Crítica: Skateland - Juventude Perdida

21 de outubro de 2012 0 Comente Aqui!
Falecido em 2009, o cineasta americano John Hughes ficou famoso na direção de filmes como Gatinhas e Gatões, Clube dos Cinco e Curtinho a Vida Adoidado, reconhecidos sucessos de crítica e público. Se além dos filmes dirigidos, pensarmos na quantidade de roteiros que culminaram em sucessos (Férias Frustradas, Esqueceram de Mim, por exemplo) fica inevitável dizer que Hughes tenha sido uma espécie de papa do cinema mainstream, principalmente o de comédia. Verdade absoluta: o diretor sabia fazer um “filme família” como ninguém.

No entanto, se por um lado Hughes tinha talento para entreter e alegrar com qualidade às platéias, por outro, dedicou algumas de suas realizações para tratar o universo jovem com carinho e carisma, até mesmo não se furtando a trazer certo tom de melancolia e desesperança para um ambiente visto costumeiramente no cinema como fútil, desmiolado e pouco importante. Até então, nunca um adolescente tinha se visto representado com tanta propriedade, tendo seu mundinho particular retratado com alguma fidelidade, principalmente em obras como Clube dos Cinco, Garota de Rosa Shocking e Alguém Muito Especial.

Dessa vertente mais séria, reflexiva até, da carreira de John Hughes, aonde o realizador lidou com as incertezas, dúvidas e problemas da juventude, que o ator, roteirista e diretor Anthony Burns se apropria com qualidade para homenagear no seu Skateland – Juventude Perdida (péssimo subtítulo nacional). A história se passa em uma típica cidade americana, interiorana, dos anos 80 e tem como protagonista o confuso aspirante a escritor Ritchie Wheleer (Shiloh Fernandez).

Diferente da maioria dos filmes de Hughes, a história acompanha os momentos pós high-school, pairando na indefinição entre ousar em uma vida universitária ou resignar-se em um trabalho cotidiano local. Ritchie é o simbolismo dessa fase. De escritor talentoso do jornal estudantil, ele passa a atendente de uma decadente pista de patinação em vias de falência (e que intitula o filme). Nesse meio tempo, ele se divide entre o trabalho sem futuro e vagabundear em bebedeiras pela cidade com seu melhor amigo Brent (Heath Freeman), um ex-corredor de moto-velocidade e a irmã dele, Michelle (Ashley Greene), uma bela e tímida jovem, com quem Ritchie compartilha sentimentos mais do que especiais.

O trabalho de Burns é tão fiel ao espírito dos anos 80 e a falta de rostos mais conhecidos entre o elenco quase nos faz acreditar que estamos diante de um filme realizado na saudosa época. Assim como os clássicos oitentistas da sessão da tarde (mesmo os mais famosos), Skateland – Juventude Perdida apresenta prós e contras semelhantes. Os personagens são delineados com certa profundidade, mas a trama é furtiva, quase inexistente. O filme exala uma jovialidade beirando a ingenuidade, assim como dialoga com questões sobre divórcio, relacionamentos, perdas, conformismo e amizade, assuntos tão em voga nos 80´.

Vale ressaltar novamente a força anacrônica da obra, principalmente por não ser caricata e tratar a época com seu devido respeito. Em meio a um retrato tão fiel de uma geração, que poderia facilmente gerar uma alegoria, o diretor Anthony Burns comete uma obra que se impõe e cativa: principalmente pelas boas interpretações, diálogos afiados e seqüências intimistas inspiradas. Os quinze minutos finais são especialmente emocionantes nessa bonita e bem realizada homenagem ao cinema de John Hughes. Com direito a singela e merecida dedicatória ao subir dos créditos finais.





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