Em entrevista recente, o diretor Karim Aïnouz afirmou que O
Abismo
Prateado, obra finalizada em 2011, mas que só agora chega ao circuito,
é um filme sensorial, feito para o espectador experimentar a sensação de “levar
um pé na bunda” e não tem necessariamente uma história. Convencido pelo
produtor Rodrigo Teixeira, Aïnouz aceitou o desafio de dirigir essa
curiosa adaptação da canção “Olhos nos Olhos”, composta por Chico Buarque e também conhecida por ser
uma típica “música de fossa”. Segundo Buarque,
a sua composição exprime sentimentos inerentes à rejeição, onde a letra, em tom
de desabafo, conta como uma mulher lida ao ser abandonada por seu amante. O que
difere ambas as mídias, além do formato, claro, é que a toada de Buarque é direta e assertiva. Também, não
tem mais do que cinco minutos. Enquanto como filme, a mesma temática necessita
de um conceito para a sua contextualização áudio-visual. Talvez nesse tramite
resida as fragilidades de O Abismo Prateado.
A concepção idealizada por Karim Aïnouz opta por pouca
verbalização, onde diálogos são comedidos ou dissociados, deixando a trama ser
lentamente levada através das imagens. Logo concebe uma obra, apesar de menor
em sua filmografia, deveras audaciosa. Pois o que antes como canção era simples,
ganha contornos interpretativos diferentes, passando assim a ter uma inevitável
“via de duas mãos”. Afinal, nem todo mundo sente a mesma coisa, até mesmo
quando está diante de realizações que ditam as sensações. E se para uns, O
Abismo
Prateado será eficiente na sua proposta, comovente e repleto de poesia
singela. Para outros, poderá ser simplesmente vago, idiossincrático, vazio no
conteúdo e até na forma. Apesar de possuir uma cena particularmente bonita em
sua estética, quando a protagonista extravasa ao som da canção “She´s a Maniac”,
o filme revela uma incômoda parcela crua, se abstendo de trilha sonora
(original), salvo em inserções incidentais como a citada, e de fotografia que
corrobore a melancolia da protagonista.
A protagonista de O
Abismo Prateado é a dentista carioca Violeta (Alessandra Negrini, de Dois Coelhos). Depois do vigoroso sexo matinal, seu marido
Djalma (Otto Jr.) viaja a trabalho
para a distante cidade de Porto Alegre. Durante o dia, ele manda uma mensagem
para o telefone dela dizendo que não vai voltar para a casa, pois o
relacionamento está desgastado e se sente sufocado. Violeta fica desorientada,
procurando motivos para tal ato radical. Em um primeiro momento a confusão é
tanta que a mulher cai de sua bicicleta. Depois visita uma obra, em uma cena
tão inapropriada quanto à situação, onde uma mulher de parentesco não revelado
tenta ajudar. Em seguida sofre outro tombo, machucando a testa. Num último ato
desesperado, decide por ir ao encontro do marido, abandonado em casa o filho de
catorze anos. Entretanto, no chegar ao aeroporto, não existem mais voos
disponíveis. Sem perspectivas, Violeta escolhe vagar pela cidade, se hospedando
em um motel, visitando boates bregas e culminando no encontro com Nassir (Thiago Martins), um jovem simples que
passa por problemas semelhantes, e sua adorável filha.
Ficha Técnica:
O Abismo Prateado.
Direção: Karim Aïnouz.
Roteiro: Beatriz Bacher.
Ano: 2011.
Elenco: Alessandra Negrini,
Thiago Martins, Camila Amado, Milton Gonçalves, Otto Jr., Sergio Guizé, Carla
Ribas.
1 Comente Aqui! :
Adorei o filme, uma ótima transposição da música do Chico Buarque e ainda mostra o amanhecer em Copacabana! Tem uma crítica em
www.artigosdecinema.blogspot.com/2013/05/o-abismo-prateado.html
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