Desde os primeiros minutos de O
Homem da Máfia percebe-se que o espectador não está diante de uma
realização clichê de submundo e com criminosos tão comuns. O diretor
neozelandês Andrew Dominik, do
elogiado O Assassinato de Jesse James
pelo Covarde Robert Ford (2007), constrói sua mais recente obra de forma atípica
aos filmes do gênero. O cineasta aposta em uma estética visual elaborada, como
luzes estouradas e câmeras lentas naturais, um roteiro em que os diálogos são o
principal para evoluir a narrativa, ainda com um pano de fundo que critica o
contexto social-político-econômico americano. Nesse sentido, sobre a última característica
citada, não sei dizer com certeza até onde isso é interessante ou se torna uma
pretensão e logo um demérito para o filme.
Essa afirmação da última frase
acima parte da seguinte indagação: O Homem da Máfia é um filme de
gangsteres ou um drama que julga a sociedade retratada através de tipos
marginais? Acho que nem o diretor consegue responder essa pergunta com tanta
clareza, porque mesmo existindo uma justificativa ácida no desfecho para a
câmera de Andrew Dominik enquadrar TVs
aleatórias que transmitem discursos políticos, do então presidente George Bush
e o senador Barack Obama, tais inserções parecem travar a trama, assim como diálogos
dissociados pouco atraentes. Creio que essas conversas fugindo a temática
central são cenas do cotidiano, com o intuito de trazer mais realidade para as
situações. Contudo, no meu ponto de vista, não se mostram tão eficientes e até
podem causar certa sensação desagradável no público, principalmente por deixar
a trama de caráter simples um tanto confusa.
Se procurarmos abstrair tais considerações
críticas ao american way of life, O
Homem da Máfia foca a história de um assassino profissional, Jackie (Brad Pitt), contratado para dar cabo em
alguns criminosos envolvidos em um assalto a uma casa de jogos clandestinos,
entre os principais, o covarde Markie Trattman (Ray Liotta) e uma dupla de bandidos atrapalhados e viciados em
heroína vividos por Scott McNairy e Trevor Long. No entanto, apesar de
eficiente e talentoso no seu oficio, Jackie não parece gostar de fazer os trabalhos
de forma simples, tem um modus operandi
pessoal, envolvendo algumas exigências, como trazer o fanfarrão Mickey (James Gandolfini) para ajudá-lo. Nesse
meio tempo, discute os assassinatos dentro do carro do mandante interpretado
por um sempre eficaz Richard Jenkins
e bate papo com Mickey, enquanto ele bebe litros de bebidas alcoólicas e conta
suas infames proezas sexuais.
Entre uma tomada e outra de
elucubrações dos personagens, Andrew
Dominik preenche o filme com seqüências mais agitadas, onde elaboradas com
tensão e esmero, fazem o filme crescer em avaliação, como no assalto a casa de
jogos, de longe o melhor momento do filme, e outras cenas em que vemos Jackie
“trabalhando”. Necessário ressaltar que se O Homem da Máfia mostra-se um filme
mais idiossincrático do que deveria ser, conotando reflexões rasas e ressalvas
negativas, o mesmo não pode ser dito da atuação de Brad Pitt. O ator dimensiona seu personagem com o talento que tem
para tipos curiosos, trazendo para Jackie, de forma natural, nuances de uma
personalidade inteligente e violenta. Esses pontos positivos sobre a
interpretação de Pitt, infelizmente,
não podem ser aferidos da mesma forma em relação ao Mickey de um James Gandolfini caricato e praticamente
sem função na trama.
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