A arte como característica, desde
sempre, inerente ao caráter do ser humano. A origem do homem moderno,
preocupado em externar seus sentimentos cotidianos em projeções artísticas.
Antes de ser um documentário sobre a descoberta da francesa Caverna de Chauvet, que deu outro rumo
para paradigmas históricos sobre o estudo do homem pré-histórico, A
Caverna dos Sonhos Esquecidos, dirigido pelo cineasta alemão Werner Herzog, procura transcender a
suposição de investigação histórica e cultural para galgar a busca dessa representatividade
maior da espiritualidade humana. Não à toa, em um dos depoimentos mais
inspirados, um dos cientistas que analisam o imenso complexo de cavernas, crê
ser errôneo o termo homo sapiens,
afirmando que no seu ponto de vista o mais adequado seria homo spiritualis, pois o homem, contradizendo a sapiência que o
termo sapiens elucida, passa longe do
saber pleno, pois está sempre a procura do entendimento maior.
As entrevistas e monólogos em tom
muitas vezes didático, comuns aos documentários que abordam temas científicos,
estão presentes e impulsionam a trama de A Caverna dos Sonhos Esquecidos. Não
creio que seja um demérito, partindo do principio da dificuldade em não manter
esse tipo de estética narrativa como alicerce em um apanhado documentarial
ontológico. No entanto, Werner Herzog,
que também assina o roteiro, como realizador inquieto e audaz, imbui sua obra
de uma bem-vinda aura artística, reverenciado intencionalmente os homens que
pintaram as impressionantes imagens rupestres, datadas em trinta e dois mil
anos, que revestem as paredes da Caverna
de Chauvet. Essas características que procuram evadir de uma pegada apenas
convencional surgem, primeiramente, da voz imponente e gutural de Herzog que narra o filme em tom
desafiador, da trilha sonora melancólica pontuando boa parte da trama e da
utilização de recursos de câmera prodigiosos, como vistosos travellings.
Começando com a exploração
interior da Caverna de Chauvet,
mostrando sua estrutura peculiar talhada pelos milhares de anos e seu clima
comovente de “cápsula do tempo”, a trama de A Caverna dos Sonhos Esquecidos
não se detêm apenas a focar nessa descoberta imprescindível da ciência. Em
certo momento, um estudioso afirma que para entender melhor a caverna se faz
necessário sair dela e contemplar o entorno e suas extensões. Assim se traz a
tona toda uma biosfera repleta de animais pré-históricos, onde a geografia
também era totalmente diferente, além da maneira como o homem daquela época
lidava com suas problemáticas. Então surgem considerações que surpreendem,
instaurando a discussão sobre como trabalhos paleolíticos semelhantes podem
surgir em diversos lugares, como a escultura de uma Vênus, de imagem
hibridizada com um animal, que aparece tanto nas paredes da caverna francesa quanto
nos distantes Alpes alemães.
Ficha Técnica:
A Caverna dos Sonhos Esquecidos (Cave of Forgotten Dreams).
Direção: Werner Herzog.
Roteiro: Werner Herzog.
Ano: 2010.
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