A Separação é um filme Iraniano que está surpreendendo o mundo todo e arrebatando prêmios em diversos países. Asghar Farhadi é o diretor responsável pela produção e esse ano conquistou o Urso de Ouro por esse belíssimo trabalho. Na semana passada foi confirmada a candidatura do longa ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e sua presença na cerimônia do Oscar é praticamente certa. Todo esse alvoroço ao redor da película é bastante justa e poucas vezes vi um filme com a qualidade que este me apresentou.
A história começa com uma mulher, que deseja se divorciar, para viver fora do Irã. O problema na situação toda é que ela deseja levar a sua filha de 11 anos consigo, mas esta não pode deixar o país sem permissão e consentimento do pai, que fez questão de ser contra a situação. A decisão de Nader, pai da criança, faz com que Simin, mão da menina, deixe a casa e se estabeleça uma separação informal. A filha do casal fica com o pai, mas este se encontra em uma situação muito complicada com todos os acontecimentos recentes. Além de cuidar dela, ele tem consigo a missão de cuidar de seu pai, que sofre do mal de Alzheimer. Ciente da dificuldade que irá enfrentar, Nader decide que é melhor contratar alguém para ajudá-lo em casa. Assim sendo é contratada uma jovem, grávida, que trabalha escondido do marido para ajudar nos custos da casa. As coisas ficam realmente complicadas quando ela sofre um aborto espontâneo no trabalho e sua família decide acusar Nader pelo ocorrido.
O roteiro do filme é simplesmente sensacional. Não existem culpados e nem mesmo inocentes. Todos sofrem e ninguém sabe ao certo a sua porcentagem de culpa na crise em que as famílias vivem. Todos os personagens vivem um conflito moral com a situação, seja por ter saído de casa, por ter empurrado a funcionária, por ter sido descuidada ao sair de casa ou por mentir para as autoridades. Todo esse pensamento se revela capaz de ser analisado através de princípios éticos e religiosos. Mais complexo do que isso, a trama mostra indiretamente quem mais sofre em casos de separação, os filhos do casal. A jovem Termeh vê sua família cada vez mais no fundo do poço e não consegue fazer nada para concertar a situação. Seu sofrimento nem sempre é externalizado mas está presente em seus pensamentos, falas e questionamentos.
A opção do diretor por uma câmera mais inquieta e presente faz com que tudo seja desmontrado de forma tão realista que chega a dar a impressão de que estamos diante de um documentário. As imagens percorrem nas mínimas expressões dos personagens e enriquecem ainda mais o trabalho do grande elenco que compõe a obra. O desenvolvimento circunda um meio sentimentalista e ao mesmo tempo severo e cru. É possível se sentir raiva, pena, ódio e compaixão por qualquer personagem do filme. Temos pena da mulher que perde o filho, mas temos raiva dela por ter deixado um velho doente amarrado em uma cama. Temos pena de um pai que não agiu com más intenções e que assim sendo pode ter matado um feto, mas temos raiva dele por mentir no depoimento e fazer questão de acusar a mulher sem provas do que realmente aconteceu.
Volto a clamar por mais espaço para essas produções em solo brasileiro. Estou falando de um dos filmes mais marcantes que já vi e desejo que todos tenham a oportunidade de admirá-lo da forma que este merece. Ganhar o Globo de Ouro ou o Oscar é pouco coisa, apesar do grande favoritismo, diante daquilo que esse filme merece. Ele merece ser visto por aqueles que, antes mesmo de sentar numa sala ou numa poltrona, já o crucifica por ser de uma país como o Irã. Acreditem que um trabalho sensível, incrível e moderno como esse deve ser apreciado por todos.
Trailer do Filme:
3 Comente Aqui! :
Uma pena realmente que produções fora do padrão são complicadas de chegar aos cinemas e ao mercado brasileiro.
Uma pena cultural.
Parece ser realmente um grande filme.
Abraços
Acabei de assistir o filme.. E infelizmente para podermos assistir produções como essa devemos recorrer a internet...
Mesmo assim o filme é arrebatador e preferi ler as críticas somente após assistir o filme, e vejo esta que reflete as mesmas impressões que tive sobre o filme.
Essa ideia da culpa, da dúvida sobre a culpa e que na estória não existe um lado bom e ruim definido nos aproxima da realidade. Talvez nos deixamos levar pelas impressões superficiais sobre diversos temas.
O que acho interessante pelo filme ser Iraniano, me perguntei sobre uma determinada censura que talvez pudesse sofrer por apresentar uma cidadã que busca refugio em outro país.
É sempre bom também termos uma outra visão sobre uma cultura tão específica, no filme demonstrada na sua "Justiça". Hoje vemos que o Irã é dado como um inimigo mundial, talvez sejamos influenciados por mania de querermos buscar um "herói" da história. Imagino que o filme corre em paralelo com a sociedade que vivemos: cada qual se expressando somente com sua verdade absoluta e individual.
Bom, um comentário sobre o nosso cinema e a indignação que ele me dá em relação a nossa cinematografia é que a lei iraniana se assemelha a lei brasileira quanto a guarda dos filhos e a necessidade de autorização de ambas as partes para viajar ao exterior. Ou seja, necessitamos de roteiros menos superficiais urgente, quem sabe um dia?
Consigo listar nesse momento somente "Cidade de Deus" e "É Proibido Fumar" que tenha essa excelência.
Aproveitem e assistam!
Edu..dia 8 estava internado para ser operado e somente hoje tive a chance de ler seu comentário sobre meu texto. Tudo que posso dizer é obrigado por enriquecer tanto com esse belo comentário e que concordo contigo em cada vírgula que escreveu.
Apareça mais vezes, pois são comentários como este que me faz feliz!
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