Resenha de Filme: No (2012)

28 de dezembro de 2012 0 Comente Aqui!

Este ano de 2012 estrearam bons filmes por aqui com o tema "ditadura latino-americana". Destaco o brasileiro Cara ou Coroa, de Ugo Giorgetti, e o argentino Infância Clandestina, de Benjamín Ávila, para citar exemplos. Chega agora nos últimos instantes do ano, o chileno No de Pablo Larraín – o qual estava, assim como o argentino, presente na 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O diretor e roteirista Pablo Larraín em seus últimos dois projetos adotou como pano de fundo a ditadura contando histórias extremamente pessoais. A loucura obsessiva de Tony Manero (2008) junto com a complicada relação amorosa e o vazio existencial de Post Mortem (2010) antecedem este novo longa que, premiado em Cannes, encerra a trilogia Pinochet.

Candidato a concorrer por uma vaga entre os indicados de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2013, No narra os últimos instantes do general militar Augusto Pinochet no poder. Com a pressão internacional e após 15 anos de ditadura, Pinochet cedeu e aprovou um plebiscito que propôs a votação: SÍ (pessoas que gostariam de tê-lo mais oito anos no poder) ou NO (pessoas que gostariam de sua retirada imediata da presidência). René Saavedra (Gael García Bernal), o protagonista, é um homem que, exilado, voltou ao Chile e trabalha numa agência de propaganda. Publicitário nato, tem um enorme talento – que até lembra o personagem Don Draper da premiada série televisa "Mad Men" – e sempre consegue vender seu produto. Logo, então, é sondado para participar da campanha televisiva NO que tem 15 minutos diários para convencer as pessoas a tirar Pinochet do poder.

Alfredo Castro, ator-fetiche do diretor e que foi o protagonista dos seus dois filmes anteriores, dá voz ao personagem Lucho Guzmán, o chefe pró-Pinochet de René na empresa de publicidade. Guzmán é chamado para coordenar a campanha SÍ depois de sucessivas falhas por parte da equipe direitista, e entra em combate contra o companheiro Saavedra que aceita trabalhar para campanha NO. Tendo autonomia em suas decisões, René enfrenta duras críticas ao tema que adota. Ele não quer denunciar as barbáries cometidas pelo ditador – os esquerdistas acreditam que o plebiscito é arranjado e que não tem como vencer, então acabam acreditando apenas como uma oportunidade de denúncia. Mas é René que ousa e acredita em sua criatividade e na oportunidade, deixando de lado as previsíveis denúncias, para transmitir mensagens otimistas, positivas e alegres. Jogada de marketing bem sucedida.

Baseado na peça "El Plebiscito", do escritor chileno Antonio Skármeta, este é o primeiro filme que Larraín não roteiriza; quem assina a adaptação portanto é Pedro Peirano, parceiro do cineasta Sebastián Silva (La Lana, 2009). Diálogos inteligentes e personagens bem construídos mesclados com a qualidade da imagem remetendo às de vídeo oitentista, fazem com que estética e narrativa andem juntas perfeitamente. É como se estivéssemos ali, revivendo aquilo tudo. O realismo aumenta quando Larraín usa de arquivos e vídeos reais do período (americanos apoiam a saída de Pinochet e atores como Jane Fonda e Christopher Reeve mandam mensagens para campanha NO) para realçar e complementar seu longa que demonstra ser totalmente sólido. O diretor nos transmite ter total domínio sobre o assunto e faz com que nós espectadores também entendamos o que se passava naquele momento sem maiores dificuldades.

Conceitos como capitalismo, democracia, artifícios publicitários ("Cópia da cópia da cópia da cópia"), consumismo, entre outros, podem-se passar despercebidos, mas estão presente em meio a todo o universo que Larraín cria. Os closes e a câmera na mão – estilo próprio do diretor – somados com a montagem ágil e eficiente, acrescenta fluidez e ritmo na história que nos envolve desde seus primeiros minutos.

Característica marcante em seus filmes, a reconstrução de época (TVs, vídeo-cassete, carros, roupas, etc) de Larraín está irretocável. A trilha sonora pontua muito bem pequenos momentos, e não é usada de forma proposital a fim de causar algum tipo de impacto emocional. Aliás, se emocionar aqui não é o objetivo do diretor, mas o sentimento de melancolia daquele momento estará sempre presente nos olhos de Gael.


Trailer do Filme:

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