Crítica: Cosmópolis

3 de outubro de 2012 3 Comente Aqui!

O jovem bilionário e talento das finanças, Eric Packer (Robert Pattison), em um dia bem distinto de sua vida, pois esta prestes a sofrer um revés financeiro incalculável, resolve atravessar a Ilha de Manhattan em sua limusine, símbolo máximo de sua imponência, atrás do corte de cabelo perfeito. Durante sua odisséia, aparentemente sem propósito, pelas ruas da capital financeira mundial, hiper congestionadas devido a vários acontecimentos importantes, como a visita do presidente, o cortejo fúnebre de um famoso rapper e manifestações de insatisfação da população, Eric receberá em seu “castelo sobre rodas” a visita de pessoas que lhe trarão perspectivas sobre a vida moderna, amor, sexo, saúde, o poder do dinheiro, domínio da tecnologia e por fim o que motiva a violência.

Ainda que Eric esteja vivendo uma realidade que preocuparia qualquer um em sã consciência, o rapaz mostra um desapego às estrondosas e iminentes perdas financeiras e até mesmo as constantes ameaças de morte que recebe não lhe trazem apreensão. Talvez a sua soberba, a sensação de estar acima do bem e do mal, afirmada pela cena em que Eric fala para o seu segurança em tom blasé: “Ah, é o presidente...”, lhe suprimam uma percepção mundana, para ele, o dinheiro está acima de qualquer política, o que infelizmente não deixa de ser uma verdade. Eric também não tem a mínima intenção de salvar o mundo, prefere alimentar o caos social, manipulando seus funcionários a bel prazer, expondo a sua recente esposa a sua traição vergonhosa, assim como contraditoriamente procura romancear com a mesma. No entanto, nada disso parece ser suficiente para satisfazer os seus caprichos, desejos e necessidades.

Mais ou menos assim é Cosmópolis, novo filme do cineasta canadense David Cronenberg. Adaptado por ele mesmo do romance do escritor nova-iorquino Don DeLillo, é um trabalho pertinente, recheado de indagações, divagações, reflexões e, em um primeiro momento, pouquíssimas respostas. A intenção do diretor é deixar as soluções a cargo do espectador e como obra que faz o público ponderar, pelo menos é o que se espera, possível que Cosmópolis não agrade com unanimidade, na verdade, acredito até que desagradará mais. Em uma época que o cinema mainstream tem apostado todas as suas fichas em realizações aos moldes que George Lucas definiu ainda no final dos anos 70 com Star Wars, creio ser mais do que importante um filme ousado como esse, difícil de explanar apenas em vinte e cinco palavras. Produzido fora do eixo hollywoodiano, esse Cronenberg desafia o público, transcendendo o que deveria ser um simples entretenimento.

Apoiado por coadjuvantes competentes e talentosos, com destaque para Juliette Binoche, Sarah Gadon, Samantha Morton, Emily Hampshire e Paul Giamatti, o protagonista Robert Pattinson surpreende até os mais céticos com uma atuação visceral e convincente. Seu Eric Packer é um simbolismo cheio de propriedade da classe que inevitavelmente acaba por governar esse nosso mundo globalizado. Os seus sarcasmos em elaboradíssimos diálogos são pontuais, impulsionam a narrativa e fazem surgir importantes tiradas críticas, como a do exacerbado culto a perfeição física, na marcante cena em que Eric faz seu exame de próstata diário no meio do trânsito ou ainda na seqüência em que se discute, com um distanciamento tenso, a origem e o que motiva a violência.

Assim como o roteiro adaptado e atuações de um elenco em brilhante sintonia, o trabalho estético de Cosmópolis não poderia deixar de ser caprichado, pincelado com a estranheza cara ao cinema de David Cronenberg, destaca-se a construção minuciosa do interior da limusine. O veiculo é um primor da auto-indulgência do protagonista e concebido como um autêntico trono tecnológico da onde Eric poderia governar o mundo. Sem dúvidas, o carro é um dos importantes personagens da história, tanto que Eric não se satisfaz até saber para onde vai quando não está rodando. Em certos momentos, cogita-se até se tem alguém mesmo dirigindo o automóvel ou ele teria vida própria. Não obstante a ser mero transporte, creio também que possa ser visto como uma contextualização de um simbolismo sobre a robotização do ser humano, cada vez mais dependente de tecnologias de ponta. Longe de ser uma idiossincrasia de seu realizador, Cosmópolis é um retrato contundente, ora hiper realístico ora fiel, mas sem nunca deixa de ter propriedade sobre suas temáticas cosmopolitas.



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