Crítica: Potiche - Esposa Troféu (Potiche, 2010)

9 de junho de 2011 0 Comente Aqui!

Potiche, que em francês significa literalmente um grande vaso, é também como são chamadas as esposas que vivem para os seus maridos, possuem aparência sempre impecável e nenhum poder de decisão. Servem apenas para servir de enfeite ao lado do chefe da família quando conveniente. Assim era Suzanne Pujol (Catherine Deneuve), até que seu marido Robert (Fabrice Luchini), um rico industrial, é seqüestrado por funcionários grevistas de sua fábrica. Suzanne decide então tomar a direção da fábrica para si e negociar diretamente com os grevistas.

Contra a vontade de sua filha extremamente conservadora e com o apoio do seu filho, que possui um caráter um tanto artístico e a aparência do cantor Claude François, Suzanne decide se manter na direção da fábrica mesmo após a liberação e recuperação do marido. O filme mostra a sua transformação de esposa-troféu impotente e sem vontade própria em mulher confiante, competente e menos ingênua a cada dia. O que era muito moderno nos anos 70, época em que se passa a história. Nesse período de transformação, Suzanne passa a ter contato com um amor de sua juventude, o líder sindical Maurice Babin (Gérard Dépardieu, numa retomada do mítico casal vivido por ele e Deneuve em “O último Metrô”, de Truffaut, há mais de vinte anos), que tem uma grande participação no crescimento dessa personagem feminina bastante interessante e muito bem interpretada por Deneuve.

O diretor francês François Ozon estar de volta às comédias é uma boa notícia para o cinema. Um dos diretores que mais produz no cinema francês atual, Ozon tem feito dramas que beiram o sofrível nos últimos anos e foram recebidos com pouco entusiasmo pelo público. Em “Potiche – Esposa Troféu” (Potiche, 2010), Ozon voltou a conseguir bons resultados nas bilheterias francesas e bom recebimento pela crítica. É o seu melhor filme desde a ótima comédia “8 Mulheres” (8 Femmes, 2002), que também possui Catherine Deneuve como uma de suas protagonistas.

O novo trabalho do diretor guarda muitas semelhanças com “8 Mulheres”, como o estilo dos cenários e figurinos, de direção e de atuação, além também ser adaptado de uma peça teatral. “Potiche” é uma comédia do famoso Théâtre de Boulevard francês, escrita por Barillet e Grédy e adaptada para o cinema e para a época por Jacqueline Maillan. Além do humor escrachado, à francesa, típico do Théâtre de Boulevard, o filme apresenta também um toque de comédia social inglesa.
Os cenários, perfeitamente adaptados à atmosfera kitsch do filme e da época, não negam a origem teatral da história. Como no teatro, o filme de Ozon é fortemente baseado nas atuações. No papel do marido, Luchini, um famoso comediante francês, não surpreende: é incrível a capacidade que tem dar a impressão de que interpreta o mesmo personagem em todas as comédias das quais participa. No papel do antigo amante e sindicalista, Depardieu deixa visível que a gordura limita a sua atuação fisicamente. Como a esposa-troféu do título, Deneuve, com seu reconhecido talento para comédias, carrega o filme nas costas com uma ótima atuação.

Apesar de tantas semelhanças, “Potiche” está longe de ser tão bom quanto “8 Mulheres”. Como a comédia escrachada que é, o filme trata sobre política. Para manter o tom humorístico, aborda o assunto de maneira superficial, pouco séria. A impressão que se tem é a de que falta seriedade mesmo onde não há e nem caberiam piadas ou ironias. É um filme que desde o começo se mostra enfadonho, com atuações que deixam a desejar e que lida com a política, um de seus temas principais, de uma maneira suficientemente desajeitada para prejudicar o resultado final.

0 Comente Aqui! :

 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...