Resenha de Filme: Uma História de Amor e Fúria

5 de abril de 2013 0 Comente Aqui!

Bastante ativo e reconhecido no meio cinematográfico, Luiz Bolognesi, roteirista premiado e mais conhecido pelos filmes de sua esposa Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças, As Melhores Coisas do Mundo), com Uma História de Amor e Fúria realiza seu primeiro longa-metragem de ficção, qual dirige e roteiriza sozinho. De fato um cineasta bastante interessante, e que antes só havia dirigido longas-documentário, já começa se arriscando numa linguagem ainda pouco comum no Brasil. Trabalho corajoso e que entre pesquisa, produção, tratamento e finalização demorou praticamente dez anos; e agora terminado, chega aos cinemas, com distribuição da Europa Filmes, a animação protagonizada pelo casal Selton Mello (O Palhaço) e Camila Pitanga (Eu Receberia As Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios).

A trama da animação reconstrói a história do Brasil nos guiando através do protagonista que, no início do filme, num Brasil recém descoberto (século XVI), recebe a missão de combater Anhangá, uma força do mal que será, aparentemente, o vilão de todo o filme. Recebendo a imortalidade e a possibilidade de se transformar em um pássaro (resgatado de uma lenda da tribo Tupi-Guarani), o personagem guerreiro e destemido Abeguar (Mello) conhece em sua aldeia a bela e pura Janaína (Pitanga), e daí nasce um amor. Romance posto constantemente em risco - e isso irá percorrer durante todo o longa - a alma gêmea de Abeguar morre numa revolta dos portugueses contra os índios. Assim, transformando-se em pássaro, voa durante mais ou menos 200 anos e a reencontra no Maranhão, na época da Revolta da Balaiada (século XIX), ambos em outros corpos.

Sucessivamente, entre incidentes e acidentes, e percorrendo mais alguns anos, o personagem de Selton Mello sempre em alguma época significativa da história do Brasil vai reencontrar Janaína e tentará reconquistá-la. Perigando entre a simples reconstituição e o novo, os backgrounds da história do Brasil que já aconteceram, são em certa maneira desinteressantes, pois para quem já conhece o fato o diretor não acrescenta nada de diferente, ou seja, o ponto de interesse da trama acaba ficando nas costas do personagem de Selton que, por vezes bastante didática, narra a história em off tentando não deixar a peteca cair. De fato a parte mais interessante do longa fica no último ato onde viajamos junto ao personagem para um futuro distópico num Rio de Janeiro de 2096 controlado pelas milícias particulares.

Para uma distopia onde a água é raridade e há uma intensa verticalização da cidade, e também a alta tecnologia como recurso dominante, soam, infelizmente, comum. Mas encontramos algo de positivo ao analisar o cuidado estético da animação, que sim, está muito bonita em todos os atos; e vale ressaltar que foi gravada em 2D (e na sessão em que vi era película 35mm), tornou a experiência distinta das animações que estou acostumado a assistir nos cinemas (98% em 3D). Bolognesi optou pela animação por gostar bastante de histórias em quadrinhos e por essa possibilidade de trabalhar com várias épocas distintas entre si de maneira mais tranquila e eficaz do que numa super produção em live action.

Porém, talvez se a história fosse em live action, poderia curar a lacuna que este trabalho tem de distanciamento emocional com o espectador. Além de que em alguns momentos a profundidade dos temas que Bolognesi tenta elucidar acabam caindo no superficial. Infelizmente, ele não soube trabalhar com solidez a tal força do mal Anhangá, que acabou caindo em dubiedades, e temas como liberdade e civilização. Tanta coisa para falar e ainda sobra o forte amor do casal que, quando entram os créditos finais, dura poucas horas em nossas lembranças.



Ficha técnica
Direção: Luiz Bolognesi
Roteiro: Luiz Bolognesi
Elenco: Selton Mello, Camila Pitanga e Rodrigo Santoro
Produção: Fabiano Gullane, Caio Gullane, Luiz Bolognesi, Laís Bodanzky, Marcos Barreto, Debora Ivanov e Gabriel Lacerda
Distribuição: Europa Filmes

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