Crítica: Dente Canino (Kynodontas)

6 de fevereiro de 2011 2 Comente Aqui!


Três irmãos, com idades entre 20 e 30 anos, porém expressões faciais e comportamentos infantis, ouvem fitas caseiras onde palavras de uso comum ganham novos significados, sempre relacionados a objetos, atividades ou sensações que podem ser encontrados ou vivenciados dentro de uma casa. A cena inicial de Dente Canino (Kynodontas, 2009), ilustra bem o que virá pela frente neste filme grego que, entre os nove prêmios já acumulados, foi premiado como melhor filme pela mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes de 2009 e atualmente concorre ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira. Apesar de ter sido lançado em 2009, ano em que foi exibido no Brasil, no Festival Internacional de Filmes de São Paulo, o filme ainda não tem data de lançamento prevista no país.

Os três protagonistas do filme, o rapaz, a “irmã mais nova” e a “irmã mais velha” vivem com seus pais numa casa na periferia de uma cidade grega. Uma das muitas crenças que os pais imprimem aos seus filhos é a de que só poderão sair da casa no dia em que os seus dentes caninos caírem. Os jovens acreditam também que do outro lado da cerca há um irmão deles, que teria sido isolado pelos pais por ser desobediente. Este é um dos artifícios que garantem aos pais que, por medo, os filhos não irão contrariá-los. O mundo dos protagonistas se resume a ouvir fitas com palavras e seus significados inventados, assistir vídeos caseiros deles mesmos e jogar os jogos que lhe foram ensinados pelos pais, enquanto esperam seus caninos caírem para poderem sair de casa e viver como adultos. O único contato que têm com o mundo exterior é Christina, que apenas pelo fato de ter um nome já contrasta com os habitantes da casa. Ela é uma colega de trabalho do pai, que a contratou para, semanalmente, satisfazer às urgências sexuais do filho homem. Sua visita é esperada ansiosamente pelos irmãos, curiosos sobre o que há fora dos muros da casa, o que faz Christina começar a ser vista pelos pais como uma potencial ameaça.

Neste ótimo drama/comédia, o diretor Yorgos Lanthimos consegue provocar o expectador, que, após o estranhamento inicial, irá invariavelmente desenvolver algum sentimento pelos personagens; talvez angústia ou piedade pelos filhos (devido em grande parte às ótimas atuações das duas irmãs), ou repulsa e desprezo pelos pais. Mas a provocação do diretor vai além, o filme possui uma crítica social embutida, uma vez que trata de uma doutrinação como tantas outras. O filme mostra como as pessoas são condicionadas pelo meio em que vivem, e que não é uma tarefa complicada fazer com que elas pensem e ajam de modo conveniente ao doutrinador. Mas, ao mesmo tempo, mostra que a manutenção desse condicionamento apresenta problemas, e o maior de todos é o desejo de liberdade e o interesse pelo diferente inerente aos seres humanos.

Nota segundo o IMDB: 7,4


Trailer:

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