Top Five - Gus van Sant

O cinema dos marginalizados é talvez o grande característica de Gus van Sant. Na obra do diretor, eles podem ser junkies, garotos de programa, gênios com traumas psicológicos, vítimas de bullying ou líderes do movimento gay. As suas experiências nos alertam sobre o lado sombrio da natureza humana: a crueldade, os vícios, a discriminação - coisas que a sociedade "careta" não admite em si e as projeta no Grande Outro, aquela invenção conveniente para depositarmos o que rejeitamos em nós mesmos.

No Trilho da Droga (1989)

Portland, Oregon, 1971. Bob Hughes (Matt Dilon) lidera um quarteto que tem apenas um objetivo: eles roubam farmácias ao norte da Costa Oeste americana, vendendo uma parte e injetando o resto. A vida do crime tem suas surpresas, e a gangue de Bob certamente terá a sua. O filme é baseado na vida de James Fogle, que aos 73 anos ainda roubava farmácias.

Garotos de Programa (1991)

Garotos de Programa foi protagonizado por duas estrelas em ascensão. De um lado temos Keanu Reeves, embalado por dois sucessos de bilheteria: a comédia Bill & Ted - Uma Aventura Fantástica (1989) e Caçadores de Emoção (1991), ao lado de Patrick Swayze. River Phoenix (irmão de Joaquin), morto por overdose dois anos depois, tinha conseguido a sua fatia de fama após Um Lugar do Passado (1988) e uma breve participação em Indiana Jones e a Última Cruzada (1989). Foi uma escolha corajosa dos dois, que rendeu diversos dividendos, entre eles pagar os custos de produção e um prêmio no Festival de Veneza.

Gênio Indomável (1997)

Dos quinze longa-metragens de van Sant, esse provavelmente é o mais celebrado deles. Matt Damon é Will Hunting, um gênio emocionalmente conturbado de 20 anos que não consegue se manter num emprego fixo ou relacionamentos estáveis. O professor Gerald Lambeau (Stellan Skarsgård) o "descobre" em Harvard e quer investir no brilhante jovem. O problema, logo descobre, é a personalidade intransigente e rebelde de Will. Ele decide então apelar para um velho "animigo", o terapeuta Sean Maguire (Robin Williams), e tanto ele como Will vão começar uma jornada terapêutica - tumultuosa, sofrida - que mudará para melhor a vida dos dois. Indicado para nove Óscares, a produção ganhou dois: o de Melhor Ator (Robin Williams) e o de Melhor Roteiro (Matt Damon e Ben Affleck). 

Elefante (2003)

O Massacre de Columbine, no dia 20 de Abril de 1999, mudou a cultura americana. Antes de se suicidarem, os estudantes Eric Harris e Dylan Klebold mataram 12 pessoas e feriram 21. Á partir daí medidas contra o bullying nas escolas foram enfatizadas. Do lado negativo, o pânico moral gerado por políticos conservadores e a mídia sensacionalista encontrou diversos bodes expiatórios: videogames (Doom e Wolfenstein 3D), rock industrial (Rammstein, KMFDM, Marilyn Manson) e a tribo urbana gótica, que nunca teve nada de violenta. Elefante explora, de forma lenta e quase tediosa, os eventos que levaram à aquela matança, enfatizando assim a banalidade daquele 20 de Abril, que poderia ter sido "qualquer outro dia". Para quem estiver interessado numa discussão saudável sobre as causas e consequências desse massacre, recomendo Tiros em Columbine (2002) de Michael Moore, que ganhou um Oscar de Melhor Documentário.

Milk - A Voz da Igualdade (2008)

Numa performance que lhe valeu o Oscar de Melhor Ator, Sean Penn interpreta Harvey Milk, ativista gay. A carreira política de Milk criou vários precedentes para a comunidade gay até ele ser assassinado por um rival político em 1984. Além do Oscar de Penn, Milk teve mais 9 indicações, sendo que uma delas foi o prêmio por Melhor Roteiro (de Dustin Lance Black).