Crítica: Matrix (trilha sonora)

10 de junho de 2010 4 Comente Aqui!

Uma década depois do seu lançamento, o que resta a ser dito sobre Matrix? Matrix conseguiu captar com maestria a tensão pré-milenial dos anos 1990 via sua mistura de cyberpunk, metafísica oriental, messianismo judaico-cristão e pancadaria kung-fu a lá John Woo. O grande mérito dos irmãos Wachowski é fazer essa bricolagem, tão heterodoxa, tão pós-moderna, funcionar.

O pós-modernismo futurista do filme aparece na seleção das faixas, feita pelo consultor musical dos Wachowski, Jason Bentley. Bentley reúne artistas de ponta, a maioria fazendo misturas (até então) inovadoras. Da linha de frente do new metal temos “My Own Summer” do californiano Deftones, que alia o peso do metal ao groove do hip-hop, temperada com a introspecção psicodélica do shoegaze rock. O Propellerheads revisita o passado pra traçar o futuro, intercalando samples orquestrais de James Bond com sequenciadores. “Spybreak”, pra quem lembra, faz fundo de uma das cenas mais emblemáticas do filme – a invasão de Neo e Trinity ao prédio onde Morfeus está preso. Mais introspectiva e detida, “Clubbed to Death (Kurayamo Mix)” apresenta uma amálgama de música erudita e batida sincopadas, marca registrada de Rob D. A exceção a essa miscelânea futurista é o Monster Magnet, a julgar pelo stoner rock de “Look to Your Orb For the Warning”.

Eleito como a encarnação musical do cyberpunk por alguns arautos da cibercultura, o metal industrial é bem representado em Matrix. Abrindo o disco está “Rock Is Dead” do eterno provocador Marilyn Manson. Pai do gênero, o Ministry funde a visceralidade do rock com as possibilidades da tecnologia em “Bad Blood”, ganhadora do Grammy pelo Best Hard Rock Performance de 1999. O bicho-papão Rob Zombie solta um remix de uma música do seu (primeiro) disco solo Hellbilly Deluxe. Essa nova versão de “Dragula” (melhor do que a original, por sinal) é ouvida quando Neo e Trinity se encontram pela primeira vez. Por fim temos o Rammstein, reis do Tanz-Metal, com seu hit “Du Hast”.

O que o jornalismo brasileiro chamava de “tecno” nos tempos de antanho (conhecida hoje como electronica ou o velho dance music) ocupa metade da coletânea. No auge de sua popularidade depois da explosão do Prodigy e do Chemical Brothers, aquilo que tinha nascido na lisergia de raves clandestinas estava sendo agora cotada pela Rolling Stone como o “novo rock alternativo” (um hype que não vingou nos Estados Unidos da América, mas tomou de assalto o Velho Mundo, principalmente o Reino Unido). Então no topo do panteão eletrônico, o Prodigy mostra em “Mindfields” o ritmo agressivo e fragmentado pelo qual é conhecido. “Mindfields”, cabe dizer, foi tirada do disco Fat of the Land, símbolo de uma era onde a música eletrônica quase virou um novo tipo de rock. Menos alardeados pela grande mídia, o Hive e o Meat Beat Manifesto (mais os já mencionados Rob D e Propellerheads) trazem contribuições igualmente interessantes para a trilha.

Na deixa do filme, a trilha fecha com o funk-rock nervoso do Rage Against the Machine. Politizada, como é de praxe da banda, “Wake Up” lembra o ouvinte dos movimentos sociais de outrora e seus líderes, figuras que “cuspiram nas estruturas” e acabaram silenciados. Malcom X e Martin Luther King são citados por nome. Não é a toa que os Wachowski parearam essa música com a cena final, quando Neo avisa aos detentores do poder - as "máquinas", criadoras da Matrix - que uma revolução está à caminho.

O Cinema Detalhado não disponibiliza links pra download. Se quiserem ouvir a trilha, mandem uma mensagem pra mim que eu a envio via e-mail. Obrigado.

4 Comente Aqui! :

  • Tiago Britto disse...

    Rpz! voce estavam ansioso! estava criando o clima para a super surpresa do dia! mas tudo bem!! seja bem vindo cara! é um honra te-lo conosco!

    QUINTA FEIRA É DIA DE TRILHA SONORA!!!!

  • Cidão disse...

    Esta trilha é realmente sensacional cara... Bom texto Zé, deu para ver que você fez o dever de casa, ficou bem completo. Quase tive que ler em zazen. Hahaha. Se você aceita sugestões para o próximo post, faz High School Musical aí! Abraço!

 
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