Resenha de Filme: O Dobro ou Nada (Lay the Favorite)

26 de fevereiro de 2013 1 Comente Aqui!

O veterano diretor inglês Stephen Frears é mesmo um realizador de altos e baixos. Na sua extensa filmografia, assim como constam filmes ótimos como Ligações Perigosas (1988), Os Imorais (1990) e A Rainha (2006), também existem realizações realmente esquecíveis, dentre algumas cito brevemente Herói por Acidente (1992) e Sra. Henderson Apresenta (2005). Não que essas últimas produções possam ser definidas como péssimas, mas a pegada repleta de clichês, pouco inspirada, faz com que o público não demore a apagar da memória tais filmes. E esse é o mesmo caso de seu mais recente trabalho, a comédia de aventura O Dobro ou Nada. Protagonizado por uma desinibida Rebecca Hall e um Bruce Willis bem à vontade, a obra consegue manter o público em uma “zona de conforto” divertida enquanto se está assistindo, mas não escapa de deixar aquela imensa sensação de vazio no espectador quando a sessão termina.

A trama de O Dobro ou Nada é baseada em relatos verídicos da vida da ex-stripper, ex-agenciadora de apostas e agora escritora Beth Raymer. No filme, Beth é interpretada por Rebecca Hall. Egressa de uma cidade pequena, onde ganhava a vida tirando a roupa, Beth decide se aventurar na “Meca” das apostas: a cidade de Las Vegas. A intenção inicial era ser uma “garçonete de luxo”, mas o destino não tarda a colocá-la no caminho de Dink (Bruce Willis). Apostador astuto, Dink é dono de uma empresa de apostas, algo permitido em Las Vegas, e logo Beth passa a ser sua empregada. Apesar de atrapalhada, a moça tem habilidade com números, mas o verdadeiro motivo por qual Dink se afeiçoa a Beth é bem simples: ela traz sorte para ele. Nessa maré de sorte inicial, a dupla de protagonistas desenvolve um relacionamento platônico. Ora romântico ora fraternal, o convívio somente é interrompido e ganha novos contornos quando a esposa de Dink, a megera Tulip (Catherine Zeta-Jones), retorna das férias em um cruzeiro.

Antes mesmo de entrar na história, Tulip é dimensionada pelos próximos a Dink como uma esposa excessivamente ciumenta, além de parecer carregar um estigma de trazer azar para o marido. O seu iminente retorno faz com que Dink entre em uma maré de perdas sucessivas, alterando seu humor e o panorama do relacionamento dele com Beth. Aqui, tem inicio o ponto de virada de O Dobro ou Nada, onde os conflitos entre os personagens vão impulsionar a narrativa até o seu desfecho, entrando ainda na história o jornalista Jeremy (Joshua Jackson) e um agenciador de NY, o picareta Rosie (Vince Vaughn). Apesar de flertar com o submundo das apostas, a contextualização de Frears, a partir do roteiro adaptado por D. V. DeVincents - roteirista de Alta Fidelidade (2000) – nunca se torna algo sério. O clima leve evidencia que a proposta da obra é tratar dos embates entre os personagens e não das problemáticas que giram em torno das situações limites por qual passam.

Contudo, o diretor não procura criar perfis para os personagens que sejam pertinentes à proposta da obra. Por isso não é estranho que em O Dobro ou Nada tudo se desenvolva de maneira rasteira e corriqueira, os diálogos ineficientes também pouco contribuem para engrandecer a obra. No entanto, mesmo com evidentes problemas, não dá para sentir raiva do filme, principalmente pelo seu elenco de rostos conhecidos e da descontração demonstrada por eles em cena. Aqui, Rebecca Hall deixa a marca de contida, de “moça certinha” de lado, compondo uma personagem sensual, que flerta com a vulgaridade, mas que não deixa de se preocupar com seu caráter, mesmo em um ambiente onde a retidão moral parece dizer pouca coisa. Não tenho dúvidas de que a atriz, que já comprovou talento em filmes como Vicky Cristina Barcelona (2008) e Atração Perigosa (2010), em meio à “chavões” como Bruce Willis e Zeta-Jones seja a âncora para não deixar o filme naufragar de vez, mesmo que fique a deriva o tempo todo.





Ficha Técnica:

O Dobro ou Nada (Lay the Favorite).
Direção: Stephen Frears.
Roteiro: D. V. DeVincents.
Ano: 2012.
Elenco: Rebecca Hall, Bruce Willis, Catherine Zeta-Jones, Vince Vaughn, Joshua Jackson. 

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