O diretor australiano John Hillcoat começou a chamar atenção
para o seu cinema com o western, produzido em sua terra natal, A Proposta (2005). Quatro anos mais
tarde, então em solo americano, ele realizou o melancólico e desprovido de
esperança, A Estrada, adaptação do
respeitado romance The Road, do
escritor americano Cormac McCarthy. A Estrada foi um belo cartão de visitas
para Hollywood, sendo um filme aclamado pela crítica e nomeado em diversas
premiações alternativas daquela temporada. Era questão de tempo até que fosse
incumbido de uma superprodução, caso esse do seu novo trabalho, Os
Infratores, obra baseada nas desventuras verídicas de uma família de
gangsteres caipiras nos EUA da grande depressão e lei seca dos anos 30.
Assim como Forrest Bondurant, o
agente Charlie Rakes é um sujeito que preza pela brutalidade como exercício do
seu poder, mas em contrapartida, ainda que representante da lei, usa de um jogo
muito mais sujo que o mítico gangster. Quando digo mítico, a afirmação parte da
lenda local de que os Bondurant seriam invencíveis ou até mesmo imortais,
reforçada pela quantidade de vezes que Forrest conseguiu escapar de uma morte
certa. Tornando-se os únicos produtores “independentes” das imediações, sem
dever e nem pagar propina a ninguém, passam a negociar com criminosos de
primeira linha. Logo também começam a provar do conforto que o dinheiro advindo
do lucro do negócio ilegal de bebidas pode proporcionar, especialmente o caçula
Jack, um jovem admirador do estilo de vida de criminosos famosos da época, como
o Floyd Banner interpretado pelo sempre eficiente Gary Oldman.
Apesar de Forrest ser um dos
personagens mais interessante de Os Infratores, ele divide as atenções
com seu irmão Jack, o verdadeiro protagonista do filme e também quem nos guia
através da história. Acredito que a escolha da narrativa surgir pelos olhos do
personagem mais romântico seja um acerto, pois assim o filme se despe da
aspereza, se talvez tivéssemos a trama trazida por meio da visão crua de
Forrest ou do irmão mais velho, o beberrão Howard (Jason Clarke, irreconhecível). Portanto, Os Infratores não deixa de ter seus momentos belos e poéticos,
assim como os de A Estrada, muito
apoiado pela mesma exuberante fotografia que valoriza com excelência as
locações, característica que vem se mostrando cara ao cinema de John Hillcoat.
O invejável elenco de Os
Infratores, além dos já citados, ainda conta com duas presenças
femininas muito importantes do atual cenário cinematográfico: a atriz revelação
de 2011, a
americana Jéssica Chastain e a
australiana, não menos talentosa, Mia
Wasikowska. Em um filme que preza por uma narrativa cativante, ainda que
com plot points meio previsíveis, mas
que não chegam a incomodar, talvez uma das minhas poucas reclamações seja sobre
o sub-aproveitamento de ambas as atrizes. Jéssica
Chastain se esforça, nos fazendo até compartilhar do caráter sofredor de
sua personagem, a ex-dançarina e interesse romântico de Forrest, Maggie
Beauford. No entanto, seu pouco tempo em cena não é o suficiente para
aprofundar sua personagem e ela quase se torna uma alegoria dentro do filme.
Infelizmente, não se pode dizer o mesmo da atuação de Mia Wasikowska. Com seu tempo mais reduzido que o de Chastain, o
romance da sua Bertha Minnix, filha de um religioso local, com Jack é uma
digressão que pouco acrescenta a trama, a não ser pelo conteúdo biográfico do
desfecho.
Diferente do pouco aproveitado
elenco feminino (será que é porque Os Infratores é um filme impregnado
de testosterona?), a contraparte masculina entrega atuações consistentes, com Tom Hardy comprovando seu talento para
viver personagens brutais (não foi assim em Guerreiro
e Batman: Cavaleiro das Trevas Ressurge?)
e Shia LaBeouf não comprometendo com seus
costumeiros maneirismos interpretativos, como o excesso de expressões com as
sobrancelhas, principalmente o arqueamento delas, conjugada com a sempre boca
aberta. Aqui, o jovem ator entrega uma performance convincente, condizendo com
a característica insegura, atrapalhada e desprovida de coragem do seu
personagem. Ele ainda protagoniza uma das seqüências mais tensas do filme.
Apesar de a família Bondurant ter o charme pertinente aos fora da lei do
cinema, o destaque das interpretações fica por conta de Guy Pearce. O ator inglês entrega umas das suas melhores atuações
dos últimos anos, construindo um personagem pedante, que gosta de se exibir,
ora pela violência desmedida ora por intervenções não condizentes com seu cargo
de agente especial. Não estranhem se Pearce
aparecer como indicado em alguma premiação importante ao final da temporada.
1 Comente Aqui! :
O filme realmente e muito bom. Shia está bem, Hardy está, mas Guy Pierce está incrível e deve pintar em premiações sim.
Postar um comentário