Crítica de Filme: Rock of Ages: O Filme

22 de agosto de 2012 9 Comente Aqui!

Em determinada e especial cena do filme “O Lutador (2008)”, o protagonista The Ram (Mickey Rourke), então decadente ex-ídolo da luta - livre, ao som da estridente “Sweet Child O´ Mine” da banda Guns n´ Roses deixa escapulir que os anos 80 foram os melhores para o rock. Ainda na mesma seqüência, em conversa com seu interesse romântico, bem decepcionando com os rumos da música atual, ele cita: “Mas aí veio Kurt Cobain e acabou com tudo...” Há de se discordar dessa digressão improvável durante o filme de Aronofsky, principalmente, por hoje em dia, muita das canções oitentista soarem cafonas ou retro demais (eu discordo veemente), mas é com a mesma intenção de homenagear, ainda que em um tom de sátira escrachado, esse final da década de 80´, que surgiu o musical “Rock of Ages” na Broadway. Claro que foi um imenso sucesso.

Referendado por esse sucesso nos palcos mais famosos do mundo é que temos “Rock of Ages: O Filme”. Não é a primeira e nem será a última vez que Hollywood traz alguma produção musical teatral para a tela grande, até porque sabemos que o público americano é apaixonado por musicais. Boa parte da trama de “Rock of Ages” se passa na boate Bourbon Room, a casa mais quente da Sunset Street – Hollywood. O lendário local (onde foram gravados muito dos hinos do rock) é administrado por Dennis Dupree (Alec Baldwin), sujeito respeitado nos anos 70, mas que tem serias dificuldades para manter sua casa aberta naqueles derradeiros 80´. E como na já clássica canção “Don´t Stop Believin” da banda Journey, os protagonistas da nossa história são uma jovem de uma cidade pequena, Sherrie (Juliane Hough) e um rapaz da cidade grande, Drew (Diego Boneta). A dupla é atendente do Bourbon e talentosos como cantores, sonham com o estrelato e em se tornarem uma lenda como o Deus do Rock em decadência, Stacee Jaxx (Tom Cruise).

Caricato, não? No entanto, esse não chega a ser um problema em “Rock of Ages”, já que ele parte do principio de tirar sarro de praticamente todos os estereótipos que fizeram sucesso naquela época. Além dos cantores, temos os fãs xiitas, o empresário inescrupuloso (Paul Giamatti) e não poderiam faltar strippers (aonde entra a cantora Mary J. Bigle). Aliás, devemos reconhecer, leader bands e strippers pareciam ser a combinação perfeita na época de ouro do glam rock, tanto que houveram inúmeras canções sobre esses ruidosos casais e até tivemos músicos que se casaram com essas moças. Quem não lembra da legião de belas mulheres tirando a roupa para o guitarrista Slash no clipe de Patience? E assim que o filme dirigido por Adam Shankman (Hairspray, 1998) e roteirizado por Justin Theurox (Trovão Tropical, 2008) se mostra: uma obra repleta de clichês, mostrando uma Hollywood dividida entre clubes de rock e casas de strippers, da onde ainda brota um romance entre os protagonistas, e nesse meio, a esposa do prefeito, Patrícia Whitmore (Caterina Zeta-Jones) é a senhora católica em cruzada pelos bons costumes.  

O topo dos estereótipos é o Stacee Jaxx de Tom Cruise. Escancaradamente inspirado no problemático líder da já citada banda Guns n´ Roses, Axl Rose. O ator parece se divertir tanto em cena com suas afetações de Rock Star, que nos entrega uma atuação diferenciada em meio a sua extensa galeria de mocinhos. Claro que Tom Cruise é um dos principais motivos para se assistir “Rock Of Ages”, dele são os melhores momentos e tiradas. Em meio a tantos caprichos, Jaxx ainda tem como animal de estimação o macaco chamado Hey Man, o que não deixa de ser uma grande sacada dentro do filme. Afinal, seria Hey Man o único, além do próprio Stacee (como o próprio afirma), a conhecê-lo realmente? Somente pelos momentos inspirados de Cruise, o filme já estaria salvo, mas as canções de sucesso (e não são poucas) que pontuam a narrativa fazem todas a diferença para cativar o espectador. Não achem estranho se notarem que involuntariamente  estão acompanhando a maioria das canções.

Quase todo o elenco principal tem seu momento musical, alguns com mais destaque, outros menos. Em sua maioria, se saem com desenvoltura, com destaque para Alec Baldwin e o fanfarrão Russel Brand protagonizando uma seqüência musical hilariante ao som de “You Can´t fight this feeling anymore”. O ator mexicano Diego Boneta, em sua estréia no cinema, mostra domínio nas suas canções e não compromete, enquanto a bela Juliane Hough, apesar de esforçada e com algumas interpretações claudicantes, acaba por cativar o público com sua personagem carismática. Um detalhe entre o musical teatral e o cinematográfico que acredito ser uma diferença curiosa e a favor da 7ª arte é que nas versões para cinema não necessariamente seja preciso de virtuoses vocais para carregar o filme. “Rock of Ages” tem seus problemas, principalmente por uma trama previsível até demais, além de trazer atores talentosos subutilizados, como Bryan Cranston. No entanto, é um filme musical, divertido, engraçado, catártico, desses que o cinema americano costuma produzir com regularidade e certa competência. 




9 Comente Aqui! :

  • Silvano Vianna disse...

    Esse Celo Silva escreve bem d+, quando crescer quero ser que nem ele. Muito bom o texto velho eu que não curto os musicais fiquei até com vontade de ver...quando sair para bluray eu vou conferir.

  • J. BRUNO disse...

    Eu não curto tanto o hard rock poser ('poser' não no sentido pejorativo) e acho estranho que o estilo soe mais datado que outros que caracterizaram décadas anteriores à de 80. Na verdade isso me deixa até curioso em relação ao filme, por ele ser uma sátira de tudo isso...


    http://sublimeirrealidade.blogspot.com.br/2012/08/monty-python-em-busca-do-calice-sagrado.html

 
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