Em A Entidade, novo filme do
diretor americano Scott Derrickson,
existe uma fusão de estilos, tanto narrativos quanto visuais, do cinema de
terror. Digo isso, porque o cineasta se utiliza de elementos clássicos do
gênero, como a sempre presente casa mal-assombrada, passando por nuances dos
horrores orientais que ganharam o mundo e também não deixa de pincelar sua obra
com um pouco do found footage nosso
de cada dia, aquele gênero mais recente que aposta na desconstrução das
principais qualidades do cinema, usando como proposta uma fita encontrada com
filmagens reais.
A simbiose utilizada para contar
a história de um escritor, Elison Oswalt (Ethan
Hawke), de livros de mistérios baseados em contos reais não chega a ser
totalmente eficiente, mas até que tem seus momentos e consegue provocar sustos,
mesmo que em um contexto isolado do todo, afinal, sua trama formulaica, não o
impede da previsibilidade. Na trama, o já citado Oswalt, interpretado por um Ethan Hawke esforçado, muda-se com sua
esposa e o casal de filhos para uma casa de uma cidade do interior que foi
local de um crime bárbaro: toda uma pacata família, com exceção da filha mais
nova, foi enforcada na arvore do quintal da propriedade.
Cético e obcecado, até escondendo
da família a verdadeira história da nova residência, Oswalt acredita que
morando na trágica cena, poderá criar um envolvimento maior com o tema e assim
ter mais propriedade para realizar a obra-prima que busca. Não demora até que
ele encontre uma caixa no sótão com rolos de filmagens em Super 8 marcadas como
“momentos de família”. Assistindo-as, depara-se com uma seqüência de crimes
hediondos que datam desde os anos sessenta e que também se relacionam entre si,
pois todas as famílias assassinadas tiveram o membro mais novo dado como desaparecido.
Enquanto se envolve com as investigações, seu psicológico vai se abalando e
coisas estranhas começam a acontecer na casa. Mesmo reticente, o escritor passa
a acreditar que existe algo de maléfico manipulando o ambiente e afetando seus
filhos.
Não se pode negar que embora A
Entidade torne-se um tanto ordinário de seu meio para o fim, Scott Derrickson demonstra certo talento
para compor visualmente as cenas. Assim como seu trabalho de estréia de 2005, O Exorcismo de Emily Rose, a ambientação
é soturna e como o próprio titulo original (Sinister)
elucida aqui, existem seqüências realmente sinistras, principalmente as
montadas antes de o mistério ser revelado, causando aflição e um bocado de
tensão. O diretor combina com alguma eficiência o uso de uma trilha sonora
competente com filmagens bem elaboradas na escuridão. No entanto, se em um
primeiro momento as cenas escuras são interessantes, não demora até que percam
a força, até por serem usadas excessivamente, até quando é de dia, parece de
noite dentro da casa.
Verdade que muito da força
imagética do filme vem do found footage
contido nas fitas Super 8. Concebidas com uma boa dose de realismo, chocam pela
crueldade, também pontuando e impulsionando a narrativa até o seu desfecho. Pessoalmente
acredito que faltou um pouco mais de esmero para que A Entidade fosse, de
fato, um filme para ser chamado de bom. Ainda que tenha suas qualidades
positivas para uma obra de terror, peca por excessos e maneirismos visuais de
seu diretor, se levando a sério demais e trazendo um roteiro preguiçoso na sua
metade final, que aposta em clichês sucessivos e sustos esquemáticos em
detrimento a elaboração de soluções mais consistentes.
1 Comente Aqui! :
Ethan Hawke num filme de terror, isso me soa novo, nunca vi nenhum do gênero estrelado por ele. Talvez isso valha a pena. Talvez só isso valha a pena.
Postar um comentário