Crítica: Cão de Briga (trilha sonora)
Pouca gente tem noção de o quanto Cão de Briga é incomum. Esquisito, até. Além de ser a colisão entre mundos bem diferentes – os atores Morgan Freeman, Jet Li e o cineasta Luc Besson – Cão de Briga marca a estréia do Massive Attack na composição (antes só participação) de trilhas sonoras. A trama é a seguinte: o agiota Bart (Bob Hoskins) aterroriza o submundo de Glasgow com Danny (Jet Li), um órfão criado (ou melhor, adestrado) pelo gângster pra ser um “cão de ataque” feroz e mortífero. Um dia, por acaso do destino, Danny conhece o pianista cego Sam (Morgan Freeman). Sam faz Danny enxergar que existe um universo além daquela violência gratuita, um lugar onde há espaço para compaixão e ternura. Depois se escapar de uma embosca armada pra Bart e seus capangas, Danny vai morar com Sam e sua nora Victoria (Kerry Condon). Sua nova família lhe humaniza e o ajuda a investigar seu passado nebuloso. Mas “tio” Bart logo sente falta do seu pit bull chinês, e aí Danny têm que escolher se vai continuar sendo obediente ao dono ou vai virar a mesa. O roteiro de Cão de Briga, feito por encomenda para Jet Li, foi escrito por Luc Besson, diretor de La Femme Nikita (1990) e O Quinto Elemento (1995).
O filme foi malhado pelos críticos, e com razão. O enredo é cheio de buracos: quem ensinou Danny a lutar que nem um mestre Shao Lin? Qual foi o motivo de Bart ter matado a mãe de Danny? E quem é aquele careca misterioso que Jet Li briga no final? Os personagens, inverossímeis, não ajudam: a começar por Danny, a cruza de Bruce Lee com Mogli. O bondoso Sam é uma enciclopédia ambulante de chavões e Bart é unidimensional, quase um vilão de desenho animado. A exceção é Victoria, estranhamente charmosa no seu jeito de geek e desajeitado.
Pra mim, o que salva Cão de Briga são as seqüências de luta (sensacionais) e a música de fundo. Eu sou meio suspeito pra falar; sou fã roxo do Massive Attack desde Mezzanine (1998). Assim como o álbum anterior, 100th Window (2003), alguns fãs torceram o nariz para o novo disco, pelo fato do trio original ter sido reduzido a Robert Del Naja. Foram as infames “diferenças criativas”, como os americanos gostam de chamar.
Variada é a paleta sonora empregada por Neil Davidge e Robert Del Naja. Delicadas, as melodias de caixa musical de “Sam” e “Two Rocks and a Cup of Water” refletem a inocência infantil do protagonista. São canções de ninar, acalantos quase. A lânguida “Polaroid Girl” faz um uso caprichado de Fender Rhodes e a excelente “One Thought At A Time” tem uma veia retrô, um rock psicodélico recheado de guitarras fuzz e pandeiro. Em outras partes, a vagarosidade habitual do Massive Attack se adapta ao pique das cenas de ação, a exemplo de “Atta Boy” e “Simples Rules”. Apesar dessa aparente diversidade musical, uma coisa que eu notei é que existe também certa homogeneidade na trilha sonora. Não é de se estranhar, se lembrarmos que o Massive demora em média quatro anos pra lançar um disco novo (um motivo de orgulho pra eles), e a dupla só teve três meses pra produzir esse.
Considerando que esse é o primeiro contato direto do Massive Attack com esse gênero, a trilha de Cão de Briga merece elogios. Um lançamento exclusivamente instrumental é uma novidade para o grupo, mas até que os mestres do trip-hop se adaptaram bem à essa nova linguagem. Aguardo ansioso pelas novas investidas da banda nesse território.
O Cinema Detalhado não disponibiliza links pra download. Se quiserem ouvir a trilha, mandem uma mensagem pra mim que eu a envio via e-mail. Obrigado.
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2 Comente Aqui! :
Oi, Zé,
Assisti a esse filme a muito tempo e não lembro muito bem dele nem da trilha sonora. A única cena que lembro bem é a do Jet Li pedindo um piano, huahua. Putz, ali não dá pra esquecer.
Vlw!
Muito bom o texto Zé.
Curto muito Massive Attack muito em parte por causa de uns sons deles que peguei em sua mão.
O filme eu achei mediano...mas é aquela coisa, alguns filmes de ação valem mais mesmo pelas cenas e Jet Li é muito bom nessas horas.
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