Resenha de Filme: O Que Se Move

8 de maio de 2013 0 Comente Aqui!

O que nos move após uma perda trágica? Como fazer para lidar com a dor e ir adiante quando parece não existir mais motivo para tal? Em O Que se Move, primeiro longa metragem de Caetano Gotardo, não existe uma resposta assertiva para tais indagações aflitivas. E o roteiro, também assinado pelo diretor, não tem mesmo a intenção de encontrá-las. O caráter da narrativa é deveras subjetivo, permeado por olhares frios e silêncios sepulcrais, posteriormente contrastando com explosões de emoção. A obra também carrega curioso tom de musical, uma espécie de ópera urbana de notas minimalistas, corroborada através de um difuso balé de imagens e pontuais canções de desabafo ao final de cada episódio (são três ao decorrer dos 97 minutos).

Nessa sua estréia, Caetano Gotardo procura externar de maneira inquietante a dor das mães dessas três famílias combalidas por mazelas terríveis, mas infelizmente cotidianas. Na primeira história, a trama traz o relacionamento terno entre uma professora e seu filho de 17 anos, pronto para iniciar um novo ano letivo. Uma situação urgente vai revelar um lado sombrio da personalidade do rapaz e culminar em um inevitável ato desmedido. A segunda traz um homem que passa a se sentir mal, sem motivo aparente, durante o trabalho. Em paralelo a esposa dele visita uma amiga, enquanto acredita que o filho de pouco mais de um ano está na creche. Na terceira sub-trama, uma mulher se prepara para reencontrar o filho que foi roubado na maternidade.

Nesse sentido de registrar certas chagas da sociedade moderna, compondo a trama com situações que costumamos ler nas manchetes dos jornais, pode-se dizer que de certa forma O Que se Move se aproxima do exaltado OSom ao Redor. Mas se por um lado o viés da temática urbana se assemelha, onde o individuo se vê institucionalizado, por outro, a contemplação de Caetano Gotardo se afasta do visceral proposto por Kleber Mendonça Filho. O filme de Mendonça mira num apanhado de situações comuns, irônicas, reflexos sociais, retratando o marasmo e monotonia da vida da classe média. Enquanto o filme de Gotardo toca nos assuntos inerentes ao mesmo tipo de comunidade, mas com certo cuidado para que se observe beleza naquele martírio e dor.

Verdade que nem sempre Caetano Gotardo atinge seu intento com eficiência, algumas metáforas visuais soam esparsas, desconexas dentro da sub-tramas ou pouco orgânicas no corte final que procura de certa forma unir os três momentos. As atuações miram o naturalismo, talvez até pela obra apostar em interpretes pouco experientes com cinema. O que somente comprova o grau de baixo orçamento do filme, feito na raça, com apoio quase nulo da iniciativa privada. Apesar dessas considerações negativas não-comprometedoras (também incluiria um ritmo demasiadamente lento), existe uma singela poesia, repleta de melancolia, que chama atenção, transcendendo as problemáticas e fazendo desse pequeno O Que se Move um instrumento de reflexão pertinente.



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