Milos (Srdjan Todorovic) é um ator pornô que deixou a carreira há alguns anos e tenta levar uma vida comum com a sua mulher Marija (Jelena Gavrilovic) e seu filho de sete anos. Mas Milos não foi um ator pornô qualquer, ele é lendário no cinema pornô sérvio, conhecido por manter ereções intermináveis e sem necessidade de estímulos externos.
Com o argumento que Milos é um “deus do sexo dos Bálcãs”, Vukmir (Sergej Trifunovic), um cineasta, auto-proclamado artista, faz uma proposta tentadora para que o ator retome a atividade e assuma o papel principal no seu próximo filme. Preocupado com a situação financeira da família, que vive das rendas do que acumulou quando trabalhava e dos serviços de tradutora da sua mulher, Milos termina por aceitar a oferta de Vukmir, que o pagaria o suficiente para a criação do seu filho até a idade adulta. Porém, o cineasta não revela ao ator qual será o conteúdo do seu filme – o “Serbian Film” do título – promete apenas estar produzindo uma obra de arte sérvia que marcará o mundo.
No seu primeiro dia de filmagem, ainda sem saber do que trata o filme, Milos é levado por um motorista a um orfanato, onde recebe um ponto eletrônico – através do qual o seu diretor passa instruções – e passa a ser seguido por dois câmeras com uniformes militares. O ator é então inserido no filme de forma abrupta: é forçado a espancar uma mulher, que faz sexo oral nele enquanto são assistidos por uma adolescente. As suas reações, capturadas pelas câmeras, são exatamente o que quer o diretor.
Ao compreender o conteúdo do filme, Milos tem uma conversa com Vukmir com o objetivo de abandonar o projeto. Neste encontro, o diretor revela que o que já foi filmado era apenas o início da sua obra de arte cinematográfica e mostra um vídeo do que ele considera o clímax do seu novo tipo de arte: uma mulher dando a luz a uma criança que é estuprada logo em seguida ao seu nascimento. O ator confirma a sua desistência, porém já era tarde: na sua bebida haviam sido colocadas drogas potentes que garantiriam o vigor sexual e a agressividade buscados pelo diretor.
Dias depois, ao acordar do transe provocado pelas drogas, Milos volta ao escritório de Vukmir, onde encontra as gravações da sua “atuação” e começa então a ter flashes do que se passou. A partir deste momento o filme passa a mostrar uma sucessão das atitudes mais desprezíveis que humanos podem ter: estupro, tortura, assassinato a sangue frio, necrofilia, incesto.
O diretor estreante Srjdan Spasojevic pretendia chocar com “A Serbian Film – Terror Sem Limites” (Sérvia, 2010); seu o objetivo era chamar a atenção para o que o povo do seu país passou durante e após a guerra civil ocorrida no início dos anos 90, como decorrência da desintegração da Iugoslávia. É compreensível que o diretor pretenda com este filme fazer uma alegoria do que a população sérvia enfrentou na guerra – em que a violência sexual ocorreu em sentido literal, uma vez que estupros em massa ocorreram nos dois lados do conflito, tanto de forças sérvias contra mulheres bósnias como de tropas bósnias em diversas cidades sérvias – e também após a guerra, quando a população do seu país foi entregue a políticos corruptos: sofrimento, sensação de impotência, vitimização pelo sistema. O fato do filme dentro do filme se chamar “A Serbian Movie” mostra como os próprios sérvios encaram a sua identidade nacional: um povo que sofre as piores atrocidades e não tem chance de agir de acordo com suas vontades, de se impor.
Entretanto, Spasojevic peca pelo exagero. As cenas de violência são grotescas, exageradas e absolutamente gratuitas. A partir do momento em que estas cenas começam a ser mostradas, o filme perde as poucas qualidades que ainda conseguiam se manter (no caso, a fotografia e a cenografia das cenas em estúdio). “A Serbian Film – Terror Sem Limites” torna-se então um filme trash como qualquer outro, com sangue jorrando, entranhas expostas e roteiro mal-amarrado, porém, sem o elemento humorístico desta categoria de filme. A isso somadas as más atuações – mesmo a do bom ator Srdjan Todorovic, que já trabalhou com o famoso diretor sérvio Emir Kusturica, o que faz pensar que, em grande parte, o responsável pelas atuações por vezes sofríveis é o próprio diretor –, constata-se, portanto, que “A Serbian Film – Terror Sem Limites” é um filme ruim, absolutamente dispensável.
Não fosse o alarde da justiça, o filme teria passado despercebido no Brasil. Filmes com marca autoral são um gênero com pouca bilheteria no país, somando-se a isso o fato de que o filme é de péssimo gosto, ele certamente ficaria pouco tempo em cartaz em poucas salas e seria visto por uma audiência muito reduzida. Alarde, ainda, completamente desnecessário, uma vez que tantos outros filmes já trataram de pedofilia sem serem por isso banidos de exibição no país. “A Serbian Film – Terror Sem Limites” tão apenas sugere relações sexuais com crianças, a cena de necrofilia é visivelmente uma encenação e fica claro que as cenas de sexo não são filmadas na presença de crianças. Nada de chocante que justifique uma proibição da sua exibição. Apenas mais um filme trash como tantos outros; não se deve confundir cenas apelativas com o simples mau-gosto do diretor.
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