Dirigido e roteirizado a partir do livro “Le Feu Follet” do
escritor francês Pierre Drieu La Rochelle (o mesmo que deu origem a 30
Anos essa Noite de Louis Malle) o filme Oslo, 31 de Agosto, a
cargo do jovem diretor Joachim Trier (sobrinho do polêmico Lars
Von Trier) primeiramente ganhou certa notoriedade em importantes festivais de
cinema, como Cannes e Chicago, e desde então vem crescendo nas rodas cinéfilas.
Infelizmente, é o tipo de obra que passa longe do grande circuito e como o dito
circuito artístico também é um tanto restrito, esse contundente filme veio a
ser despejado sem alarde algum para home-video. Talvez eu não tivesse
conhecido a obra senão fosse um tópico sobre cinema na internet, e verdade seja
dita, santa internet! Então vamos fazer o dever de casa e divagar sobre esse
que é um dos filmes mais marcantes que assisti nos últimos tempos.
O protagonista e por quem inevitavelmente vai se torcer por
redenção é Anders (Anders Danielsen Lie), 34 anos, boa família, classe média
alta, bonito e inteligente. Ainda vivendo em uma sociedade considerada por
muitos como exemplo de perfeição, onde problemas sociais parecem sanados,
economia estabilizada e um sistema de saúde que cuida de seus enfermos com
propriedade. Sem se esforçar muito, Joachim Trier faz de Oslo um
personagem importante no filme, mostrando sua beleza minuciosamente planejada,
plácida e propicia a calmaria, uma perfeita cidade moderna, mas que por trás
dessa aparente perfeição edificante existe um forte culto ao hedonismo e uso de
drogas. Anders, assim como tantos outros como ele, foi um usuário ferrenho de
drogas e freqüentador assíduo desse meio. Embora o filme seja sobre vicio e
suas conseqüências, de forma louvável, o diretor foge da típica e estrita
representação do submundo junkie e coloca o espectador dentro de um
dos últimos dias da reabilitação por qual o rapaz passa.
Considerado bem sucedido em sua “rehab”, o desfecho do
programa consiste em uma entrevista de emprego. Assim Anders é liberado para
voltar à capital norueguesa, Oslo, no dia 31 de Agosto do titulo. Obstante a
esse sucesso na regeneração, a seqüência que abre o filme deixa escancarada a
negação do rapaz, uma angustiante luta interior, misto de depressão com falta
de perspectivas e necessidade de preencher uma vida vazia que Anders considera
desperdiçada. Em seus 34 anos, ele acredita não ter mais força para recomeçar,
mas o singelismo de certas cenas mostra o personagem deixando escapar pontas de
esperança e isso cria uma enorme empatia com o espectador, que se sente
realmente tentado a dialogar diretamente com o jovem. Afinal, a trama nos traz
um personagem realístico, bem dimensionado, embora envolto em um bocado de
poesia melancólica, mas que facilmente nos remeterá a histórias semelhantes de
pessoas que botaram tudo a perder. Não somente com drogas, mas com escolhas
imprudentes e impensadas.
A intenção da viagem a capital é a tal entrevista de
emprego, imposta a contragosto a Anders e como ela é delineada desde o inicio
de sua trajetória, não chega a ser uma surpresa que o resultado seja negativo,
gerando um momento de explosão intempestiva que impulsiona o homem a reviver
seus momentos de glória em uma noitada sem precedentes. Embora possa se pensar
que Oslo, 31 de Agosto elucide um tipo de catarse como já mostrada em
filmes como Réquiem para um Sonho ou Trainspotting, o filme de Joachim
Trier passa muito longe dessa pegada lisérgica. Com os pés no chão, o
andamento é lento, intimista, com longos e vistosos enquadramentos, apostando
em diálogos bem construídos, como na pontual cena em que Anders encontra um
antigo amigo de “esbórnia”, hoje casado e razoavelmente bem resolvido. Na
primeira conversa entre ambos é citado brevemente Em Busca do Tempo
Perdido do também francês Marcel Proust (1871-1922) e não deixa
de ser um simbolismo mais do que pertinente no contexto da história.
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