Resenha de Filme: O Homem da Máfia (Killing Them Softly)

28 de janeiro de 2013 0 Comente Aqui!

Desde os primeiros minutos de O Homem da Máfia percebe-se que o espectador não está diante de uma realização clichê de submundo e com criminosos tão comuns. O diretor neozelandês Andrew Dominik, do elogiado O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (2007), constrói sua mais recente obra de forma atípica aos filmes do gênero. O cineasta aposta em uma estética visual elaborada, como luzes estouradas e câmeras lentas naturais, um roteiro em que os diálogos são o principal para evoluir a narrativa, ainda com um pano de fundo que critica o contexto social-político-econômico americano. Nesse sentido, sobre a última característica citada, não sei dizer com certeza até onde isso é interessante ou se torna uma pretensão e logo um demérito para o filme.

Essa afirmação da última frase acima parte da seguinte indagação: O Homem da Máfia é um filme de gangsteres ou um drama que julga a sociedade retratada através de tipos marginais? Acho que nem o diretor consegue responder essa pergunta com tanta clareza, porque mesmo existindo uma justificativa ácida no desfecho para a câmera de Andrew Dominik enquadrar TVs aleatórias que transmitem discursos políticos, do então presidente George Bush e o senador Barack Obama, tais inserções parecem travar a trama, assim como diálogos dissociados pouco atraentes. Creio que essas conversas fugindo a temática central são cenas do cotidiano, com o intuito de trazer mais realidade para as situações. Contudo, no meu ponto de vista, não se mostram tão eficientes e até podem causar certa sensação desagradável no público, principalmente por deixar a trama de caráter simples um tanto confusa.

Se procurarmos abstrair tais considerações críticas ao american way of life, O Homem da Máfia foca a história de um assassino profissional, Jackie (Brad Pitt), contratado para dar cabo em alguns criminosos envolvidos em um assalto a uma casa de jogos clandestinos, entre os principais, o covarde Markie Trattman (Ray Liotta) e uma dupla de bandidos atrapalhados e viciados em heroína vividos por Scott McNairy e Trevor Long. No entanto, apesar de eficiente e talentoso no seu oficio, Jackie não parece gostar de fazer os trabalhos de forma simples, tem um modus operandi pessoal, envolvendo algumas exigências, como trazer o fanfarrão Mickey (James Gandolfini) para ajudá-lo. Nesse meio tempo, discute os assassinatos dentro do carro do mandante interpretado por um sempre eficaz Richard Jenkins e bate papo com Mickey, enquanto ele bebe litros de bebidas alcoólicas e conta suas infames proezas sexuais.

Entre uma tomada e outra de elucubrações dos personagens, Andrew Dominik preenche o filme com seqüências mais agitadas, onde elaboradas com tensão e esmero, fazem o filme crescer em avaliação, como no assalto a casa de jogos, de longe o melhor momento do filme, e outras cenas em que vemos Jackie “trabalhando”. Necessário ressaltar que se O Homem da Máfia mostra-se um filme mais idiossincrático do que deveria ser, conotando reflexões rasas e ressalvas negativas, o mesmo não pode ser dito da atuação de Brad Pitt. O ator dimensiona seu personagem com o talento que tem para tipos curiosos, trazendo para Jackie, de forma natural, nuances de uma personalidade inteligente e violenta. Esses pontos positivos sobre a interpretação de Pitt, infelizmente, não podem ser aferidos da mesma forma em relação ao Mickey de um James Gandolfini caricato e praticamente sem função na trama.

Apesar de O Homem da Máfia não ter uma narrativa tão agradável, com pontos incômodos, mesmo tendo pouco mais de noventa minutos de duração, o filme de Andrew Dominik passa longe de ser ruim. Verdade quanto a ser deveras pretensioso em trazer um recorte de uma parcela da sociedade, e inevitavelmente, acaba caindo no lugar comum que tenta fugir, principalmente pela sua crítica obvia não se mostrar tão importante quanto o diretor imaginava. Afinal, quem não sabe que regimes democráticos capitalistas costumam ser puro negócio e que o papo de político, na maioria das vezes, não passa de puro papo mesmo. Nesse contexto, pareceu ingenuidade de um roteiro que tinha tudo para ser um excelente filme de gênero. Contudo, ainda assim, mesmo confuso, O Homem da Máfia consegue ser interessante e valer uma sessão.




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