Resenha de Filme: Amor é Tudo o Que Você Precisa (Den Skaldede Frisor)

12 de março de 2013 0 Comente Aqui!

A diretora dinamarquesa Susanne Bier tem apreço por histórias que carreguem temáticas de superação, trazendo personagens sem muitas perspectivas, mas que acabam se redescobrindo e buscando um novo sentido para viver. Foi assim com Em um Mundo Melhor (ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011), Coisas que Perdemos pelo Caminho (seu primeiro filme hollywoodiano) e agora o mesmo se repete em Amor é Tudo o que Você Precisa. No entanto, essa sua obra mais recente se despe de uma seriedade maior para abraçar um drama romântico com pinceladas de humor. O resultado final é um tanto irregular, alternando momentos agradáveis com outros menos inspirados. Talvez o maior pecado do filme seja a forçada de barra que a diretora traz para as ocasiões que elucidam ternura, onde se perde a naturalidade da situação e tudo soa meio falso.

A trama de Amor é Tudo o que Você Precisa traz como protagonista a cabeleireira de meia idade Ida (Trine Dyrholm). A mulher passa por um drama pessoal, pois recentemente extraiu um tumor maligno do seio, passou por quimioterapia e perdeu os cabelos. Em um dia que volta mais cedo para casa, encontra seu marido, Leif (Kim Bodnia), fazendo sexo com uma colega de trabalho no sofá. Claro que a traição causa um iminente rompimento na relação, mas a trama não se resume ao desenrolar dessa situação, porque a “chatinha” filha do casal, Astrid (Molly Blixt Egelind), vai se casar em uma ilha na Itália. Agora separada e ainda reticente quanto a sua condição física, Ida se vê impelida a viajar sozinha, coisa que não tem costume. Por acaso do destino (?), acaba batendo com seu carro, no estacionamento do aeroporto, no carro de Philip (Pierce Brosnan). E vejam só, não é que Philip é pai do noivo de sua filha.

Com o acaso do destino instaurado, em um primeiro momento, até pela situação da colisão dos carros, os dois caem naquele tradicional clichê de brigas por opiniões divergentes, mas que logo caminha a passos largos para a típica admiração dos “opostos que se atraem”. Apesar desse encontro inicial de ambos trazer um tom meio irritante e repleto de clichês tolos, se deve relevar que Amor é Tudo o que Você Precisa não se apóia na onipresença do “lugar comum” para impulsionar a narrativa. A diretora Susanne Bier demonstra cuidado para construir seqüências onde a pieguice não seja gratuita, apesar dela estar lá, e nesse sentido, o filme mostra pontas de sinceridade, trazendo uma protagonista amargurada com a traição do marido e também com sua doença que a despiu de uma beleza mais evidente. Em contrapartida, o seu improvável interesse romântico é um viúvo carrancudo e que acha que o relacionamento amoroso não lhe convém mais.

Na Itália, o casamento de Astrid com o confuso Patrick (Sebastian Jessen) acontecerá em uma bucólica residência de propriedade de Philip. O casarão lhe traz memórias sobre sua vida de outrora com sua falecida esposa, mas a presença de Ida acaba se tornando um interesse a parte. Durante os dias em que as famílias vão conviver na propriedade, ainda entra na dança a cunhada abestalhada e oferecida de Philip, Benedkite (Paprika Steen), e a ex-amante e agora namorada de Leif, Thilde (Christiane Schaumburg-Müller). A trama vai costurar essa confusão com problemáticas pertinentes à maioria dos personagens. Entretanto, nada muito aprofundado, até mesmo para os protagonistas, pois a tom leve de Amor é Tudo o que Você Precisa não permite que exista um dimensionamento maior que a superfície dos fatos, pois assim perderia a aura de melancólica romântica que Susanne Bier procura trazer para a obra. E a diretora não se refuta em utilizar de uma incessante trilha sonora “fofinha” para climatizar seu filme como um bom cartão postal (a fotografia também é muito bonita).

Em suma, Amor é Tudo o que Você Precisa é uma obra de ritmo meio capenga, ora encanta pela sensação agradável e edificante de algumas seqüências ora entedia por longas e repetidas elucubrações de seus personagens que não chegam a lugar algum. Entretém sem grandes problemas, principalmente para quem procura uma abstração ligeira, até pelo entrosamento visível e bem à vontade da dupla de protagonistas (Pierce Brosnan e Trine Dyrholm). Quando procura tocar nos problemas dos personagens, ainda que superficialmente e empurrando o enternecimento, Amor é Tudo o que Você Precisa se mostra estranhamente mais competente em dialogar com essas reminiscências, melancolias, frustrações e segredos escusos do que quando foca nesse amor que seu título nacional pontua como necessário para se seguir em frente.


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