Difícil não remeter Relação
Explosiva, escrito, dirigido e protagonizado pelo ator americano Dax Shepard, aos road-movies de comédia de ação dos anos 70, principalmente os
protagonizados por um então popular Burt
Reynolds. Bebendo da fonte de filmes como Agarra-me se Puderes (1977), Desta
Vez te Agarro (1980), a produção, assim como as obras citadas, traz um
protagonista debochado, com um passado suspeito, bom de briga, sedutor e audaz
no volante. Entretanto, o elenco, envolvendo nomes conhecidos e substanciais do
cinema comercial atual, não é o único chamariz e como nas produções
setentistas, os veículos são coadjuvantes importantes, até pelas seguidas cenas
de perseguição e também servindo para criar analogias da personalidade de cada
personagem.
A trama de Relação Explosiva é relativamente simples, sem muitos contornos:
Charles Bronson (Dax Shepard) é
testemunha importante de um crime. Ameaçado de morte, vive à custa do programa
de proteção, que o coloca escondido em uma bucólica cidadezinha. Logo ele engata
um romance com Annie (Kristen Bell),
uma professora local, romântica e mestranda em “controle de conflitos”. Quando
Annie precisa ir a Los Angeles para uma promissora entrevista de emprego,
Charles percebe que a única maneira de não perder a namorada é levá-la de
carro, um imponente Lincoln 1967, até a cidade da onde saiu foragido. Mesmo que
para isso precise contrariar o agente que cuida de seu caso, o atrapalhado
Randy (Tom Arnold) e estimule o ciúme
doentio do ex-namorado de Annie, o possessivo e inconformado Gil (Michael Rosenbaum).
Pondo-se em perseguição ao casal,
Gil consegue informações importantes através de seu irmão, o policial gay Terry
(Jess Rowland), sobre o passado
obscuro de Charles. Fatos que colocam o nosso protagonista na cena de um
assalto a banco e depois como delator de seu então melhor o amigo, o assaltante
rastafari Alex (Bradley Cooper). Não
demora até que Gil entregue o paradeiro de Charles a Alex. Então, contem
comigo: Charles guia um carro, em alta velocidade, em direção a Los Angeles,
Gil é seu primeiro perseguidor, Alex torna-se o segundo e Randy, preocupado com
o paradeiro de seu protegido, o terceiro. Logo temos as principais
problemáticas de Relação Explosiva bem às claras: a perseguição a Charles, por
diversos motivos, é claro, e a maneira como ele vai lidar com Annie, a partir
do surgimento de tantas revelações sobre seu passado.
Nesse meio tempo, entre
discussões de relacionamento e perseguições de carro, a porção diretora de Dax Shepard abre espaço para inserir um
subtexto anti-homofobia ácido, divertido, mas não menos interessante. Com cuidado,
mas sem perder o ritmo, Shepard aposta
em plot-points espertos para expor a
trivialidade dos gays na sociedade. O diretor faz analogias inversas, como na
cena em que o policial Terry explica porque usa um aplicativo de identificação
gay em seu celular: “Se você é hétero, você pode flertar com quem quiser, mas
se você é gay e cantar um hétero... Pronto! Massacre homofóbico.” Em outro
momento, Annie explica para Charles o quanto é depreciativo chamar alguém de
“viado”. O mais curioso é como Shepard
impõe tais discursos com naturalidade, sem forçar a barra ou estereotipar os
personagens. Posso até estar errado, mas no meu ponto de vista, esse é um dos
acertos de Relação Explosiva.
Fato: Relação Explosiva é uma obra
das mais divertidas a serem lançadas pelo cinema americano em 2012, ainda com seqüências
de perseguição de fazer inveja a quaisquer Velozes
e Furiosos da vida. Contudo, o filme tem seus pecados, dos quais chamarei
de bobagens. Uma delas, e talvez a mais gritante, é a que toca ao reencontro
entre Charlie e Alex. O momento mais aguardado do filme soa anti-climático e
pouco inspirado, resumindo-se a uma discussão nada engraçada sobre estupro
dentro da cadeia. Parece que Shepard,
talvez ciente do caráter cool que
conseguiu imprimir a sua realização, não se preocupou em elaborar um desfecho
“chave de ouro” para o filme. Afinal, durante toda a narrativa (importante
ressaltar aqui, pontuada com ótimas canções de rock e country) observamos
diálogos afiados e espirituosos e que criam certa expectativa. E terminar como
terminou, foi meio decepcionante. Contudo, finalizarei assim: foi decepcionante,
mas não comprometedor.
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