Resenha de Filme: Linha de Ação (Broken City)

19 de março de 2013 0 Comente Aqui!

Em toda a sua carreira, que começou nos anos 90, e aos moldes dos Coen e do Farrelly, o diretor norte-americano Allen Hughes fez parceria com seu irmão Albert. Juntos assinaram filmes interessantes como os Irmãos Hughes, foi assim em Ambição em Alta Voltagem (1995), Do Inferno (2001) e O Livro de Eli (2010), entre suas realizações mais notáveis. Em seu primeiro trabalho solo, que atende no Brasil pelo título genérico Linha de Ação, Allen Hughes, apoiado no eficiente roteiro do novato Brian Tucker, investe em uma trama hábil e sólida que remonta características caras ao Film Noir para tratar de assuntos pertinentes a maioria das sociedades capitalistas modernas: corrupção, intriga, traição e assassinatos. 

O enredo de tramóias de Linha de Ação começa mostrando um fato que parece solto do todo, mas determinante para marcar a personalidade dos personagens principais, e posteriormente se mostrará importante para o desfecho da obra. Nessa primeira seqüência, que se passa em um julgamento, conhecemos o nosso protagonista, o policial Billy Taggart (Mark Wahlberg). Absolvido da acusação de assassinato em uma troca de tiros, Billy se torna uma espécie de “protegido” do então prefeito de NY, Hostetler (Russell Crowe). Na mesma cena também é apresentado o comissário Carl Fairbanks (Jeff Wright). Personagens distintos, os três são os alicerces que impulsionam a trama em um emaranhado sórdido a ser decifrado.

Após essa apresentação inicial, a narrativa de Linha de Ação salta sete anos, a priori trazendo a difícil realidade de Billy, que mesmo inocentado no caso de assassinato, acaba expulso da policia após o julgamento, e ganha a vida atuando como um investigador particular. Ao estilo clássico das tramas Noir dos anos 40 e 50, o detetive mantém seu escritório sempre com dificuldades financeiras e tem como aliada Katy (Alona Tal), uma secretária sempre disposta a ajudá-lo incondicionalmente. Entre uma cobrança e outra a clientes devedores, Billy recebe uma ligação do ainda prefeito Hostetler. O contato demanda uma investigação sobre uma possível traição da esposa, e primeira-dama, Cathleen (Catherine Zeta-Jones). O polpudo e bem-vindo pagamento não faz o homem indagar muito sobre o trabalho.

A averiguação sobre ao possível caso amoroso escuso da primeira-dama se confunde com a corrida eleitoral pelo cargo de prefeito de NY. Indicado a reeleição, Hostetler tem como oponente o idealista Jack Valliant (Barry Pepper). E por esses entremeios políticos ainda surge a figura do assessor de Valliant, Paul Andrews (Kyle Chandler), possível amante de Catheleen. Claro que o contexto não é tão previsível quanto parece, existem problemáticas maiores que a traição conjugal, não convém contar aqui, e que logo se tornará o cerne de Linha de Ação. Contudo, a trama não se furta a ser simplista, dimensionando problemáticas especificas para o protagonista, onde além de lidar com os caminhos perigosos de sua investigação, precisa lidar com sua conturbada vida pessoal.

Nas problemáticas inerentes a Billy residem algumas características que sempre apontam para o já citado clima de Film Noir que paira em Linha de Ação. O detetive namora a bela Natalie (Natalie Martinez), uma atriz de cinema em ascensão, mas não aceita a condição sensual do papel dela no filme que está rodando durante a trama. Ainda com problemas relativos ao alcoolismo e drogas, Billy carrega certo tom derrotista. A atuação de Mark Wahlberg por vezes beira o caricato, mas o ator, experiente em filmes policiais, consegue contornar limitações dramáticas e construir um personagem crível, ainda que determinado por alguns clichês. Em certo momento, Wahlberg parece não saber lidar com as nuances de seu personagem e a descida ao fundo poço proposta pelo roteiro não engrena com a devida propriedade. Entretanto não chega a complicar o filme como um todo, que com sua montagem ágil, não abre espaço para se notar algumas irregularidades.

À medida que se mostra superficial quando se trata dos bastidores políticos, Linha de Ação se faz relevante no que toca a ser sincero quanto à condição de seus personagens, principalmente se comparado a realidades semelhantes. Deixando de lado sua dispensável lição de moral didática, a história procura fugir do maniqueísmo, trazendo dubiedade para um prefeito manipulador e mau caráter, candidato idealista calcado nas aparências, primeira-dama insatisfeita e ávida por vingança, comissário de policia ambíguo e o detetive buscando a verdade, mas sempre assombrado pelo seu passado obscuro. Nenhum deles se faz um evidente exemplo de retidão moral, em sua maioria as atitudes contêm apenas interesses de benefícios pessoais, exaltando ainda como a “bomba” pende sempre a estourar do lado mais fraco, mesmo quando toma atitude correta. O apanhado é hiper-realístico, mas não muito distante do que vemos comumente em noticiários.



Ficha Técnica:

Linha de Ação (Broken City).
Direção: Allen Hughes.
Roteiro: Brian Tucker.
Ano: 2013.
Elenco: Mark Wahlberg, Russell Crowe, Catherine Zeta-Jones, Jeffrey Wright, Barry Pepper, Alona Tal, Natalie Martinez, Kyle Chandler.

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