Crítica: Boca

30 de setembro de 2012 1 Comente Aqui!

Um espectador sem muitas informações (como foi meu caso) previamente pode achar que “Boca” é uma obra sobre a saudosa produtora paulistana que brindou o cinema nacional com muitas pérolas. Porém, a realização do novato diretor carioca  Flavio Frederico é baseada na autobiografia de Hiroito de Moraes Joanides (no filme Daniel de Oliveira). Sujeito que vem a ser um dos maiores criminosos brasileiros nas décadas de 50 e 60, tendo assim como área de atuação a então conhecida Boca do Lixo paulistana, área que confluía prostituição e tráfico de drogas. Pode-se dizer que Hiroito foi precursor na distribuição de entorpecentes no Brasil.

O roteiro escrito por Frederico e mais uma colaboradora é baseado no livro escrito pelo próprio Hiroito, que preso nos anos 70, passou mais de 20 anos na cadeia. Assim como uma significante parcela de psicopatas, sociopatas e criminosos que surgem frequentemente na nossa sociedade, Hiroito era de boa família, tratado como o “filhinho da mamãe”. A primeira acusação que teve contra si, logo apresentada no inicio do filme, é de que teria assassinado o próprio pai. A partir desse fato, somos levados por sua vida delinqüente, de envolvimento com prostitutas, as quais sinceramente dizia que amava e o seu exacerbado consumo de drogas. Aparentemente o homem teria entrado na vida de traficante porque gostava tanto de psicotrópicos que desejava ficar o mais perto possível deles.

Outra faceta representada no filme seria a de que Hiroito não se detinha a meter bala em quem se colocasse contra ele. Não pensava duas vezes e um simples zombeteiro poderia comer capim pela raiz se cruzasse com ele em um mau dia. Esse viés explosivo rende um bocado de violência, que surge muitas vezes estilizada, ainda com um verniz de filmes policiais B. Mesclada as varias cenas de sexo, deve-se afirmar também que “Boca” tem uma forte essência de produções “exploitation”. O mau-caratismo impera naquela localidade, trazendo a tona elementos perversos, o que por vezes soa exagerado. Como é representado na obra, o caráter documental que poderia ser tratado é deixado de lado em detrimento à construção de um filme que parece se preocupar apenas em entreter platéias adultas da forma mais rasteira possível.

Até pelo apelo de criar uma obra com foco na ação, com personagens dos mais cinematográficos, o filme em si não esmiúça muito a história desse chefão do crime. O diretor Flavio Frederico cria alguns rodeios na narrativa, ainda captando elementos de “road-movies” que não chegam a funcionar como ele possivelmente imaginou, fazendo assim algumas passagens soarem redundantes. Porém, o bom elenco formado por  Milhem Cortaz, Hermila Guedes, Jéferson Brasil e Paulo César Peréio acompanham Daniel de Oliveira de maneira até competente, trazendo um pouco de consistência para que o público se preocupe o mínimo com os personagens, que ainda um tanto marginais conseguem se fazer carismáticos. Mesmo “Boca” passando longe de ser algo relevante, entretém em alguns momentos, mas também não é o suficiente para se afirmar que seja de fato um bom filme.




1 Comente Aqui! :

  • Hugo disse...

    Não conhecia este filme.

    A temática me agrada, gosto de filmes policiais.

    Vou conferir, mesmo com seu texto citando que o resultado não seja dos melhores.

    Abraço

 
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