Crítica: Frankenweenie (2012)

2 de novembro de 2012 1 Comente Aqui!

Em 1984, um desconhecido Tim Burton, realizou um curta-metragem em live-action intitulado Frankenweenie. Um trabalho em que o novato diretor conseguiu exprimir em poucos minutos um bocado das temáticas que seriam caras a toda sua carreira. O curta contava a história de um garotinho, Victor, que inspirado na história de Frankenstein, ressuscitava seu cão aos mesmos moldes do mostro clássico. O jovem Tim Burton recheou o filminho com referências aos filmes clássicos de monstro dos anos 40/50 e o resultado foi o que considero uma pequena jóia dentro de sua filmografia. Curioso que o curta, bancado pela Disney, fez com que o promissor diretor fosse demitido da empresa, com a alegação de que a realização era mórbida demais e não se enquadrava entre os então produtos vendidos pelo Mickey Mouse.

O mais curioso ainda, é que mais de vinte anos depois, a mesma Disney bancou o longa-metragem em stop-motion (técnica caríssima), Frankenweenie, dirigido e co-roteirizado pelo mesmo Tim Burton e contando praticamente, tal como, a história do curta metragem dos anos oitenta. Claro que os tempos são outros e as crianças não são mais as mesmas. Visando esse mercado mutável, cada vez mais a Disney tenta se desvencilhar do estigma de empresa de fórmulas desgastadas, com histórias infantilóides, marcadas por princesas que falam com animais, para assim aumentar o seu leque de público. Então, não chega a ser estranho, no caso, até um acerto, produzir um filme como Frankenweenie, obra com tom mórbido, trazendo crianças e adultos moldados com a personalidade e físico de monstros. No trabalho artesanalmente meticuloso da construção dos personagens, nota-se facilmente a alusão a corcundas, zumbis, vampiros e afins. Logo temos uma produção, que aparentemente, vai à contramão de todos os paradigmas clássicos da empresa.

A trama desse novo Frankenweenie tem o mesmo ponto de partido do curta metragem de 1984. Victor Frankenstein (no original, voz do ator mirim Charlie Tahan) é um garoto introspectivo, sem muitas amizades e tem em Sparky, seu cão de estimação, o principal e talvez único amigo. Um dia, após sua colega de escola ter uma improvável premonição sobre ele, tudo parece sair perfeitamente bem para Victor em uma partida de beisebol, como nunca tinha acontecido antes, mas como tudo que está bem, pode ficar mal de uma hora para outra, eis que acontece a tragédia: ao correr atrás da bola rebatida pelo garoto, Sparky atravessa, desatento, uma rua e acaba sendo atropelado fatalmente por um carro. O desfecho da seqüência é melancólico, triste mesmo, o próprio Tim Burton afirmou que a cena é uma clara homenagem a cena da morte da mãe de Bambi, então, não estranhe se uma lágrima brotar no canto do olho. No entanto, a obra passa longe de ser um apenas um melodrama infantil, logo que Victor resolve ressuscitar o cão, baseado nas teorias de seu imponente professor, o senhor Rzykruski (voz de Martin Landau), que também é a cara do saudoso ator Vincent Price, o filme ganha contornos do conhecido humor sarcástico de Tim Burton, tão caro a sua filmografia.

Com mais tempo para desenvolver a sua história de contornos dark, e que Tim Burton afirma ser a que tem mais carinho entre todas que idealizou, a trama, além de mostrar as inúmeras peripécias de Victor para esconder Sparky, abre outras linhas narrativas, a mais forte, envolve uma feira de ciências e as disputas entre os garotos para quem vai se sair vencedor. Embora a contextualização possa ser vista como ousada, fotografia em preto e branco, apostando em um design de arte com traços do impressionismo e do gótico e uma trilha sonora de horror eficiente, a trama em si, não foge dos lugares comuns e a previsibilidade é inevitável. Por outro lado, se algumas das soluções podem incomodar adultos mais exigentes, por outro, devemos lembrar que Frankenweenie também visa, ou prioriza, o público infantil e a sua mensagem bonita do desfecho é um clichê agradável, comovente até. Aliás, o epilogo é um deleite cinéfilo, dadas as tantas referências a serem pescadas do cinema de horror nos seus vinte minutos derradeiros. Se ainda não foi dessa vez que Tim Burton entregou uma obra memorável, pode-se dizer que voltou em boa forma, com um trabalho respeitável, divagando sobre amizade com propriedade, visualmente deslumbrante, cômico e emocionante.




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