Curiosamente, o escritor
americano Stephen Chbosky, autor do
livro de sucesso The Perks of Being a
Wallfower, como já foi feito por outras vezes, havia sido contratado para
escrever o roteiro da adaptação cinematográfica de sua obra literária. A
intenção do estúdio não era que ele dirigisse o filme, afinal, o sujeito não
tinha a mínima experiência atrás das câmeras, a não ser por um curta-metragem
de 1995. No entanto, devemos lembrar que Hollywood costuma apostar em nomes
novos, até mesmo para filmes que passam longe do baixo orçamento, e assim, Chbosky assumiu a tutela na direção de
seu próprio texto. Felizmente, As Vantagens de Ser Invisível não é
daqueles casos em que uma escolha ousada sai como um tiro no pé, pois no meu
ponto de vista, até o presente momento, o filme figura fácil entre as melhores
realizações a passarem em circuito comercial no Brasil.
A trama de As Vantagens de Ser Invisível
não define especificamente a sua época, mas com o uso de fitas cassete pelos
personagens para montarem trilhas sonoras pessoais e o descaso pelo som do CD,
é bem provável que a história se situe no final dos 80´ e começo dos 90´. Nosso
protagonista e por quem através dos seus olhos vamos ser levados pelos fatos, é
o jovem Charlie (Logan Lerman). Um
garoto talentoso com a escrita, de boa família, com dois irmãos mais velhos e
pais preocupados, mas introspectivo, praticamente sem amigos e que teme pela
sua entrada no colegial. Seus primeiros dias são solitários e para aliviar suas
frustrações, ele recorre a um diário bem pessoal, que chama de querido amigo, aonde
também vamos conhecendo suas principais reminiscências. Embora se mantenha
alheio as principais preocupações corriqueiras do colegial, como festas e
meninas, Charlie percebe a necessidade de fazer amigos e não demora até que conheça
o divertido Patrick (Ezra Miller) e, sua
meia-irmã, a apaixonante Sam (Emma Watson).
O casal de irmãos, ainda que
festeiros, não chegam a serem os mais populares do colégio, mas também passam
longe de serem os nerds ou algo parecido. Na verdade, eles tentam fugir de
rótulos, mas no colegial é difícil não ser rotulado e por assim dizer, eles
estariam mais para os descolados ou deslocados. A amizade à primeira vista
entre ambos, fará com que Charlie descubra novas perspectivas sobre a vida,
amor, arte e também impulsionará a sua saída de um problemático casulo psicológico
armado desde a morte de sua tia, ainda na infância. Além do forte elo firmado
entre a trinca de protagonistas, o relacionamento distanciado, mas valoroso e
cheio de uma afeição contida, entre o jovem e seu professor, interpretado com
eficiência por Paul Rudd, também é um
dos pontos altos de uma narrativa que preza pela sinceridade, sem nunca apostar
em soluções tão obvias ou clichês utilizados sem critério. Sim, As
Vantagens de Ser Invisível tem seus “lugares comuns”, mas são colocados
de maneira singela, sensível, e bem aproveitados, somente engrandecem a obra.
Indo a contramão do que pode ser
esperar de um diretor estreante, Stephen
Chbosky demonstra certo talento de ordem estética, como quando entrecorta
seqüências com vistosas elipses e omite fatos importantes, para depois os
trazer em edições poderosas e reveladoras. A trilha sonora pop, com canções de
The Smiths, New Order, Sonic Youth, David Bowie e algumas do musical Rocky Horror Picture Show, pontuam com
muita propriedade os momentos mais ternos, melancólicos, divertidos, românticos
e viscerais da trama. Verdade também que as atuações de Logan Lerman, Emma Watson
e Ezra Miller são a força motriz de As
Vantagens de Ser Invisível. O jovem Lerman
com seu visual de bom menino, consegue trazer com naturalidade o conflito que
veste seu caráter, assim como ele é a ternura em pessoa, em questão de momentos
pode surgir um monstro adormecido que habita seu intimo. A inglesa Emma Watson enche a tela de charme e
elegância, mesmo interpretando uma personagem que passa longe do que chamamos
de “princesinha”. Já Ezra Miller, que
havia brilhado no contundente Precisamos
Falar sobre o Kevin, entrega uma atuação categórica como o gay Patrick, um
rapaz sonhador que vive um amor às escondidas.
Em um primeiro momento, As
Vantagens de Ser Invisível, até pela premissa elucidando uma obra de
aspectos juvenis, deve gerar sua parcela de preconceito. No entanto, quem se
dispor a transcender essas cismas e der uma chance a esse belo, sensível e
reflexivo trabalho, poderá perceber o quanto à obra traz temáticas relevantes.
Ainda existem pontos cruciais na trama, tratados com toda a delicadeza pela
narrativa, que estão omitidos da resenha para que o amigo leitor tenha suas
surpresas e considerações próprias. As
Vantagens de Ser Invisível é um filme adorável, melancólico, sincero e
também inspirador. Afinal, somente os bons filmes fazem com que o espectador
mantenha-se estático em sua poltrona, vendo os créditos subirem, enquanto
deseja continuar com aqueles personagens, que acabou de conhecer, mesmo que
apenas mais um pouquinho.
2 Comente Aqui! :
Colega, fiquei impressionado com o seu texto e com o impacto desse filme em você. Ainda que não o tenha visto, esperava menos elogios a ele, uma nota menor também. Agora, lógico, serei obrigado a vê-lo o mais rápido possível.
Nossa que filmaço. Acabei de ver e estou muito contente com o que vi em cena. A produção é fantástica! Ezra Millee é um baita ator e só faz crescer a cada ano. Sem sombra de dúvidas um dos mehores filmes do ano.
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