Resenha de Filme: 5 Broken Cameras

19 de fevereiro de 2013 1 Comente Aqui!

A vida não é feita de preto e branco, os maniqueísmos ficam apenas para os contos de fadas e 5 Broken Cameras (Cinco Câmeras Quebradas) é um inserção em um problema que não deve ser resolvido tão cedo; a questão Israel-Palestina. Fomos acostumados a olhar para os palestinos como malvados terroristas sem alma e sem remorso, uma construção totalmente ocidentalizada e este documentário vem para mostrar justamente um outro lado desta história.

A nossa jornada em 5 Broken Cameras começa quando nasce o quarto filho de Emad - Gibreel - e ele recebe a sua primeira câmera para filmar o desenvolvimento do garoto. Emad é um aldeão comum palestino que vive pacificamente em seu vilarejo Bil'in. Nesta mesma época uma barreira de separação está sendo construída ilegalmente para que colonos israelenses possam ocupar terras que antes eram palestinas. Os moradores de Bil'in começam a resistir a esta decisão e  por mais de cinco anos os filmes de Emad mostram essa luta pacifista que é liderada por dois dos seus melhores amigos, Phil e Adeeb. Cada vez mais essa situação vai afetando a sua vida e sua família; as prisões passam a ser praticamente diárias.  Em outro momento o exército de Israel começa a fazer incursões noturnas para assustar as famílias chegando a prender crianças. Muitas pessoas são presas injustamente e aparentemente sem motivos, entre elas seus amigos mais próximos, seus irmãos e inclusive o próprio Emad. As câmera vão sendo destruídas, mas cada uma conta devidamente a sua história ou parte dela.

Em muitos aspectos o documentário me lembrou If a Tree Falls, um dos indicados ao Oscar do ano passado nesta mesma categoria. A temática de resistência aqui se faz presente também e serve para nos questionarmos o que mais as pessoas podem fazer quando ainda que dentro da lei e pacificamente protestam contra atos injustos e vêem pessoas sofrendo por isto. Ora, se eu protesto e não sou atendido, tenho o respaldo da lei para tal e além disso vejo meus amigos, vizinhos e crianças sendo mortos, o que mais irei fazer? E um dos momentos mais marcantes do filme é justamente quando Emad se dá conta disso, enquanto o seu filho mais novo (uma criança de 4 anos) questiona porque ele não mata os soldados israelenses que tiraram a vida de seu "tio Phill".

Quando pulamos o outro lado da cerca e nos conectamos com essa nova realidade será que vamos realmente ainda acreditar que existem mocinhos nesta história? Acho que não; acho inclusive que após conferir essa obra é possível compreender o crescente sentimento de revolta e ódio que vai tomando conta da mente mesmo de uma criança. Talvez a raiz do terrorismo virar um alternativa para a luta dos palestinos esteja nas injustiças que cercam a sua realidade (nessas horas eu me pergunto como nunca houve um homem bomba no Brasil).

Não sei se 5 Broken Cameras tem força o suficiente para conquistar o prêmio de melhor documentário, olhando pelo viés do Oscar é um filme que toca em um tema muito delicado, em que a maioria dos americanos já tem uma opinião formalizada e isso pode atrapalhar as suas chances. Como obra é um documentário como poucos, muito contundente justamente por tratar da realidade sem maquiagens; mas os aspectos técnicos deixam um pouco a desejar, por motivos óbvios. Para aqueles que gostam de documentários, política ou querem entender um pouco mais o lado palestino desta história, assistir a essa obra é praticamente uma obrigação.





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