Resenha de Filme: Jack Reacher: O Último Tiro (Jack Reacher)

14 de janeiro de 2013 0 Comente Aqui!

Em 2000, o roteirista americano Christopher McQuarrie lançou seu trabalho de estréia na direção de longa-metragem, intitulado A Sangue Frio (The Way of the Gun). Mesmo não sendo um filme brilhante, A Sangue Frio tinha seus méritos, principalmente por trazer uma trama de ação bem engendrada e certo apuro estético. Contudo, apesar de evidentes qualidades, o seu primeiro filme foi injustamente acusado de ser apenas um sub-Tarantino. Afinal, o então diretor de Cães de Aluguel (1992), Pulp Fiction (1994) e Jackie Brown (1997) ainda estava bastante em voga por suas realizações que tocavam no universo underground dos gangsteres americanos modernos. E nesse sentido, o filme de McQuarrie tinha mesmo uma pegada semelhante.

O diretor, talvez desiludido pelas críticas negativas, resolveu deixar de lado a cadeira da direção e voltar a apostar em trabalhos de roteiros, sua verdadeira especialidade, da qual ganhou até um Oscar em 1995 pelo roteiro original de Os Suspeitos do diretor Bryan Singer. Após mais de dez anos ausente dos sets de filmagem, McQuarrie retorna para se aventurar atrás das câmeras com o thriller de ação Jack Reacher: O Último Tiro, baseado no romance One Shot do escritor inglês Lee Child.  Dessa vez, amparado pelo astro/ator/produtor Tom Cruise, que conheceu enquanto escrevia o roteiro de Operação Valquíria, McQuarrie traz um trabalho voltado para o entretenimento escancarado, ainda com o sarcasmo de outrora, mas com uma pegada mais tradicional no que toca a desenvolvimento de roteiro e narrativa.

A trama de Jack Reacher: O Último Tiro abre com uma tensa seqüência, elaborada com eficiência, onde um atirador de elite assassina, com requintes de crueldade, cinco pessoas aleatoriamente. Não demora até que o suspeito atirador seja localizado e preso, logo se constata que ele se chama Barr (Joseph Sikora), um ex-militar envolvido em um caso semelhante enquanto servia no Iraque. Durante seu interrogatório, Barr se recusa a assinar uma confissão e pede para que traga Jack Reacher (Tom Cruise), o único sujeito, na face da terra, com possibilidade de ajudar o rapaz. No entanto, as autoridades nem precisam se dar o trabalho de procurar Reacher, pois logo ele se apresenta ao hospital onde Barr está internado depois de levar uma surra a caminho da prisão.

Jack Reacher é um ex-oficial, tanto com talento para a investigação quanto para o combate físico e armado. Desiludido com o sistema, resolve sumir dentro dos EUA, vagando de cidade em cidade, sem criar muitos vínculos afetivos. Claro que essa é uma característica exacerbada do típico herói americano, principalmente daqueles que habitavam os filmes de ação dos anos 80. E talvez não seja até tão explicito, mas no meu ponto de vista, Jack Reacher: O Último Tiro bebe diretamente dos filmes de ação oitentistas, a começar pela sua estrutura que define com clareza os atos do filme: confronto inicial, investigação problemática e desfecho climático. Mesmo elucidando certa previsibilidade, a obra apresenta um texto elaborado, com alguns bons diálogos, apesar de apoiar-se em inúmeras frases de efeito.

Uma outra característica que faz Jack Reacher: O Último Tiro se assemelhar com as produções dos anos oitenta é a opção por trazer para a obra um conflitante viés cômico, de alguns exageros, indo assim a contramão de obras atuais mais sérias e que criaram tendências, como a trilogia Bourne e os dois primeiros filmes do James Bond com o ator Daniel Craig. Logo, esse apelo por risos fáceis em seqüências de ação eficientes, ainda que Jack Reacher seja um personagem durão e desprovido de humor, traz para o filme um tom despretensioso, divertido e que nos faz abstrair certos furos no roteiro, improbabilidade de fatos ou absurdos nas atitudes dos personagens. Afinal, Jack Reacher: O Último Tiro flerta muito mais com o fantasioso do que com o realístico.

Contando ainda com um atrativo elenco, com a atriz Rosemund Pike fazendo uma advogada destemida, a quem Jack Reacher se alia para inocentar Barr, o promotor interpretado pelo sempre eficiente Richard Jenkins e o cineasta alemão Werner Herzog, exercitando sua porção ator como o sinistro vilão Zec; Jack Reacher: O Último Tiro apresenta ainda uma grata surpresa: Robert Duvall. O veterano ator, interpretando um militar aposentado, dono de um campo de tiro ao alvo, torna-se um improvável aliado de Reacher e seu estilo satírico, caricato, faz o personagem roubar a maioria das cenas em que aparece. Enfim, se o espectador se propuser ao entretenimento modesto, fácil, e deixar de lado algumas bobagens da história, Jack Reacher: O Último Tiro tem tudo para ser uma agradável e divertida sessão.




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