Resenha de Filme: A Busca

14 de março de 2013 0 Comente Aqui!

Até onde um pai iria atrás do seu filho? E se descobrisse que o sumiço do mesmo filho, invés de ter sido um caso de seqüestro ou outro tipo de violência, aparentemente denota uma fuga de casa por vontade própria, essa jornada ainda teria o mesmo sentido? E a tal fuga, será que foi motivada pelo conturbado relacionamento dos pais? Onde o adolescente, filho único de um casal de classe média alta, diariamente presencia intermináveis discussões sobre os assuntos mais banais. Essas dúvidas citadas acerca do fato principal que impulsiona a narrativa, o desaparecimento do jovem Pedro (Brás Antunes, filho do músico Arnaldo Antunes), constituem a temática principal a ser retratada e discutida no filme A Busca, dirigido e escrito pelo estreante Luciano Moura. Apesar dos temas serem pertinentes e relevantes, o desenvolvimento capenga em fazer a jornada proposta embalar compromete o envolvimento maior do público, principalmente por trazer situações improváveis além da conta.

Na trama, após descobrirem que o pacato filho de quinze anos, Pedro, desapareceu sem deixar aparentes vestígios, o médico Theo (Wagner Moura) e sua histérica esposa, Branca (Mariana Lima), procuram refazer os passos do menino na intenção de encontrar pistas sobre seu paradeiro. Em um primeiro momento, as informações confusas denotam a venda de um computador para angariar dinheiro, levando logo em seguida a uma outra informação desencontrada que faz o casal parar em um abrigo de animais, onde descobrem estupefatos que Pedro, se utilizando de uma identidade falsificada, adotou um cavalo. Até aqui, ainda que A Busca elucide um roteiro frágil, de diálogos pouco trabalhados, pode-se dizer que a narrativa funciona naturalmente, sem grandes contratempos, apoiada em um clima de suspense instaurado pela tensão. No entanto, a história começa a degringolar quando o casal se separa e Theo passa a perseguir o filho sozinho em uma caminhada onde os fatos se sucedem em uma forçada torrente de situações artificiais e incoerentes.

Pareando sempre com o mote principal, a procura por Pedro, A Busca sugestiona francamente um reencontro interior de Theo com suas raízes, que de jovem idealista de outrora, passou a ser um médico burguês mais preocupado com a reforma da piscina de sua bela casa. Nesse sentido, creio ser importante ressaltar que o filme deixa de cair no ostracismo total e ganha alguns pontos favoráveis através da atuação comprometida de Wagner Moura. O ator transforma cenas inofensivas, como uma discussão sobre um telefone celular, em um apanhado ao mesmo tempo cômico e dramático. Contudo, somente a boa interpretação de Moura não é suficiente para transformar A Busca em um bom filme. Claro que junto com os evidentes deslizes, se notam as boas e verdadeiras intenções, como a interessante pegada de road-movie reverenciando filmes norte-americanos dos anos setenta. E o elenco coadjuvante, que apesar das inserções das situações serem quase absurdas, tem seus bons momentos, além da trama também procurar sempre pontuar as problemáticas com mensagens bonitas, mesmo que passando longe de uma singeleza natural.

O mais curioso que mesmo forçando a barra em criar situações que aumentem a sensação de drama acachapante por parte das atitudes de Theo, como atravessar o carro em um rio, se deparar com uma vila sem telefone algum (?), encontrar com jovens indo a uma festa hippie regada a drogas, atendimentos médicos de urgência e acidentes estranhos, A Busca não faz cerimônia ao liberar o segredo do filme ainda longe do desfecho, em uma cena tão estranha quanto anti-climática. Essa opção por se mostrar moderno, “ousado”, livre de amarras formuláicas, apenas confirma o quanto é confuso esse primeiro trabalho do diretor e roteirista Luciano Moura. Junte ainda a esse panorama, que procura costurar suspense com reflexão, enquadramentos desleixados que não se refutam em cortar a cabeça dos atores, prejudicando bastante a fotografia, e uma trilha sonora feita na medida para arrancar lágrimas dos desavisados. A bela e melancólica canção de Arnaldo Antunes que fecha o filme, cantada em parceria com Brás Antunes, soa como um infeliz acerto que destoa de um resultado final dos mais irregulares.



Ficha Técnica:

A Busca.
Direção: Luciano Moura.
Roteiro: Luciano Moura, Elena Soarez.
Ano: 2012.
Elenco: Wagner Moura, Mariana Lima, Brás Antunes, Lima Duarte. 

0 Comente Aqui! :

 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...