Crítica de Filme: A Tentação (The Ledge)

27 de agosto de 2012 1 Comente Aqui!

Dirigido e roteirizado por Matthew Chapman, mais conhecido pelo roteiro do divertido “A Cor da Noite” do que por algum trabalho de direção relevante, “A Tentação” segue a linha dos filmes que travestem uma história de suspense com uma roupagem reflexiva. A trama divaga rasteiramente sobre discussões filosóficas, religiosas, ateísmo, homossexualismo, casamento, culminado em um adultério, mas que na verdade, apesar de temas pertinentes, não passam de molas propulsoras para o roteiro chegar aonde quer: o protagonista Gavin (Charlie Hunman) de pé em um beiral, no alto de um edifício, pronto para um suicídio. Não demora até que o detetive Hollis (Terrence Howard) apareça em uma janela e interpele Gavin sobre os motivos de querer se matar.

O prólogo todo apoiado em clichês policiais, não chega a ser um problema, até mesmo quando o batido flashback nos joga no inicio da problemática, dando aquela sensação meio desagradável de um dejá-vu desnecessário. Gavin, subgerente de um Hotel, fascina-se por sua nova e enigmática vizinha, Shana (Liv Tyler). Coincidência ou não (o filme também brinca com destinos), a moça aparece para uma entrevista de emprego no Hotel. O homem prontamente a contrata, afinal, uma fascinação mútua fica evidente desde a primeira cena do casal. Depois de uma pesada desilusão amorosa, conseqüência de uma fatídica tragédia, Gavin passou a morar com Chris (Chris Gorham), seu melhor amigo, um produtor de TV gay soropositivo. Shana, apesar de francamente interessada em seu vizinho, é casada com Joe (Patrick Wilson), evangélico fervoroso, fundamentalista até e a quem ela acredita dever muito.

 O filme poderia até aproveitar-se dessa premissa entre opostos conflitantes e tramar uma história sobre intolerância, mas a investida é pueril. Analisando mais a fundo, chega a fazer pouco sentido à elaboração de um personagem como Chris, a quem o diretor faz questão de sempre lembrar ao espectador da sua doença, colocando frascos de remédio em sua frente na maioria das cenas em que aparece. Mal desenvolvida, as problemáticas do rapaz são irrelevantes na história e faz Chris aparecer em alguns momentos que lembram sitcoms cômicos, criticando a religião que costuma freqüentar (Cabala) e sua presença também é de pouca serventia para as ações de Gavin.

Por mais que Gavin e Shana pudessem e quisessem se repelir, inicialmente pelo tom preconceituoso de Joe para com o estilo de vida de seus vizinhos, principalmente por julgar Gavin e Chris como um casal gay. Posteriormente, a decisão parte do iminente casal, concluindo que não deveriam mesmo se envolver. No entanto, a cada tentativa, mais eles se atraiam. Essas passagens são pontuadas com momentos de romantismo e que creditam “A Tentação”, que apesar de seu tom evidente de thriller, como uma realização que procura transitar pelos gêneros. Não é a toa que surja uma melodramática segunda linha narrativa, discorrendo sobre a vida de casado do detetive Hollis, envolvendo também adultério e dúvidas sobre paternidade. “A Tentação” pode parecer ser uma obra com relativa profundidade, personagens dimensionados, problemáticas atuais, no entanto, Chapman coloca a perder a chance de se realizar um pequeno grande filme em detrimento a resoluções pouco críveis, até mesmo para o contexto hiper-realistico da obra.

Se por um lado “A Tentação” é dessas realizações que prometem mais do que cumprem, por outro, o resultado final pode ser visto até como satisfatório se formos comparar com outros thrillers mais recentes. O filme cativa o interesse do espectador mesmo sem envolver investigações ou seqüências de ação. O suspense surge dos encontros escondidos entre Gavin e Shana, repletos de tensão sexual e o casal de atores fazem tais sensações acontecerem com eficiência. Acredito até que se houvessem mais ousadias nas cenas de sexo, elas não seriam gratuitas, tamanha a importância de tais momentos na trama. O Joe de Patrick Wilson poderia ser menos obvio, os momentos espreitando sua esposa adúltera, criando maquinações dentro de sua mente consumida por ódio, justificando as atitudes com passagens da bíblia só confirmam cada vez mais "A Tentação" como uma obra ordinária, ainda que a enquadremos como um ordinário aceitável.



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