Resenha de Filme: Amor Profundo

8 de janeiro de 2013 0 Comente Aqui!

Adaptado do romance do escritor britânico Terence Rattigan, The Deep Blue Sea narra à história do visceral enlace amoroso entre Hester Collyer (Rachel Weisz), esposa mimada de um renomado advogado, e o ex-piloto da frota inglesa durante a segunda guerra mundial, o sedutor, mas desprovido de posses, Freddie Page (Tom Hiddlestone). A trama, escrita e dirigida pelo experiente Terence Davies - O Fim de um Longo Dia (1992), Memórias (1995) - tem inicio logo após o final da guerra e por isso contém alguns fragmentos do confronto bélico no que toca a direção de arte de algumas e poucas cenas externas. Entretanto, as bem elaboradas imagens demonstram pouca relevância, funcionando mais como pano de fundo para a transposição entre cenas do romance entre Hester e Freddie, e pontuando também as ações do marido traído, o advogado aristocrata Simon Russell (Sir William Collyer).

O respeitado diretor inglês Terence Davies, membro ativo da British Film Institute, assim como em trabalhos anteriores, opta por trazer uma obra minimalista, procurando a intimidade dos personagens e pouco se preocupando com as cenas externas, que como já citei, aqui, funciona mais para transpor as passagens de lugar. A intenção do seu cinema é focar os conflitos entre quatro paredes. Assim, aposta com firmeza nos diálogos em detrimento a seqüências mais agitadas, salvo quando algum personagem irrompe em uma rompante de fúria ou angustia. Consequentemente, The Deep Blue Sea apresenta uma pegada deveras teatral, usando seguidamente de longas cenas de embates verbais para avançar a narrativa. No meu ponto de vista, hoje em dia, essa é uma conduta cinematográfica até ousada e como toda ousadia, pode ser relativamente incompreendida ou mesmo não ter o resultado que o público espera, sendo visto até como algo maçante.

No caso de The Deep Blue Sea, acredito que não será avaliado como uma obra incompreendida, porque sua temática clara, simples e sem grandes contornos se faz de fácil compreensão. No entanto, o diretor, talvez percebendo o quanto idiossincrático seu filme estava se tornando, traz um corte final “moderninho”, recheado de flashbacks mal montados em que traz alternâncias temporais dissociadas. Creio que essa escolha seja uma espécie de subterfúgio para uma trama mal formulada, fazendo assim o espectador se entreter ao montar um quebra cabeça dos fatos e disfarçando a redundância do roteiro. A certa altura, o filme passa a sensação de ser excessivamente dramático, caprichado no “açúcar” e com a clara intenção de comover. Verdade que as atuações esforçadas, carregadas de emoção, do talentoso casal protagonista, Hiddlestone e Weiz, por vezes, conseguem inflamar um filme que carece de aprofundamento de suas problemáticas.

Se Davies procura mostrar o choque de realidade de Hester quando traz o duro cotidiano de uma vida sem glamour ao lado de Freddie, logo deixa esse viés de lado para focar no caráter auto-destrutivo da moça e os desfechos intempestivos por parte do piloto. Apesar da já citada disfunção da narrativa, The Deep Blue Sea, em contradição a outros aspectos modernos, como cenas picantes de sexo, também procura emular o cinema clássico dos anos 40 e 50. Essa afirmação parte, principalmente, pelo tipo de película brilhante usada pelo diretor, assim como o excesso de iluminação e a trilha sonora retrô. Creio ser intencional nos fazer remeter ao saudoso cinema clássico de outrora, principalmente porque o romance The Deep Blue Sea já havia sido filmado em 1955 pelo russo erradicado nos EUA, Anatole Litvak, com a estrela Vivian Leigh como protagonista. A despeito de inúmeras ressalvas negativas, a obra tem até bons momentos, como quando o casal protagonista investe na atuação e em outras cenas soltas elucidando com certa eficácia o sentimento melancólico do pós-guerra.


P.S: The Deep Blue Sea foi indicado ao Globo de Ouro 2013 na categoria de melhor atriz em filme de drama para Rachel Weisz.





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