Crítica: Garota Eslovena (Slovenka)

24 de outubro de 2012 0 Comente Aqui!

O cinema Esloveno é pouco conhecido no cenário mundial, até mesmo no Europeu tem pouca relevância atualmente, principalmente se compararmos com o que era feito na antiga Iugoslávia do diretor sérvio Emir Kusturica. Imerso no ostracismo, as produções cinematográficas concebidas no país costumam participar constantemente de festivais. Premiado em 2009 no festival de seu país e ainda no de Valencia, na Espanha, A Garota Eslovena vem ganhado certa notoriedade. Estreou em cinemas de arte em vários países e vem sendo objeto de discussão em rodas cinéfilas. A obra escrita e dirigida por Damjan Kozole (experiente realizador local) não chega a ser um primor, mas dentro do seu minimalismo de ações, consegue prender a atenção do espectador com eficiência em uma narrativa de lenta evolução, mas de fácil compreensão.

De certo, a temática de viés sexualizado, controverso, envolvendo uma jovem e bela estudante de origem interiorana que se prostitui em uma cidade grande (Ljubljana, capital da Eslovênia) seja o maior chamariz de audiência. Digo isso, porque apesar de entreter com certa facilidade, A Garota Eslovena passa longe de ser algo transpirando originalidade ou mesmo polemizando e chocando com contundência, dado o mundo que pretende abordar. O ritmo lento (não arrastado) do filme apenas levanta mais questões do que resolve e isso pode incomodar uma audiência ávida por respostas. A tensa seqüência de abertura de A Garota Eslovena elucida um filme diferente (e pode criar expectativa), mas ainda que não se concretize como um dito thriller de suspense, essa sensação de tensão constante define o clima da obra.

O título remete diretamente à protagonista Aleksandra (Nina Ivanisin), uma estudante de certo talento, filha de pais separados, que tenta ganhar a vida em uma metrópole competitiva e capitalista. Slovenka (ou garota eslovena) é seu codinome, seu “nome de guerra” e a moçinha acaba ficando em evidência quando se vê envolvida na cena da morte de um diplomata em visita ao país. Com um mote principal aparentemente definido, o filme vai à direção contraria e não o usa como foco narrativo principal. Então, não esperem digressões profundas sobre submundo da prostituição e nem tramóias complexas envolvendo conspirações. Em verdade, o trabalho de Kozole mira em um naturalismo e no caráter da personagem, não na ação propriamente dita, que quando surge, funciona mais como um pano de fundo para problematizar.

Como todas as atenções são voltadas para a personagem principal, é de se esperar um mínimo de competência no trabalho de caracterização e construção de Aleksandra. Se a atriz Nina Ivanisin não apresenta uma atuação visceral, dotada de nuances conflitantes, devemos lembrar que o seu personagem é uma prostituta por escolha e não por imposição, com total consciência de seus atos. O sexo lhe convém apenas como veiculo monetário e o ato é mostrado de forma mecânica, para não dizer broxante. Se pensarmos bem, a contextualização de Aleksandra é crível dentro da história. O filme não tende a glamourizar sua vida, longe disso, lhe mostra como uma pessoa que poderia muito bem ser a nossa vizinha ou a filha do nosso melhor amigo. A força pulsante da moça se divide com momentos depressivos e introspectivos.

Na Eslovênia ou em qualquer país do mundo, não é mistério que garotas de classe média (seja alta ou baixa) se envolvam com prostituição. A opção de não explicar com muita eficiência o que motiva Aleksandra e os personagens coadjuvantes, com exceção de seu pai, serem tratados de forma corriqueira faz o resultado soar raso, pueril. No entanto, acredito em coerências nas escolhas dentro da maneira como o filme é conduzido. A Garota Eslovena pode ser visto como uma obra vaga, vazia, mas dentro de sua aparente superficialidade, consegue tratar de temas como conformismo, desilusão, relacionamento, falta de perspectivas e hipocrisia. O filme é imperfeito em muitos aspectos, mas como diria um amigo, vale por conseguir dialogar com o público de forma direta.



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