Resenha de Filme: Além das Montanhas (Dupa Dealuri, 2012)

11 de janeiro de 2013 0 Comente Aqui!

Certamente foi com Cristian Mungiu que os filmes romenos começaram a se tornar mais visados pelos cinéfilos de todo o mundo. 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, sua obra-prima e vencedora da Palma d'Or no Festival de Cannes de 2007, abriu os olhos para o país e seus realizadores. Seu novo longa, então, era aguardado fervorosamente pelos apreciadores da sétima arte, e depois de ter ganhado melhor roteiro e melhor atriz (para as duas protagonistas) em Cannes deste ano, a ansiedade aumentou ainda mais.

Além das Montanhas, escrito e dirigido por Cristian Mungiu, foi inspirado num romance, baseado em fatos reais, escrito pela romena ex-repórter da BBC Tatiana Niculescu Bran. Mungiu aqui é menos ousado politicamente, e debate com o público as questões sobre fé e religião. Adotando o estilo naturalista, o diretor narra sua história com distanciamento total de opinião e objetividade.

Alina (Cristina Flutur) conheceu Voichita (Cosmina Stratan) no orfanato onde cresceram juntas, e aparentemente tiveram um romance (Mungiu não escancara a relação amorosa das duas, o romance aqui é contido). Depois de passar um tempo na Alemanha, Alina volta para visitar, o mais breve possível, Voichita, que agora é freira num convento ortodoxo liderado pelo Padre (Valeriu Andriuta), um homem extremamente rigoroso e seguidor assíduo das leis de Deus. O plano inicial das duas era sair do convento e ir viver suas vidas juntas. Mas Voichita está mudada e não parece estar disposta a sair tão facilmente assim, e por consequência Alina acaba ficando mais tempo que o previsto no convento.

Tentando se adaptar ao novo ambiente, Alina se esforça mas as crenças ali impostas para ela parecem ser absurdas. Batendo de frente diversas vezes com o Padre, Alina tem surtos - Mungiu coloca em debate se os surtos são por causa da incoerência que Alina vê naquele lugar ou se ela sofre de alguma doença mental - e é repreendida sob métodos medievais.

O roteiro não justifica a duração do filme, que em certas cenas torna-se repetitivo. Mas o desenrolar da personagem Alina e dos acontecimentos ocorridos são de extrema importância para o pensamento. Mungiu impõe um distanciamento emocional dando mais espaço para a razão. O expectador que irá julgar friamente os personagens. Dependendo de quem está assistindo, Alina pode ser a normal ou a anormal do grupo. Fica para a sua subjetividade.

No que diz respeito a direção, Mungiu não decepciona. Sua técnica e experiência estão mais maduras do que nunca, e seus planos estáticos e bem construídos são de extrema importância para a narrativa. O suspense aqui é mais contido, mas quando existe é sempre seguido de câmera na mão atrás da personagem. E isso é ajudado graças a ambientação que dá consistência para o estilo realista que o diretor adota.

A ausência de trilha sonora permeia o filme inteiro, mas é principalmente no terceiro ato que a ausência é importante. Há uma cena em que Voichita está na cama um pouco antes de dormir e para para pensar em toda a situação que está acontecendo ao seu redor. O silêncio e a solidão são a chave.

- Filme visto na 36ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo em Outubro/2012.


Trailer do Filme:

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