Resenha de Filme: Relação Explosiva (Hit and Run)

29 de janeiro de 2013 0 Comente Aqui!

Difícil não remeter Relação Explosiva, escrito, dirigido e protagonizado pelo ator americano Dax Shepard, aos road-movies de comédia de ação dos anos 70, principalmente os protagonizados por um então popular Burt Reynolds. Bebendo da fonte de filmes como Agarra-me se Puderes (1977), Desta Vez te Agarro (1980), a produção, assim como as obras citadas, traz um protagonista debochado, com um passado suspeito, bom de briga, sedutor e audaz no volante. Entretanto, o elenco, envolvendo nomes conhecidos e substanciais do cinema comercial atual, não é o único chamariz e como nas produções setentistas, os veículos são coadjuvantes importantes, até pelas seguidas cenas de perseguição e também servindo para criar analogias da personalidade de cada personagem.  

A trama de Relação Explosiva é relativamente simples, sem muitos contornos: Charles Bronson (Dax Shepard) é testemunha importante de um crime. Ameaçado de morte, vive à custa do programa de proteção, que o coloca escondido em uma bucólica cidadezinha. Logo ele engata um romance com Annie (Kristen Bell), uma professora local, romântica e mestranda em “controle de conflitos”. Quando Annie precisa ir a Los Angeles para uma promissora entrevista de emprego, Charles percebe que a única maneira de não perder a namorada é levá-la de carro, um imponente Lincoln 1967, até a cidade da onde saiu foragido. Mesmo que para isso precise contrariar o agente que cuida de seu caso, o atrapalhado Randy (Tom Arnold) e estimule o ciúme doentio do ex-namorado de Annie, o possessivo e inconformado Gil (Michael Rosenbaum).

Pondo-se em perseguição ao casal, Gil consegue informações importantes através de seu irmão, o policial gay Terry (Jess Rowland), sobre o passado obscuro de Charles. Fatos que colocam o nosso protagonista na cena de um assalto a banco e depois como delator de seu então melhor o amigo, o assaltante rastafari Alex (Bradley Cooper). Não demora até que Gil entregue o paradeiro de Charles a Alex. Então, contem comigo: Charles guia um carro, em alta velocidade, em direção a Los Angeles, Gil é seu primeiro perseguidor, Alex torna-se o segundo e Randy, preocupado com o paradeiro de seu protegido, o terceiro. Logo temos as principais problemáticas de Relação Explosiva bem às claras: a perseguição a Charles, por diversos motivos, é claro, e a maneira como ele vai lidar com Annie, a partir do surgimento de tantas revelações sobre seu passado.

Nesse meio tempo, entre discussões de relacionamento e perseguições de carro, a porção diretora de Dax Shepard abre espaço para inserir um subtexto anti-homofobia ácido, divertido, mas não menos interessante. Com cuidado, mas sem perder o ritmo, Shepard aposta em plot-points espertos para expor a trivialidade dos gays na sociedade. O diretor faz analogias inversas, como na cena em que o policial Terry explica porque usa um aplicativo de identificação gay em seu celular: “Se você é hétero, você pode flertar com quem quiser, mas se você é gay e cantar um hétero... Pronto! Massacre homofóbico.” Em outro momento, Annie explica para Charles o quanto é depreciativo chamar alguém de “viado”. O mais curioso é como Shepard impõe tais discursos com naturalidade, sem forçar a barra ou estereotipar os personagens. Posso até estar errado, mas no meu ponto de vista, esse é um dos acertos de Relação Explosiva.

Fato: Relação Explosiva é uma obra das mais divertidas a serem lançadas pelo cinema americano em 2012, ainda com seqüências de perseguição de fazer inveja a quaisquer Velozes e Furiosos da vida. Contudo, o filme tem seus pecados, dos quais chamarei de bobagens. Uma delas, e talvez a mais gritante, é a que toca ao reencontro entre Charlie e Alex. O momento mais aguardado do filme soa anti-climático e pouco inspirado, resumindo-se a uma discussão nada engraçada sobre estupro dentro da cadeia. Parece que Shepard, talvez ciente do caráter cool que conseguiu imprimir a sua realização, não se preocupou em elaborar um desfecho “chave de ouro” para o filme. Afinal, durante toda a narrativa (importante ressaltar aqui, pontuada com ótimas canções de rock e country) observamos diálogos afiados e espirituosos e que criam certa expectativa. E terminar como terminou, foi meio decepcionante. Contudo, finalizarei assim: foi decepcionante, mas não comprometedor.



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