Em 2000, o roteirista americano Christopher McQuarrie lançou seu
trabalho de estréia na direção de longa-metragem, intitulado A Sangue Frio (The Way of the Gun). Mesmo não sendo um filme brilhante, A Sangue Frio tinha seus méritos,
principalmente por trazer uma trama de ação bem engendrada e certo apuro
estético. Contudo, apesar de evidentes qualidades, o seu primeiro filme foi
injustamente acusado de ser apenas um sub-Tarantino.
Afinal, o então diretor de Cães de Aluguel
(1992), Pulp Fiction (1994) e Jackie Brown (1997) ainda estava
bastante em voga por suas realizações que tocavam no universo underground dos gangsteres americanos
modernos. E nesse sentido, o filme de McQuarrie
tinha mesmo uma pegada semelhante.
O diretor, talvez desiludido
pelas críticas negativas, resolveu deixar de lado a cadeira da direção e voltar
a apostar em trabalhos de roteiros, sua verdadeira especialidade, da qual
ganhou até um Oscar em 1995 pelo roteiro original de Os Suspeitos do diretor Bryan
Singer. Após mais de dez anos ausente dos sets de filmagem, McQuarrie retorna para se aventurar
atrás das câmeras com o thriller de
ação Jack
Reacher: O Último Tiro, baseado no romance One Shot do escritor inglês Lee
Child. Dessa vez, amparado pelo
astro/ator/produtor Tom Cruise, que
conheceu enquanto escrevia o roteiro de Operação
Valquíria, McQuarrie traz um
trabalho voltado para o entretenimento escancarado, ainda com o sarcasmo de
outrora, mas com uma pegada mais tradicional no que toca a desenvolvimento de
roteiro e narrativa.
A trama de Jack Reacher: O Último Tiro
abre com uma tensa seqüência, elaborada com eficiência, onde um atirador de
elite assassina, com requintes de crueldade, cinco pessoas aleatoriamente. Não
demora até que o suspeito atirador seja localizado e preso, logo se constata
que ele se chama Barr (Joseph Sikora),
um ex-militar envolvido em um caso semelhante enquanto servia no Iraque.
Durante seu interrogatório, Barr se recusa a assinar uma confissão e pede para
que traga Jack Reacher (Tom Cruise),
o único sujeito, na face da terra, com possibilidade de ajudar o rapaz. No
entanto, as autoridades nem precisam se dar o trabalho de procurar Reacher,
pois logo ele se apresenta ao hospital onde Barr está internado depois de levar
uma surra a caminho da prisão.
Jack Reacher é um ex-oficial,
tanto com talento para a investigação quanto para o combate físico e armado.
Desiludido com o sistema, resolve sumir dentro dos EUA, vagando de cidade em
cidade, sem criar muitos vínculos afetivos. Claro que essa é uma característica
exacerbada do típico herói americano, principalmente daqueles que habitavam os
filmes de ação dos anos 80. E talvez não seja até tão explicito, mas no meu
ponto de vista, Jack Reacher: O Último Tiro bebe diretamente dos filmes de ação
oitentistas, a começar pela sua estrutura que define com clareza os atos do
filme: confronto inicial, investigação problemática e desfecho climático. Mesmo
elucidando certa previsibilidade, a obra apresenta um texto elaborado, com
alguns bons diálogos, apesar de apoiar-se em inúmeras frases de efeito.
Uma outra característica que faz Jack
Reacher: O Último Tiro se assemelhar com as produções dos anos oitenta
é a opção por trazer para a obra um conflitante viés cômico, de alguns
exageros, indo assim a contramão de obras atuais mais sérias e que criaram
tendências, como a trilogia Bourne e os dois primeiros filmes do James Bond com
o ator Daniel Craig. Logo, esse apelo
por risos fáceis em seqüências de ação eficientes, ainda que Jack Reacher seja
um personagem durão e desprovido de humor, traz para o filme um tom
despretensioso, divertido e que nos faz abstrair certos furos no roteiro, improbabilidade
de fatos ou absurdos nas atitudes dos personagens. Afinal, Jack Reacher: O Último Tiro flerta muito
mais com o fantasioso do que com o realístico.
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