Resenha de Filme: A Morte do Demônio (Evil Dead)

18 de abril de 2013 3 Comente Aqui!

No cinema norte-americano atual, os termos remakereboot, são realidades, subgêneros até, principalmente quando constatamos a quantidade e velocidade com que chegam as salas exibidoras dos multiplexes dos Shoppings Centers. Cada vez mais carente (ou seria preguiçosa?) de idéias para novas produções comerciais, Hollywood não se furta em refazer antigos sucessos. Às vezes acaba até mesmo apostando em produções de outrora pouco conhecidas, cults que envelheceram mal, como o recente fiasco chamado Amanhecer Violento. Talvez o que mais irrite nessa onda industrial de refilmagens é a picaretagem de algumas obras. Desleixadas, desnecessárias, são feitas na medida para atrair um público através de um marketing agressivo, trabalhando mais o conceito do que a história. Sinceramente, creio esse ser o fundo do poço para o cinema norte-americano mainstream, mas não vou ficar reclamando. Faço valer aqui aquela velha máxima: “Se não pode vencê-los, junte se a eles.”. Então vamos olhar pelo lado bom da coisa.  

Em meio a tantos remakes vazios, não somente de conteúdo narrativo, mas também de boa direção, qualidades técnicas vistosas e atuações convincentes, vez ou outra aparece algo que valha um pouco de atenção. Ainda que não seja uma maravilha surpreendente, o alardeado A Morte do Demônio, estréia em longa-metragem do diretor uruguaio Fede Alvarez, entra nesse caso citado na primeira sentença. Produzido por Sam Raimi (OZ - Mágico e Poderoso) e Bruce Campbell (Carros 2), o trabalho de Alvarez denota capricho, interesse em contextualizar a temática de forma convincente. E se o filme às vezes peca, é pelo excesso e não pela falta. O precursor de 1981 apostava em uma trama baseada em sustos, bom humor, um bocado de criatividade no que toca aos efeitos visuais e um protagonista bastante carismático. O atual investe em uma história um pouco mais elaborada, senso realístico, envolta em sentimentalismos que indicam a origem latina de seu realizador, também roteirista da obra. Em um primeiro momento, tal pieguice parece interessante para movimentar os personagens, mas no decorrer da narrativa vai se fazendo desnecessário, chegando a criar um contraponto que quase compromete o todo.

O motivo pelo qual o grupo de cinco jovens vai para uma cabana no meio do mato é mais crível nesse A Morte do Demônio. Afinal, passar temporada em uma floresta isolada e assustadora parece um tanto improvável. Uma das moças, Mia (Jane Levy), é levada pelo irmão, David (Shiloh Fernandez - A Garota da Capa Vermelha), e os amigos para se livrar do vicio em drogas e encarar a abstinência. A velha e abandonada cabana pertence ao casal de irmãos, órfãos de mãe, que faleceu invalida e louca em um asilo. Antes de conhecermos esse já citado grupo que vai protagonizar agruras terríveis e inevitavelmente sucumbir parcialmente perante os demônios invocados pelo livro dos mortos, um prólogo inicial apresenta caso semelhante ao que então acompanharemos. Esse primeiro relato se faz necessário para justificar a presença do maléfico livro no porão da cabana. E de cara afirma a preocupação em amarrar a trama de forma coesa. Não somente percebemos a atenção em delinear os fatos, como também notamos o apreço pela estética visual, evidenciada por uma fotografia esmaecida, sinistra, caprichada pelo trabalho do design de arte.  

O ritmo meio dramático dos primeiros minutos, apoiado nas reminiscências dos amigos, ganha contornos sobrenaturais quando Mia inicia o doloroso processo de abstinência. A moçinha afirma sentir um odor repugnante e o grupo não demora a localizar a origem: o porão, repleto de animais mortos. Além do quadro deplorável de higiene, o funesto cômodo ainda indica recente prática de magia negra. Um dos rapazes, o enxerido Eric (Lou Taylor Pucci - Toda Forma de Amor), se depara com um sinistro livro embalado e envolto em arames farpados e com os avisos: Não Abra! Não Leia! Claro que o rapaz folheia o singular exemplar literário e pronuncia o milenar cântico que invoca demônios adormecidos. Óbvio também que a primeira a ser possuída pelo “bicho ruim” é a suscetível Mia, mas o grupo demora a perceber, a priori por justificar o comportamento da moça como sendo sintomas do jejum de narcóticos. Do mesmo modo que outros bons filmes de terror, A Morte do Demônio precisa de clichês do gênero para se alicerçar. E variando entre os “lugares comuns”, como a dificuldade em escapar da floresta (parodiada no recente Segredo da Cabana) ou o animal, indicador recorrente de maldade latente, Fede Alvarez consegue utilizar tais artífices organicamente, sem parecer forçado.

Hoje um clássico do cinema de horror independente, The Evil Dead conquista pela despretensão criativa, em especial quando concebe o gore. O segundo longa-metragem de Sam Raimi, primeiro a ganhar atenção, trazia cenas escatológicas, com sangue em excesso e órgãos expostos. A circunstancia violenta era atenuada pelo humor involuntário que exalava do protagonista Ash (interpretado por Bruce Campbell) e do demônio simbólico que ficava preso no porão e com a metade da cabeça para fora, narrava os fatos de forma sarcástica. Tais considerações marcantes de outro tempo geraram reticência quanto esse A Morte do Demônio perder o chiste e apontar para algo sisudo, demasiadamente austero. Realmente, o filme de Fede Alvarez se leva um pouco mais a sério. No entanto, não deixa de gerar risadas, impulsionadas por alguns diálogos propositalmente cretinos e pela violência exacerbada e explícita, advinda dos desmembramentos, perfurações e muita, mas muita gosma. O original tem elementos imagéticos marcantes, difícil de apagar do imaginário cinéfilo, mas esse A Morte do Demônio apresenta um resultado bastante digno. Os amantes do Terror agradecem.





Ficha Técnica:
Crítica
A Morte do Demônio (Evil Dead).
Direção: Fede Alvarez.
Roteiro: Fede Alvarez, Rodo Sayagues, Diablo Cody (não-creditada).
Ano: 2013.
Elenco: Jane Levy, Shiloh Fernandez, Lou Taylor Pucci, Jessica Lucas, Elizabeth Blackmore.

3 Comente Aqui! :

  • Jefferson C. Vendrame disse...

    Grande Celo, como vai?
    Ótima resenha, se eu já estava com vontade de ver o novo THE EVIL DEAD, depois de seu texto claro e super bem elaborado esse desejo só aumentou... estou ansioso aguardando a estréia em minha cidade....

    Abraços!

  • Silvano Vianna disse...

    Pois é Jefferson assim como Celo eu gostei bastante desse novo remake. É uma produção bem mais direta, forte pra caramba mas agrade em cheio os fãs de terror, como eu.

    Quando chegar ai em sua cidade assista, espero que você curta bastante também.
    Abraços!

 
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