Simples e belo, creio que com
essas palavras defino de maneira direta e sincera o filme italiano As
Quatro Voltas. Dotado de evidente força imagética, o segundo
longa-metragem dirigido por Michelangelo
Frammartino divaga com propriedade sobre a temática da reencarnação. No
entanto, não vemos longas elucubrações, monólogos incensados ou diálogos
reflexivos. Na verdade, As Quatro Voltas
não contém sequer uma palavra, apenas sons diegéticos se aliam as imagens para
impulsionar a narrativa. Em um primeiro momento pode parecer uma escolha
maçante, idiossincrática, até mesmo pretensiosa. Contudo, quem se propor a
transcender certas cismas no que toca a convenções cinematográficas
tradicionais, pode se surpreender e se emocionar com esse filme de caráter um
tanto peculiar.
O protagonista inicial de As
Quatro Voltas é um pastor de cabras ancião (Giuseppe Fuda). O seu cotidiano envolve acordar bem cedo, levar
suas cabras para o pasto, depois passar na Igreja local e pegar com uma senhora
certa mistura enigmática que consome todos os dias antes de dormir. Dimensionado
como um sujeito solitário, o pastor parece resignado, onde até mesmo uma
formiga pode passear pelo seu rosto sem que o incomode. Para marcar com
eficiência a rotina do protagonista, Michelangelo
Frammartino utiliza da repetição de cenas, trazendo sempre enquadramentos
semelhantes e assim ritmando o filme com o marasmo do personagem. Entretanto,
apesar de parecer uma escolha inapropriada, essa opção da direção exalta o belíssimo
e rústico visual do lugarejo onde a trama se desenrola.
A trama se desenvolve em passos
lentos, mas nunca entediantes, sempre dimensionando a importância da natureza,
talvez até a verdadeira protagonista do filme. Como o mote principal da obra é
a reencarnação, logo se torna passível de analises inerentes à religião. Nesse
sentido, As Quatro Voltas não se define com qual crença procura dialogar,
passeando por preceitos espíritas, hinduístas, esotéricos, entre outros menos
evidentes. Embora normalmente a reencarnação seja atrelada ao fator religioso,
creio que a intenção de Frammartino,
também autor do roteiro, seja a de transcender essas perspectivas religiosas e
colocar a temática como algo simplesmente natural. Essa abordagem naturalista,
mas de uma poesia singela, é o ponto de partida para o filme atingir de forma
certeira suas pretensões, visto que a partir da primeira reencarnação do
protagonista inicial, a trama toma um rumo totalmente imprevisível.
Ficha Técnica:
As Quatro Voltas (Le Quattro Volte).
Direção: Michelangelo Frammartino.
Roteiro: Michelangelo Frammartino.
Ano: 2010.
Elenco: Giuseppe Fuda.
1 Comente Aqui! :
Ótima resenha!
Vale também ressaltar que o filme não tem trilha sonora. Tem é uma sonoplastia incrivelmente detalhada e cuidadosa para a construção dos cenários e voltar a atenção do espectador para os sinais.
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