O amplo e significativo sucesso, de
crítica e público, da Trilogia dos Anéis
(2001-2003), capitaneada e idealizada pelo neozelandês Peter Jackson, logo após de seu termino, gerou uma expectativa de
quando e como o outro livro, O Hobbit,
do cultuado escritor sul-africano J. R.
R. Tolkien seria adaptado para o cinema. Entre debates gerados por mídia,
público e profissionais do cinema, sempre divagando sobre elenco, roteiro,
locações, uma coisa era certeza, o filme não poderia acontecer sem o
envolvimento de Peter Jackson, ainda
que fosse apenas como produtor criativo. Inicialmente, o nome do competente
cineasta mexicano, Guillermo Del Toro,
foi cogitado para a direção, mas não demorou até que passasse a co-roteirista,
assim deixando a batuta de vez para Jackson,
no meu ponto de vista, o nome mais indicado e consistente para revistar a
saudosa Terra-Média.
Verdade seja dita, Peter Jackson é um apaixonado pelo
fantástico universo criado por Tolkien
e seria injusto (tanto para ele, quanto para o público) se O Hobbit não visse as telas do cinema pelas mãos do diretor. Apesar
da conhecida competência de Jackson,
em sua carreira derrapou poucas vezes, como no drama Um Olhar do Paraíso de 2009, assim como uma enorme expectativa foi
gerada, outra porção de desconfiança proporcional também surgiu, principalmente
quando foi anunciado que o livro (único) de Tolkien
seria dividido em mais uma trilogia. Afinal, se a Trilogia dos Anéis, de fato, são três livros, logo três roteiros,
por que tornar uma singular obra literária em três filmes? Ora, a resposta não
é difícil: o cinema mainstream vive
de cifras e quando uma nova mina de ouro é descoberta, normal ser explorada.
No entanto, apesar desse viés
comercial que vem sendo muito criticado (no meu ponto de vista, uma injustiça),
O
Hobbit: Uma Jornada Inesperada passa muito longe de ser um engodo e
acredito sinceramente que figura fácil entre os melhores blockbusters da temporada. Essa nova aventura na Terra-Média
regride cerca de sessenta anos dos acontecimentos envolvendo o Um Anel contados
na primeira trilogia. O foco narrativo agora são as primeiras façanhas do
hobbit, Bilbo Bolseiro (Martin Freeman),
além dos limites do seu bucólico, querido e aconchegante Condado. Nos minutos
iniciais vemos o primeiro encontro de Bilbo com o mago Gandalf (Ian McKellen). O nosso mago cinzento não
deixa clara a intenção de sua visita, apenas revela uma aventura a ser
realizada. Não correspondido em entusiasmo pelo hobbit, faz uma marca na porta
da casa do pequeno. Marca que servirá como localização para uma trupe de Anões
fanfarrões aparecerem para uma “pequena reunião”.
Um pouco antes desse encontro que
impulsionará a trama, um narrador em off nos
conta a história de um imponente povo, ascendentes desses mesmos anões que
foram bater na casa do acomodado Bilbo e que habitaram uma das mais ricas
cidades da Terra-Média. Cidade crivada de ouro, construída com muito orgulho,
no coração de uma montanha. Embora repleta de segurança, fortificada, não
demorou até que o poderoso Dragão Smaug aparecesse para tomá-la de assalto,
deixando assim aquela respeitada linhagem de Anões como um povo errante,
vivendo de trabalhos forçados e desprovidos de qualquer glória. Salvo-lá, mas não
antes de se enfrentarem com os Orcs em uma batalha sangrenta que também explica
a conhecida rivalidade entre Anões e Elfos. Agora liderados por Thorin Escudo
de Carvalho (Richard Armitage), o
outrora gigantesco povo está reduzido a apenas treze, mas não carente de
coragem e determinação, pois a missão em voga é destituir Smaug das entranhas
da montanha e retomarem o que são deles por direito. Aí vocês perguntam: o que
Bilbo tem a ver com tudo isso?
Na concepção de Gandalf, o hobbit
de pés peludos e coração bom, pode ser a sutileza que falta a trupe de anões
fanfarrões e barulhentos e o dom particular da raça dos pequenos, de passarem
despercebidos (como bons larápios), pode ser de grande utilidade nos momentos
mais complicados. Todavia, a ingenuidade sincera de Bilbo, além de um espírito
heróico que o próprio acreditava ser desprovido, virá a inspirar todos durante
essa causticante jornada. Nesse quadro de ações edificantes, amizades
improváveis e heroísmo desmedido, a narrativa pontuará situações acontecendo
simultaneamente na Terra-Média, servindo até como prequel para acontecimentos
futuros. Portanto, estamos falando de nomes já conhecidos como o terrível
Sauron, criador dos malignos anéis, o mago “duas caras” Saruman (Christopher Lee), os Elfos Elrond (Hugo Weaving) e a Rainha Galadriel (Cate Blanchet), além de breves citações
ao Rei Isuldur, o que se rendeu ao poder negro do Um Anel e de quem Aragorn era
descendente direto.
