Crítica de Filme: Oslo, 31 de Agosto (Oslo, 31. August)

21 de setembro de 2012 0 Comente Aqui!

Dirigido e roteirizado a partir do livro “Le Feu Follet” do escritor francês Pierre Drieu La Rochelle (o mesmo que deu origem a 30 Anos essa Noite de Louis Malle) o filme Oslo, 31 de Agosto, a cargo do jovem diretor Joachim Trier (sobrinho do polêmico Lars Von Trier) primeiramente ganhou certa notoriedade em importantes festivais de cinema, como Cannes e Chicago, e desde então vem crescendo nas rodas cinéfilas. Infelizmente, é o tipo de obra que passa longe do grande circuito e como o dito circuito artístico também é um tanto restrito, esse contundente filme veio a ser despejado sem alarde algum para home-video. Talvez eu não tivesse conhecido a obra senão fosse um tópico sobre cinema na internet, e verdade seja dita, santa internet! Então vamos fazer o dever de casa e divagar sobre esse que é um dos filmes mais marcantes que assisti nos últimos tempos.

O protagonista e por quem inevitavelmente vai se torcer por redenção é Anders (Anders Danielsen Lie), 34 anos, boa família, classe média alta, bonito e inteligente. Ainda vivendo em uma sociedade considerada por muitos como exemplo de perfeição, onde problemas sociais parecem sanados, economia estabilizada e um sistema de saúde que cuida de seus enfermos com propriedade. Sem se esforçar muito, Joachim Trier faz de Oslo um personagem importante no filme, mostrando sua beleza minuciosamente planejada, plácida e propicia a calmaria, uma perfeita cidade moderna, mas que por trás dessa aparente perfeição edificante existe um forte culto ao hedonismo e uso de drogas. Anders, assim como tantos outros como ele, foi um usuário ferrenho de drogas e freqüentador assíduo desse meio. Embora o filme seja sobre vicio e suas conseqüências, de forma louvável, o diretor foge da típica e estrita representação do submundo junkie e coloca o espectador dentro de um dos últimos dias da reabilitação por qual o rapaz passa.

Considerado bem sucedido em sua “rehab”, o desfecho do programa consiste em uma entrevista de emprego. Assim Anders é liberado para voltar à capital norueguesa, Oslo, no dia 31 de Agosto do titulo. Obstante a esse sucesso na regeneração, a seqüência que abre o filme deixa escancarada a negação do rapaz, uma angustiante luta interior, misto de depressão com falta de perspectivas e necessidade de preencher uma vida vazia que Anders considera desperdiçada. Em seus 34 anos, ele acredita não ter mais força para recomeçar, mas o singelismo de certas cenas mostra o personagem deixando escapar pontas de esperança e isso cria uma enorme empatia com o espectador, que se sente realmente tentado a dialogar diretamente com o jovem. Afinal, a trama nos traz um personagem realístico, bem dimensionado, embora envolto em um bocado de poesia melancólica, mas que facilmente nos remeterá a histórias semelhantes de pessoas que botaram tudo a perder. Não somente com drogas, mas com escolhas imprudentes e impensadas.  

A intenção da viagem a capital é a tal entrevista de emprego, imposta a contragosto a Anders e como ela é delineada desde o inicio de sua trajetória, não chega a ser uma surpresa que o resultado seja negativo, gerando um momento de explosão intempestiva que impulsiona o homem a reviver seus momentos de glória em uma noitada sem precedentes. Embora possa se pensar que Oslo, 31 de Agosto elucide um tipo de catarse como já mostrada em filmes como Réquiem para um Sonho ou Trainspotting, o filme de Joachim Trier passa muito longe dessa pegada lisérgica. Com os pés no chão, o andamento é lento, intimista, com longos e vistosos enquadramentos, apostando em diálogos bem construídos, como na pontual cena em que Anders encontra um antigo amigo de “esbórnia”, hoje casado e razoavelmente bem resolvido. Na primeira conversa entre ambos é citado brevemente Em Busca do Tempo Perdido do também francês Marcel Proust (1871-1922) e não deixa de ser um simbolismo mais do que pertinente no contexto da história.

Na segunda conversa entre os amigos, antes mesmo da entrevista e de Anders recorrer à noitada onde reencontra outros conhecidos e conhece uma jovem com potencial para um amor revigorante, ele subverte as qualidades da “vida normal” com tanta eloqüência, que a sensação de vida desperdiçada, de ter desapontado pessoas importantes, como seus familiares e o seu grande amor, é tão forte que infelizmente percebemos que talvez não exista mesmo uma luz no fim do seu túnel.




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