Dirigido e roteirizado por
Matthew Chapman, mais conhecido pelo roteiro do divertido “A Cor da Noite” do
que por algum trabalho de direção relevante, “A Tentação” segue a linha dos
filmes que travestem uma história de suspense com uma roupagem reflexiva. A
trama divaga rasteiramente sobre discussões filosóficas, religiosas, ateísmo,
homossexualismo, casamento, culminado em um adultério, mas que na verdade,
apesar de temas pertinentes, não passam de molas propulsoras para o roteiro
chegar aonde quer: o protagonista Gavin (Charlie Hunman) de pé em um beiral, no
alto de um edifício, pronto para um suicídio. Não demora até que o detetive Hollis
(Terrence Howard) apareça em uma janela e interpele Gavin sobre os motivos de querer
se matar.
O prólogo todo apoiado em clichês
policiais, não chega a ser um problema, até mesmo quando o batido flashback nos
joga no inicio da problemática, dando aquela sensação meio desagradável de um
dejá-vu desnecessário. Gavin, subgerente de um Hotel, fascina-se por sua nova e
enigmática vizinha, Shana (Liv Tyler). Coincidência ou não (o filme também
brinca com destinos), a moça aparece para uma entrevista de emprego no Hotel. O
homem prontamente a contrata, afinal, uma fascinação mútua fica evidente desde
a primeira cena do casal. Depois de uma pesada desilusão amorosa, conseqüência
de uma fatídica tragédia, Gavin passou a morar com Chris (Chris Gorham), seu
melhor amigo, um produtor de TV gay soropositivo. Shana, apesar de francamente
interessada em seu vizinho, é casada com Joe (Patrick Wilson), evangélico
fervoroso, fundamentalista até e a quem ela acredita dever muito.
O filme poderia até aproveitar-se dessa
premissa entre opostos conflitantes e tramar uma história sobre intolerância,
mas a investida é pueril. Analisando mais a fundo, chega a fazer pouco sentido à
elaboração de um personagem como Chris, a quem o diretor faz questão de sempre
lembrar ao espectador da sua doença, colocando frascos de remédio em sua frente
na maioria das cenas em que aparece. Mal desenvolvida, as problemáticas do
rapaz são irrelevantes na história e faz Chris aparecer em alguns momentos que
lembram sitcoms cômicos, criticando a religião que costuma freqüentar (Cabala)
e sua presença também é de pouca serventia para as ações de Gavin.
Por mais que Gavin e Shana
pudessem e quisessem se repelir, inicialmente pelo tom preconceituoso de Joe
para com o estilo de vida de seus vizinhos, principalmente por julgar Gavin e
Chris como um casal gay. Posteriormente, a decisão parte do iminente casal,
concluindo que não deveriam mesmo se envolver. No entanto, a cada tentativa, mais
eles se atraiam. Essas passagens são pontuadas com momentos de romantismo e que
creditam “A Tentação”, que apesar de seu tom evidente de thriller, como uma
realização que procura transitar pelos gêneros. Não é a toa que surja uma melodramática
segunda linha narrativa, discorrendo sobre a vida de casado do detetive Hollis,
envolvendo também adultério e dúvidas sobre paternidade. “A Tentação” pode
parecer ser uma obra com relativa profundidade, personagens dimensionados,
problemáticas atuais, no entanto, Chapman coloca a perder a chance de se
realizar um pequeno grande filme em detrimento a resoluções pouco críveis, até
mesmo para o contexto hiper-realistico da obra.
Se por um lado “A Tentação” é
dessas realizações que prometem mais do que cumprem, por outro, o resultado
final pode ser visto até como satisfatório se formos comparar com outros
thrillers mais recentes. O filme cativa o interesse do espectador mesmo sem
envolver investigações ou seqüências de ação. O suspense surge dos encontros
escondidos entre Gavin e Shana, repletos de tensão sexual e o casal de atores
fazem tais sensações acontecerem com eficiência. Acredito até que se houvessem
mais ousadias nas cenas de sexo, elas não seriam gratuitas, tamanha a
importância de tais momentos na trama. O Joe de Patrick Wilson poderia ser
menos obvio, os momentos espreitando sua esposa adúltera, criando maquinações
dentro de sua mente consumida por ódio, justificando as atitudes com passagens
da bíblia só confirmam cada vez mais "A Tentação" como uma obra ordinária, ainda
que a enquadremos como um ordinário aceitável.
1 Comente Aqui! :
Apesar de não ser minha linha, nunca mais assisti a um filme policial. Vou dar uma olhinha nesse. Parece ser divertido apesar de clichê.
Valeu a dica.
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