Com todo um universo já intimo do
espectador, logo sentimos um agradável deja-vu
e Hobbit:
Uma Jornada Inesperada não se refuta a trazer-lo com competência, ora
pelas mesmas tomadas panorâmicas, mostrando toda a grandiosidade da obra ora
pelas alucinantes seqüências de ação, como uma marcante ambientada dentro do
covil dos Orcs. Alias, assim como Peter
Jackson tem talento para alongar as cenas mais do que deveria, também as
conflui com eficiência entre os momentos de mais correria, e irrupção é o que
não falta ao filme. Talvez Hobbit: Uma
Jornada Inesperada, das quatro obras até agora baseadas no universo de Tolkien, seja a com mais cara de
aventura escancarada, sem grandes contornos dramáticos e, em certos momentos,
me lembrou a essência dos bons filmes de aventura de outras épocas, até mesmo os
da série Indiana Jones. Não pela
temática, que muito se diferem, mas pela proposta de entreter o público com uma
história contada de forma simples, mas desenvolvida com carinho, repleta de
personagens carismáticos, frases de efeito e emoção genuína.
Entre atuações relevantes, como a
de Martin Freeman e de um Richard Armitage imerso em seu
personagem, passando por Ian McKellen
extremamente à vontade como Gandalf, não poderia deixar de finalizar o texto
sem falar do nosso querido Gollum Smeagol. Mais uma vez Andy Serkis, aliado a tecnologia de ponta, entrega um trabalho
notável e ainda que Smeagol não tenha tanto tempo em cena, quando aparece,
todos os olhares são para ele e seu “precioso”. A seqüência em que encontra com
Bilbo a primeira vez é simplesmente genial e um dos pontos altos de Hobbit:
Uma Jornada Inesperada. Alguns acusarão o filme de ter cenas esticadas
demais, embromar para uma trama tão simples, mas como ressaltei um pouco acima,
o diretor faz o trabalho de forma natural, com pleno domínio de suas escolhas.
Fica uma dica pessoal: se desligue de influências externas e aproveite com
plenitude o afiado duelo entre o bem e o mal reiniciado aqui por Peter Jackson.
Para finalizar, deixo com vocês
uma das frases marcantes escritas por J.
R. R. Tolkien:
"É estranho, mas as coisas boas e os dias agradáveis são narrados
depressa, e não há muito que ouvir sobre eles, enquanto as coisas
desconfortáveis, palpitantes e até mesmo horríveis podem dar uma boa história e
levar um bom tempo para contar."
Ler a crítica do Livro: O Hobbit
Ler a crítica do Livro: O Hobbit
3 Comente Aqui! :
Discordo da nota, esse filme merecia um SENSACIONAL com três exclamações! Primeiro tenho que dizer que, no quesito ficção/fantasia, Peter Jackson é um gênio. Para os que leram os livros de Tolkien e tem algum senso imparcial, senão unicamente de amante da história, percebe isto, uma vez que o mesmo, mais uma vez, transformou algo demasiado criativo, vasto e rico, porém, com muita minúcia e, em muitos momentos, cansativo, em algo vivo! "O Hobbit" é tão bem feito que chega a parecer real. Antes de lançar o filme me peguei pensando se seria uma boa ideia reproduzir um pedaço anterior de uma história que já tinha um meio, mas me surpreendi. Eles fizeram de tudo pra que as sagas não ficassem desconexas. Não foi só um show de efeitos especiais, o filme tem um roteiro impressionante, muito melhor do que o do "O Senhor dos Anéis" diga-se de passagem. Obviamente que houve objetivo lucrativo envolvido na produção desse filme, mas, já aproveitando a deixa, resolveram fazer o filme com a maior fidelidade possível ao livro e conseguiram. A saga do anel apesar de excelente sofreu muitas adaptações com muita coisa retirada, outras criações, o que é normal por se tratar de uma adaptação propriamente dita. Contudo, no Hobbit, toda a história é pontuada e não acho que nenhuma cena tenha sido extensa ou chata. Acredito que todas as cenas foram muito bem exploradas de acordo com grau de importância para explicar a história. No quesito técnico, não tem defeito. A fotografia é monstruosa, cenário, figurino, tudo impecável! Os efeitos são assombrosos. O orc Azog é estupidamente bem feito, bem como a parte dos trolls, enfim... O elenco nem se fala. Créditos especiais para Andy Serkis e Ian Mckellen. Canso de distribuir elogios pra Ian, é um puta ator, incorpora o personagem que só ele sabe como e não foi a toa o esforço que fizeram pra que ele gravasse o filme, já que se ele tivesse recusado o filme, na minha opinião, perderia demais. No mais, o filme pra mim foi perfeito. Há tempos que não assisto um filme tão bom e já estou doido pra que saia o outro.
Vi "O Hobbit" sexta, no dia da estréia. É um bom filme de fato, mas... A verdade deve ser dita: "O Hobbit" não tem material o suficiente para ser esticado numa trilogia. E é essa sensação que eu tive quando eu vi o filme: parece que Peter Jackson quis que toda e qualquer cena do livro rendesse o máximo no filme, o que faz ele perder o dinamismo em alguns momentos. Síndrome "Matrix"? Claro que a maioria dos fãs de "Senhor dos Anéis" vão adorar o filme, mas cabe um pouco de distanciamento nessas horas. Repito: "O Hobbit" é um bom filme, mas acho que muita coisa poderia ser cortada. Francamente, um filme só poderia dar conta do recado. Dois? Pode ser. Três? Tenho minhas dúvidas...
O Hobbit: enredo curto pra muito filme
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