Resenha Especial - Teatro: Bonitinha, Mas Ordinária

É inegável que o Cinema Detalhado seja um espaço dedicado ao mundo cinematográfico, porém o pensamento daqueles que são responsáveis por sua edição percorre a linha de acreditar que o mais importante é a disseminação da cultura. É exatamente por isso que dedicamos sempre um espaço para comentários de Livros e Seriados. Já comentamos sobre uma peça de teatro: Siricotico - Uma Comédia do Balacobaco e agora pretendo reservar este espaço para falar de outra produção que encontrasse em cartaz, na Sala do Coro do TCA, em Salvador.

Bonitinha, Mas Ordinária, é uma obra baseada no trabalho homônimo de Nelson Rodrigues, que é inédita na Bahia e comemorou no ano passado cinquenta anos de sua primeira montagem . A história gira em torno de Edgard, um ex-contínuo, que precisa decidir entre o dinheiro e o amor, pois apesar de ser apaixonado pela sua vizinha, ele fica tentado ao receber uma proposta de um milhão para se casar com a filha de seu patrão, que foi estuprada por 3 operários. Antes de tomar uma decisão, muitas serão suas situações e hesitações pessoais, que irão ser concluídas de forma surpreendente. A obra marca o surgimento de dezenove novos atores da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que encaram o desafio de dar vida a personagens e correspondem com as expectativas.

O texto de Nelson Rodrigues é simplesmente sensacional. Qual seria o seu preço? O dinheiro realmente é capaz de comprar tudo? Ele trás felicidade? O momento mais incrível está numa singela cena  em que fica evidenciado que por mais que digamos que somos incorruptíveis, todos estamos sujeitos a tentação. A máxima da obra é a seguinte frase: O Mineiro só é solidário no câncer. O que apresenta nossa sociedade egoísta e narcisista, que só pensa em igualdade ou em oferecer e receber ajuda, quando está necessitando. 

A direção e montagem da peça estão muito seguras e os responsáveis tiveram uma boa sacada ao misturar a trama original com momentos, necessários, cômicos, que servem para tranquilizar o espectador que por muitas vezes ficará chocado. Não há motivo para sustos com essa afirmação, afinal estamos falando de Nelson Rodrigues e temos conhecimento do universo que ele costuma nos colocar. O trabalho de atores está incrível e todos são capazes de chocar, emocionar e alegrar quem os assiste (Destaco o trabalho de João Guisande, Thiago Carvalho e Manuela Brito, que foram os que mais impressionaram, atuações soberbas.). Cenas de nudez, simulações de sexo e muito expressão corporal são marcantes durante o espetáculo de pouco mais de uma hora. 

A peça estará em cartaz na Sala do Coro do TCA até o dia 03 de fevereiro e o Cinema Detalhado indica a todos que desejam ter uma ótima experiência e sair com uma pulga atrás da orelha e com um bom tema de reflexão.

Fotos: Andréa Magnoni - Fotos com Alma e Diney Araujo