Crítica: Controle - A História de Ian Curtis (trilha sonora)

17 de junho de 2010 0 Comente Aqui!




Control marca a estréia cinematográfica do aclamado fotógrafo e diretor de clipes Antonin Corbijin. Coerente à sua intensa conexão com o universo musical, o tema escolhido é a vida de Ian Curtis, vocalista do Joy Division, uma das bandas mais importantes do pós-punk britânico. Centrado em Touching From a Distance, livro da viúva de Curtis, a história do filme divide-se entre a vida conjugal com Debbie, seu papel na banda e o affair com a jornalista belga Annik Honoré.

Joy Division influenciou um mar de gente. Pra começar, eles foram um dos pioneiros estéticos do que viria a se tornar a tribo gótica (o grupo rejeita essa associação). A influência deles não termina por aí: de Jane’s Addiction ao Future Sound of London até queridinhos do indie rock (a exemplo do The Killers, que participam da trilha), todos têm uma dívida ao extinto grupo de Manchester.

Uma boa (e óbvia) sacada do diretor é não limitar a trilha sonora à música do Joy Division. Exemplo: no começo do filme vemos um Ian adolescente vivendo no auge da febre glam inglesa, ouvindo David Bowie. (“The Jean Genie”, mas no disco da trilha botam “Drive In Saturday” no lugar. Não entendi.) Historicamente falando, o glam foi uma espécie de antecessor do punk rock, uma alternativa ao rock machista do Led Zeppelin e a virtuose boçal do Emerson, Lake & Palmer e companhia. Do mesmo período temos o genial Roxy Music com “2HB”. A propósito, o tecladista do Roxy Music nessa época era Brian Eno, produtor da famosa “trilogia de Berlin” de Bowie. Falarei dela mais tarde.

Ligado indiretamente ao glam por causa da carreira solo do seu frontman, Lou Reed, o Velvet Underground é tido um dos grandes catalisadores das mudanças que o rock passou nos últimos quarenta anos. A música escolhida, “What Goes On”, tem uma leveza difícil de ser encontrada em The Velvet Underground & Nico (1967) e White Light/White Heat (1968). Esses dois discos mostram o lado mais conhecido do Velvet: experimentalismo sonoro e a ocasional agressão auditiva misturada com contos sobre a perversidade da noite nova-iorquina.

A revolução punk é mostrada com uma versão ao vivo de “Problems” do Sex Pistols. O primeiro show do Pistols em Manchester deu o impulso necessário para o Joy Division adotar o do-it-yourself e levar a sério sua carreira musical. Outra banda punk que se apresentou naquele dia foi o Buzzcocks, futuros companheiros de turnê do Joy Division. Sua parte em Control é a tosquíssima “Boredom”.

Bowie reaparece já na chamada “trilogia de Berlin” – Low, Heroes e Lodger – em “Warsawa”. O nome prévio da banda, inclusive – Warsaw – foi inspirado nessa música. Essa nova fase inaugurou uma imersão do “camaleão do rock” no kosmische musik alemão, principalmente o Neu! e o Kraftwerk. O último aparece com “Autobahn”, seu primeiro sucesso internacional. Se recuperando do vício em cocaína e no meio de uma separação complicada, os temas das letras de Bowie nesse período giram em torno de depressão, alienação e solidão. O clima paranóico do Hansa Studios, a poucos metros do Muro de Berlin, símbolo-mor da Guerra Fria, agrava o que já era tenso. Não é por acaso que Ulrich Edel, o diretor de Christiane F., Drogada e Prostituída (1981), resolveu musicar sua adaptação valendo-se da fase Berlim de Bowie. Ou que o estranhamento e distanciamento emocional desses três discos tenham impactado o Joy Division.

Debaixo das asas de David Bowie desde o fim do The Stooges, Iggy Pop marca seu retorno triunfal com o disco The Idiot (1977), com a produção assinada pelo próprio Bowie. O pesadelo freudiano de “Sister Midnight”, assim como o resto do álbum, está mais pra Low do que a ferocidade do Stooges. Reza a lenda que o The Idiot foi o último disco que Curtis botou na sua vitrola...

Sim, não esqueci. O Joy Division. Todas as conhecidas estão aqui: “Dead Souls”, “Love Will Tell Us Apart”, “Atmosphere”, etc. Uma das melhores músicas do Joy (a minha favorita), “Transmission”, é a versão tocada ao vivo pelos atores do filme. Uma escolha arriscada, porém acertada. Por outro lado, uma omissão gritante é “She’s Lost Control”. Na letra, Curtis trata de sua experiência com a epilepsia, tanto a de outras pessoas quanto o agravamento da sua, diagnosticada justo quando o Joy Division começou a decolar. Na encarnação New Order, os ex-companheiros de banda contribuem com três instrumentais inéditas: “Exit”, “Hypnosis” e “Get Out”. São músicas delicadas, curtas, e apropriadamente melancólicas.

O filme, é claro, termina com um dos momentos mais emblemáticos da história do rock: o suicídio de Ian Curtis, dois dias antes da primeira turnê americana e três meses antes da banda finalmente conquistar o mainstream com “Love Will Tear Us Apart”. Seu fim trágico o transformou num mito, juntando-se ao seu ídolo Jim Morrison e a outros tantos mártires do rock ‘n’ roll. A morte precoce o imortalizou, e das cinzas do Joy Division nasceu o New Order, que celebraram a vida de um jeito que o Joy Division nunca pôde.

O Cinema Detalhado não disponibiliza links pra download. Se quiserem ouvir a trilha, mandem uma mensagem pra mim que eu a envio via e-mail. Obrigado.


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