Resenha de Filme: A Hospedeira (The Host)

29 de março de 2013 2 Comente Aqui!


Adaptação do best-seller The Host, da escritora norte-americana Stephenie Meyer, a mesma da controversa Saga Crepúsculo, A Hospedeira é uma obra que certamente encontrará seu público: os órfãos mais exacerbados da já citada Saga Crepúsculo. Elaborado com premissas semelhantes, creio não ser errado afirmar que o filme aqui em questão é uma espécie de genérico dos trabalhos anteriores da autora adaptados para o cinema. Mesmo com as fragilidades aparentes do roteiro, inicialmente parece se ter um trabalho mais elaborado, principalmente por contar com um elenco mais firme, encabeçado por uma jovem atriz reconhecidamente eficiente, Saoirse Ronan, e um diretor, Andrew Niccol, que mesmo trabalhando pouco, detém experiência no gênero da ficção - cientifica. O cineasta realizou filmes interessantes como Gattaca – Experiência Genética (1997), Simone (2002) e o thriller futurista O Preço do Amanhã (2011). Entretanto, essa qualidade elucidada em um primeiro momento não demora a se mostrar enganosa.

A trama de A Hospedeira traz uma invasão alienígena onde criaturas etéreas conhecidas como Almas se instalam nos humanos assumindo o controle do corpo e da mente. O argumento não é novidade, remonta o de filmes clássicos como Vampiro de Almas (1956). Se essa excelente obra citada se alicerçava na tensão crescente, culminando em um apanhado pessimista, A Hospedeira não se mostra tão preocupada nas conotações críticas. Existe até algum exame social retratando um mundo de mazelas políticas e sociais destituídas após a abrangente tomada alien, sugerindo até que talvez o maior problema do planeta fosse mesmo o ser humano. Contudo, essa introdução mostrando como as Almas invadem os humanos e relatando uma espécie de retidão relativa ao caráter desses alienígenas, onde não sobra espaço para a ambigüidade, não passam de um mise en scene “espertinho” para estabelecer o verdadeiro mote da história: um romance com viés de extravagante triângulo amoroso.

A protagonista de A Hospedeira, Melanie (Saorsie Ronan), é uma jovem recém capturada pelos Buscadores, esse é o "criativo" nome dos alienígenas que procuram por humanos remanescentes. Possuída por uma Alma milenar conhecida apenas como Peregrina, Melanie, mesmo desprovida dos movimentos de seu corpo, não entrega seu consciente tão facilmente e passa a travar uma batalha interna com sua parasita. A mocinha era integrante de uma resistência humana capitaneada por seu tio, o durão Jeb (William Hurt - Robin HoodO Incrível Hulk) e namorava um dos integrantes da milícia, o bonitão Jared (Max Irons), além de cuidar do seu irmão mais novo, Jamie (Chandler Canterbury). A missão prioritária da Peregrina, imposta pela Chefe-Buscadora interpretada por Diane Kruger (Bastardos Inglórios), é explorar a fundo a mente de Melanie a fim de encontrar informações relevantes sobre o paradeiro dos humanos. Entretanto, essa simbiose ganha novos contornos quando a Peregrina começa a desenvolver um estranho relacionamento com Melanie.

Foragidas do convívio com as Almas, Melanie e Peregrina passam a ser perseguidas pelos Buscadores enquanto vão ao encontro dos humanos, agora morando no interior de um vulcão extinto. Nesse ambiente, que era para ser rústico e inóspito, mas se mostra apenas artificial a partir de uma direção de arte preguiçosa, os conflitos primeiramente aparecem com a presença de uma alienígena (os olhos azuis denotam as pessoas possuídas pelas Almas) para depois se instaurar o distópico triângulo amoroso. Melanie ama Jared, que a repele por achar que ela não existe mais. O corpo da mocinha, comandado pela Peregrina, se apaixona por um dos rapazes galanteadores locais, Ian (Jake Abel), gerando o "relacionamento inter-especies" sempre caro a Sthepenie Meyer. Se Melanie e a Peregrina, agora apelidada como Peg pelos humanos, fossem corpos separados não haveria problema, mas presas a apenas um, se viram como podem para satisfazer os dois rapazes (?) e atender a suas demandas por romance em um mundo sem aparente futuro para a raça humana. Claro que isso gera algumas cenas constrangedoras.

Com problemáticas tão reducionistas a serem resolvidas ou revogadas de forma rasteira, a trama de A Hospedeira se despe com urgência de sua “casca” de ficção cientifica e investe forte na novelinha romântica, trazendo diálogos adocicados, escritos na medida para agradar os “ultra-românticos” de plantão e apreciadores de relacionamentos bizarros. Contudo, talvez até pela falta de talento dramático dos rapazes, Max Irons e Jake Abel, a montagem contraditoriamente parece privilegiar o relacionamento interior entre Melanie e a Peregrina em detrimento a um maior aprofundamento do "pseudo" triângulo amoroso. Com os momentos solos interpretados com eficiência por Saorsie Ronan, A Hospedeira não tarda a se tornar uma obra de aspectos estranhos. A linha narrativa onde a jovem atriz e o veterano ator William Hurt parecem levar bastante a sério seus personagens, trazendo a vaga sensação de estarmos diante de outro filme quando ambos estão em cena, alterna com o forçado ritmo de filme romântico adolescente advindo dos momentos de “namoricos” pontuados por uma trilha sonora de acordes persistentes que sugerem sempre ternura e melancolia.

Poucos altos e muitos baixos permeiam A Hospedeira, um produto que certamente encontrará aconchego no seu público-alvo. No entanto, visto por olhos pouquinho mais atentos, sem ufanias gratuitas, facilmente se perceberá a ausência de sinceridade nas escolhas e o evidente direcionamento ao convencional que se mantém no ordinário lugar seguro. A falta de criatividade é gritante, desde os figurinos, abusando do branco, e acessórios simplórios dos aliens (O que são aqueles desodorantes mágicos?), passando pela propaganda descarada dos automóveis da marca Lótus e culminando no insosso e previsível desfecho dos romances. Em uma obra que deveria privilegiar o conteúdo romântico, divagando sobre o mito do amor proibido, a introspecção da protagonista é um infeliz acerto. Se salva a obra do ostracismo total, também não faz com que o resultado final seja algo que possa ser chamado de interessante ou relevante, no máximo entretém enquanto se está assistindo.



2 Comente Aqui! :

  • J. BRUNO disse...

    Acho muito complicado, no caso de uma adaptação, produzir uma obra boa partindo de um texto medíocre, talvez seja este o caso. Confesso que não tenho muito interesse em assistir...

  • Isabele Alves disse...

    O filme ficou simplesmente uma merda! Eu já li o livro mais de 10 vezes (literalmente) e posso afirmar que, o mesmo, não tem praticamente nada haver com o filme em questão.

    Sobre a pergunta do autor sobre o "vidrinho magico", pelo que eu entendi é um spray de "Paz". Como assim? Todos os remédios deles tem nomes "criativos" (Como "curar", "acordar", "esfriar", "limpar", etc...). Alguns são em gel, outros em quadradinhos de papel e outros em spray. O "Paz" deve ser pra apagar a vitima (O que, esse remédio nem foi mencionado no livro).

    O filme cortou MUITO a estoria, colocou coisas sem sentido e no final, como eu esperava, terminou deixando as pessoas com imensas "duvidas" na cabeça. A saga Crepúsculo (mesmo com o ódio que tive do filme), ainda ficou mais "parecido" do que A Hospedeira.

    Não recomendo...

 
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