O americano Seth Macfarlane,
talento da TV ianque, ganhou notoriedade por escrever textos inspirados para séries
animadas voltadas ao público adulto, entre as mais evidentes, os politicamente
incorretos “Family Guy” (no Brasil “Uma Família da Pesada”) e não menos
divertido e ácido “American Dad”. Então, até por seu franco sucesso, nada mais
natural do que vir a trabalhar com cinema e mesmo a pouca experiência em
direção não foi empecilho para realizar a comédia “Ted”, obra de estréia em que
como um verdadeiro autor, assume as funções de roteirista, diretor e ator.
Nessa estréia cinematográfica,
Macfarlane aposta em subverter gênero e subgênero do cinema. Primeiro, inicia
sua obra como uma fábula infantil, para depois levar o recente subgênero,
chamado de “bromance”, até as últimas conseqüências. Digo isso, porque somente
pela idéia, mas o texto também evidencia pela narração em off, de um urso de
pelúcia ganhar vida traz o tom fabulesco necessário para acreditarmos em uma
narrativa fantasiosa, ainda que sarcástica. Segundo, o nível de interação a que
a dupla de protagonistas se entrega transcende a amizade a qual muitos filmes
semelhantes, e que ajudaram a definir as condições do subgênero, fizeram
propor, como “Eu Te Amo, Cara”, “Segurando as Pontas” ou “Anjos da Lei”.
A trama de “Ted” começa nos
distantes e “mágicos” anos 80, quando John Bennet (Bretton Manley), ainda
criança, introspectivo e com dificuldades para conquistar amigos, deseja na
noite de natal que o urso de pelúcia que ganhou de presente ganhe vida. Como em
um conto de fadas, no dia seguinte, lá esta Ted (a voz de Macfarlane) “vivinho
da silva”, pronto para ser o melhor amigo de John ou amigo de trovão, como
ambos definem a amizade, por causa do medo mútuo de tempestades. Não demora até
que Ted ganhe notoriedade e torne-se uma celebridade, mas como o roteiro
propõe: hoje você é famoso, amanhã pode ser ninguém, inevitável que não
aconteça o mesmo com Ted décadas depois.
Depois da bem montada
apresentação inicial, chegamos onde realmente interessa na nossa história: nos
tempos de hoje, um desleixado e “boca suja” Ted e um infantilóide John de 34
anos (interpretado por Mark Wahlberg), sem muitas pretensões, levam uma vida de
excessos, presos a nostalgia, fumando quantidades elevadas de maconha, assistindo
o máximo possível de filmes (com destaque para o filme de cabeceira de ambos, “Flash
Gordon”, aquele que é mais lembrado pela trilha do Queen) e com um nível de amizade
intimidador, ao ponto de colocar em xeque o namoro do homem com a bela e bem sucedida
Lori (Mila Kunis).
A trama linear não faz tantas
voltas, e isso não deixa de ser um acerto, deixando o espaço livre para as
inspiradas e engraçadas gags concebidas por Macfarlane. Assim como diverte, é
possível que Ted ganhe sua parcela de detratores, pois aposta em piadas
sexistas, preconceituosas e de alto teor de mau gosto, como as inúmeras sobre
“peidos” que aparecem durante a projeção. No entanto, vale lembrar que a
representação tem a intenção de satirizar o mundo das celebridades ou sub-celebridades
esquecidas, colocando até do mesmo lado, em uma festa, Ted e o protagonista do
já citado “Flash Gordon”, o folclórico ator Sam J. Jones.
Com um mote principal sendo a
encruzilhada na vida dos amigos, apontando para o amadurecimento de ambos, o
roteiro mostra uma ponta de ousadia ao inserir uma sub-trama que coloca Ted em
perigo ao sofrer perseguição por um ex-fã psicótico (vivido por Giovani Ribisi)
e seu filho tão pirado quanto. Embora acredite que esse segundo mote seja
subaproveitado, o desenrolar da narrativa principal acaba sendo
substancialmente divertido e cativante, fazendo-se sobrepor naturalmente na
história. Não tenho dúvidas de quem montou o filme tenha tido essa percepção de
que o verdadeiro foco de “Ted” deveria ser a imponente e duradoura amizade.
Detalhe curioso é que mesmo Ted apresentar sérias tendências ao mau-caratismo, inevitável
não se deixar seduzir por sua carinha de urso feliz, usada com extrema eficiência
no contexto da obra.
“Ted” ainda tem um desfile de
nomes famosos fazendo pontas, não vou citar, para não estragar a surpresa. A seqüência
logo após o epilogo também é um dos momentos mais divertidos da obra. Agora
fica uma dica que pode ser substancial: fujam das cópias dubladas, pois se faz
perder boa parte do teor das piadas e gags, fazendo ainda o filme parecer pouco
engraçado. Eu mesmo assisti primeiro dublado e não achei tão interessante quanto
na revisão com legendas. Outra observação valiosa: nada de levar crianças, a
produção é diversão exclusiva para adultos.
2 Comente Aqui! :
Está sendo elogiado, mas eu tenho problemas com comédias que exalam piadas duvidoso. Não sei, posso até gostar, mas achoque vou deixar para ver em vídeo. Abraço!
Na minha lista para assistir, sem dúvidas na tela grande. ótimo texto Celo, gostando de ler elogios do filme. Sou fã de "Uma Família Da Pesada" (American Dad já acho que extrapola bastante), morro de rir, por exemplo, com a trilogia especial que o Seth fez de Star Wars utilizando os personagens da série, rs! E pelo que pude perceber no trailer, até mesmo o Mark Wahlberg, deve estar engraçado.
Abs.
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