O que nos move após uma perda
trágica? Como fazer para lidar com a dor e ir adiante quando parece não existir
mais motivo para tal? Em O
Que se Move, primeiro longa metragem de
Caetano Gotardo, não existe uma
resposta assertiva para tais indagações aflitivas. E o roteiro, também assinado
pelo diretor, não tem mesmo a intenção de encontrá-las. O caráter da narrativa
é deveras subjetivo, permeado por olhares frios e silêncios sepulcrais,
posteriormente contrastando com explosões de emoção. A obra também carrega curioso
tom de musical, uma espécie de ópera urbana de notas minimalistas, corroborada
através de um difuso balé de imagens e pontuais canções de desabafo ao final de
cada episódio (são três ao decorrer dos 97 minutos).
Nessa sua estréia, Caetano Gotardo procura externar de maneira inquietante a dor das mães dessas
três famílias combalidas por mazelas terríveis, mas infelizmente cotidianas. Na
primeira história, a trama traz o relacionamento terno entre uma professora e
seu filho de 17 anos, pronto para iniciar um novo ano letivo. Uma situação
urgente vai revelar um lado sombrio da personalidade do rapaz e culminar em um
inevitável ato desmedido. A segunda traz um homem que passa a se sentir mal,
sem motivo aparente, durante o trabalho. Em paralelo a esposa dele visita uma
amiga, enquanto acredita que o filho de pouco mais de um ano está na creche. Na
terceira sub-trama, uma mulher se prepara para reencontrar o filho que foi
roubado na maternidade.
Nesse sentido de registrar certas
chagas da sociedade moderna, compondo a trama com situações que costumamos ler
nas manchetes dos jornais, pode-se dizer que de certa forma O Que
se Move se aproxima do exaltado OSom ao Redor. Mas se por um lado o viés da temática urbana se assemelha,
onde o individuo se vê institucionalizado, por outro, a contemplação de Caetano Gotardo se afasta do visceral
proposto por Kleber Mendonça Filho. O
filme de Mendonça mira num apanhado
de situações comuns, irônicas, reflexos sociais, retratando o marasmo e monotonia
da vida da classe média. Enquanto o filme de Gotardo toca nos assuntos inerentes ao mesmo tipo de comunidade, mas
com certo cuidado para que se observe beleza naquele martírio e dor.
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