Crítica: Foras da lei (Hors-la-loi, 2010)

13 de março de 2011 0 Comente Aqui!

Um retrato histórico da luta pela independência argelina na França no século XX. Isso é o que o filme Hors-la-loi (Fora da lei, 2010), indicação da Argélia para melhor filme em língua estrangeira para o Oscar de 2011, se propõe a ser. Esse retrato é passado ao espectador através da saga de uma família de imigrantes argelinos na região parisiense dos anos 50.

O diretor Rachid Bouchareb, que anteriormente dirigiu London River (London River – Destinos Cruzados, 2009) e produziu Hadewijch (O pecado de Hadelwijch, 2009) – filmes que tratam relações pessoais entre muçulmanos e cristãos –, continua a ter os conflitos entre pessoas dessas duas culturas como foco, porém desta vez o plano é ampliado. Em Hors-la-loi, Bouchareb abandona as relações pessoais e coloca em primeiro plano as relações coletivas, mostrando de maneira realista a difícil inclusão dos imigrantes argelinos na sociedade francesa dos anos 50.

No chamado “dia de todos os santos vermelho” – importante data que caracteriza o início da Guerra da Argélia (então colônia francesa), que se estenderia até 1962, ano em que o país conseguiu a sua independência – morre o pai dos protagonistas. Após vingar a morte do pai, Saïd imigra para a França, onde um dos seus irmãos, Abdelkader, é preso político, com a mãe. Eles se estabelecem no subúrbio parisiense de Nanterre, um amontoado de barracos que oferecia condições de vida extremamente precárias à enorme quantidade de imigrantes magrebinos que ali morava na época. Em breve, Messaoud, o terceiro filho, volta da guerra na Indochina - onde lutava com o exército francês - para se juntar à família.

Ao sair da prisão, Abdelkader tem o propósito de dedicar a vida à causa do FLN (Front de Libération Nationale – Frente de Liberação Nacional), partido político criado para lutar pela independência do seu país e que havia deixado de ser reconhecido pelo governo francês, entrando, portanto, na clandestinidade. Messaoud apóia o irmão em sua causa e passa também a trabalhar para o partido. Enquanto a luta política de seus irmãos fica mais violenta a cada dia e a polícia francesa intensifica a repressão ao partido, que, já conhecido por ter a violência como principal modo de ação, passa a utilizar técnicas de guerrilha, Saïd não tem interesse pela causa política e ganha a vida como um próspero cafetão em Paris.

Essa superprodução argelina impressiona pelo elenco, em que os irmãos são interpretados por alguns dos atores franco-magrebinos de maior projeção na atualidade, e pela busca do realismo na ambientação, cenografia e figurinos – mas não com o objetivo de tornar estes aspectos verossímeis com a realidade da época. O objetivo de Bouchareb é fazer com que, ao assistir Hors-la-loi, tenhamos a impressão de assistir um filme produzido nos anos 50, o que torna o filme esteticamente interessante, com seus cenários que não tentam disfarçar o fato de serem montados em galpões e a visível preocupação em utilizar objetos e figurinos como os presentes nos filmes da época. O roteiro do filme, porém, é mais interessante pelo seu conteúdo histórico do que pela estória efetivamente contada, o que faz com que as duas horas e dez do filme terminem por se tornar um pouco cansativas, mas não desmerecendo a boa qualidade do filme como um todo.

Trailer:

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