Resenha de Filme: A Fuga (Deadfall, 2012)

17 de março de 2013 0 Comente Aqui!

Stefan Ruzowitzky roteirizou e dirigiu um ótimo e curioso filme em 2007 chamado Os Falsários (Die Fälscher) que, baseado em fatos reais, narrava à história sobre a Operação Bernhard, encabeçada pelo falsificador Salomon Smolianoff, durante a Segunda Guerra. Antes do sucesso desse filme (ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro), o austríaco era mais conhecido em festivais, mas, evidentemente, após o prêmio da Academia, foi rapidamente procurado por Hollywood. Gary Levinsohn, produtor de filmes como o recente Jack Reacher: O Último Tiro, foi pessoalmente a Vienna oferecer o projeto de A Fuga para Ruzowitzky dirigir - que aceitou por ter se interessado pelo roteiro do estreante Zach Dean.

A história de A Fuga, de fato, é bastante interessante. De foco principal na questão familiar tipicamente norte-americana, busca explorar nas mais diversas camadas os personagens principais. Jay Mills (Charlie Hunnam) e seus pais (Kris Kristofferson e Sissy Spacek), os irmãos Addison (Eric Bana) e Liza (Olivia Wilde), Marshall T. Becker (Treat Williams) e sua filha Hanna (Kate Mara) são os personagens que acompanhamos na maior parte do filme e tentamos compreender o passado de cada um deles para entendermos o presente (qual acompanhamos); o ex-presidiário de relação conturbada com o pai, a filha incompreendida e o irmão deveras protetor, são alguns exemplos.

Se por um lado o roteiro de Dean nos surpreende ao trazer personagens tão fortes e realistas, por outro ele peca ao não aprofundar, de maneira equilibrada, o passado dos principais personagens. Porém constrói passagens ótimas como, por exemplo, a parte da cabana onde Addison revive no presente o passado e compreendemos sua relação com Liza. Aliás, é a partir dessa passagem que a atuação de Eric Bana convence, pois antes parecia que o ator não iria sustentar o peso de seu personagem.

Realmente, o elenco muito bem escolhido não compromete o filme - mostrando a competência de Ruzowitzky na direção de atores. Acrescento ainda a excelência do diretor em capturar com elegância às belíssimas tomadas abertas numa ambientação pitoresca, onde mostra um inverno rigoroso com intensas nevascas, tentando buscar sempre ângulos que participem de maneira efetiva à narrativa e que não só avancem a história. A fotografia de Shane Hurlbut, que dá o visual frio e cinzento, conversa com a história, nos remetendo aos sentimentos dos personagens (quase sempre insatisfeitos).

O esforço de direção e técnica versus o roteiro por vezes falho é algo que permanece durante bons minutos, dos poucos 95 de projeção. Reforço à incompetência do roteiro com furos, aparentemente banais, que incomodam e prejudicam a trama. A certa altura, quando o vilão aparece com uma arma do nada, vai à contramão a verossimilhança dos próprios personagens (roteiro contraditório esse, não?) e da direção naturalista.

Com potencial para muito mais, no final A Fuga deixa um gostinho de "poderia ser melhor". Mas é inegável que Ruzowitzky cria um thriller psicológico eficiente e não se aproveita gratuitamente, em momento nenhum, de cenas de ação e explosão, criando uma narrativa diferenciada dos filmes hollywoodianos atuais do gênero.


Trailer:

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