gelado” que vem conquistando o mundo. O seu filme transita de
forma competente pelos gêneros drama, ação e terror, fazendo de seu trabalho,
uma obra que de tão assustadoramente realística, cria uma hiper-realidade.
A trama começa nos jogando em um
conflito conjugal entre o ex-militar Jay (Neil Maskell) e a esposa Shel (MyAnna
Buring), também soldado reformada. Interessante como Jay é subjugado pela
mulher, se mostrando quase que submisso à personalidade da esposa (talvez por
ele estar desempregado a um bom tempo). Um desavisado pode achar que esta
acompanhando um melodrama, tantas são as discussões entre o casal e como elas afetam
o pequeno filho. Daí tem um jantar na casa do casal, aonde conhecemos Sam (Harry
Simpson) e sua namorada Fiona (Emma Fryer). Um clima descontraído, apesar das
constantes desavenças, mas que serve para situar o relacionamento entre Sam e
Jay, de uma forte amizade. Entre cigarros de maconha e copos de vinho, os dois
homens se destacam das mulheres e vão para a garagem da casa, na maior
naturalidade, começam a manusear armas de grosso calibre e lembrar de quando
eram soldados. Durante a conversa, Sam propõe a Jay um trabalho: o de
assassinos contratados.
O tal trabalho consiste em matar
três personalidades públicas: um padre, um sujeito envolvido com vídeos de
ordem não apresentada (mas possivelmente pedófila) e um político influente. Jay
não titubeia em aceitar a missão e assim eles partem. Nessa segunda parte do
filme, entramos em uma típica trama de ação, com chefões do crime e uma
montagem ágil que destoa abruptamente do ritmo lento inicial. O submisso e
letárgico Jay assume uma personalidade psicótica, mirando em seus alvos com uma
violência desmedida, o que rende momentos de gore únicos, como quando
ele literalmente quebra um sujeito a marteladas ou quando esfacela o rosto de
um outro homem na parede. A essa altura, o filme começa a ganhar contornos mais
adrenergicos e uma tensão crescente é instaurada. No final do segundo trabalho,
a dupla se desentende, até pelo descontrole de Jay e decidem por não realizar o
terceiro assassinato. Claro que os contratantes não aceitam isso e impõe que o
contrato seja concluído, fazendo ameaças às famílias. Assim eles invadem a casa
do tal político. Mal eles sabiam que se deparariam com um terror impensável.
3 Comente Aqui! :
Fiquei bastante interessado nesse filme, não apenas porque gosto do cinema alternativo, como tenho me dedicado recenteente aos filmes europeus. Interessante ter essa dica de filme, vou procurar por ele.
Aliás, o filme pode ser um livro, mas esse texto convence qualquer um a vê-lo, parabéns!
Cinema alternativo europeu tem sido uma ótima opção nesse período frágil, para meu gosto, de filmes de qualidade.
Li sobre este filme em outro blog também e fiquei curioso.
O cinema precisa de filmes diferentes, que saiam da vala comum do cinema americano.
Abraço
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