Quando se pensa em um filme
musical, logo lembramos dos realizados nos EUA. Não é para menos que nossa
memória busque lembranças de Cantando na Chuva ou qualquer um outro com Fred
Astaire. O próprio gênero já foi considerado como um dos mais representativos
do cinema ianque. É necessário afirmar a excelência dos americanos em realizar
produções musicais: sua eficiência técnica, canções que não tardam a entrar
para o imaginário cinéfilo popular, sem falar também no evidente talento dos
atores, em sua maioria bons cantores e dançarinos. No entanto, devemos lembrar
que a França, vez ou outra, aventura-se (e bem) no gênero, e não é de hoje. Na
década de 60, houve alguns bons representantes de um musical francês. Cito
brevemente, Duas Garotas Românticas (Led Deimosseles de Rocherfort, 1967) e
Guarda-Chuvas do Amor (Lês Parapluis de Cherbourg, 1964), esse estrelado pela
atriz francesa Catherine Deneuve, como exemplos de claros e agradáveis
sucessos.
Quarenta anos depois, os
cineastas franceses continuam explorando o gênero de forma elegante e
satisfatória, como no charmoso musical de suspense 8 Mulheres (2002) de François
Ozon e nesse mais recente trabalho do cultuado Christophe Honoré, intitulado
Bem Amadas. O diretor já havia feito um musical “moderninho” em 2007, Canções
de Amor. Não tive a oportunidade de conferir esse trabalho anterior, mas parece
que em Bem Amadas ,
Honoré traz uma obra com maior amplitude, visionando também um alcance maior de
público e fugindo de algumas características suas mais aclamadas. Digo isso,
porque o cineasta costuma focar suas realizações em histórias intimistas,
sensoriais e retratadas em filmes de porte menor. O trabalho aqui em questão vai
um pouco ao oposto disso, flertando com um cinema mainstream. A trama acompanha
a trajetória de duas mulheres ao longo de quase três décadas. Uma a mãe,
Madeleine (na juventude vivida pela bela Ludivine Sagnier e posteriormente por
uma madura, mas não menos bela Catherine Deneuve), a outra, sua filha, a
passional Véra (Chiara Mastroianni, filha de Deneuve com o lendário ator
italiano Marcelo Mastroianni).
A narrativa principal vai
desfiando os casos amorosos das duas mulheres, e às vezes, usando como pano de
fundo alguns acontecimentos históricos mundiais. Tanto Madeleine, quanto Vera,
desde sempre estiveram presas a triângulos amorosos, divididas entre o amor de
dois homens. No caso de Madeleine, que na juventude foi uma prostituta, os seus
vértices afetuosos são o ex-marido Jaromil (Rasha Bukvic primeiro, depois Milos
Forman, em uma participação curta, mas genial) e o compreensivo marido atual,
François (Guillaume Denaiffe). A filha Véra divide-se entre um romance
platônico com um músico gay (o ator americano Paul Schneider) e um colega de
trabalho vivido pelo ator Louis Garrel. Apesar de o filme ter seus altos e
baixos, não deixa de ser bonito o tratamento que o cineasta francês costuma dar
as relações, sejam familiares ou românticas. Se Honoré não tem o talento de um
Eric Rhomer, essa já é uma outra discussão, mas sinceramente, gosto de como ele
traça essas relações: cheias de intensidade, sinceridade, um bem-vindo
romantismo safado e sem falsos moralismos. Somente por isso, olho para Bem
Amadas como uma realização no mínimo carismática, emocional e divertida.
6 Comente Aqui! :
Musical eu comecei a gostar faz pouco tempo, sou sincero.
Mas, desde Chicago e Moulin Rouge....me apaixonei.
Esse ainda não assisti.
Eu não curto muito Honoré... é o queridinho da França e tal, mas vejo muita pretensão "quero ser Godard" em alguns de seus filmes e os outros são bem chatolas.
mas ele me pegou com "Canções de Amor", q tu não viu e recomendo. Primeira vez que aprovo Louis Garrell na vida rs.
No entanto, considero "Bem Amadas" o seu melhor. Filme maduro e apaixonante. Foi bacana vc ter mencionado "Os Guardas-chuvas do Amor" no início do texto, porque este exemplar faz uma homenagem explícita ao filme do Demy na cena em que Deneuve aparece cantando sob um guarda-chuva vermelho... e é muito bacana tudo isso!
Gosto das canções e do tom melancólico. A cena da revelação do Paul Schneider, putz... é um belo filme, sensível e sentimental na dose certa.
se continuar assim, Honoré sobe no meu conceito =D
abrass!
A primeira coisa que notei em Bem Amadas foi sua diferença com o outro musical, Canções de Amor, que eu fortemente recomendo. Bem Amadas, como você mesmo disse, tem um estilo bem diferente graças à jogada pro cinema mais comercial, não é um filme difícil e intimista do Honoré, se tornou um musical do Honoré. Mas eu acabei não gostando tanto assim. As músicas são lindas, Deneuve e Mastroianni roubam a cena com Sagnier, mas mesmo assim algo ainda não me apetece em Bem Amadas.
Abraços!
Comecei a me interessar pela obra do Christophe Honoré depois de ter assistido "Canções de Amor", um filme que me cativou desde a primeira sessão (escuto as músicas dele até hoje), provavelmente o próximo que verei será "Em Paris" e tentarei ver este assim que ele estiver disponível para download na net...
Não gosto muito desse tipo de filme, mas valeu pela dica.
Ótimo texto, Celo. Também concordo que as soluções de roteiro dadas na trama da filha não são muito convincentes, principalmente o amor avassalador que ela sente pelo personagem gay. Mas é filme muito interessante, que nos tira da zona de conforto dos filmes em geral. Abs.
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