Crítica de Filme: Menos que Nada (Nacional)

11 de julho de 2012 1 Comente Aqui!

Produção brasileira estreante no circuito, dirigida pelo cineasta gaúcho, Carlos Gerbase, o filme Menos que Nada é um trabalho no mínimo curioso. Digo isso, porque apesar de um clima explicito de thriller psicológico, a realização parece ter uma pretensão maior, talvez de criar um intricado jogo, mas que não chega a fazer o espectador exercitar tanto assim seus neurônios. Pretensão que não tarda a ser diluída quando percebemos a trama que usa e abusa de clichês (muitos deles utilizados de forma esdrúxula) e uma narrativa inconstante, apesar de conseguir cativar a audiência em uma história que vai se mostrando altamente improvável em seu desenrolar. Mais estranho ainda é constatar que o próprio Gerbase não é um diretor recente ou mesmo inexperiente, seus primeiros trabalhos datam do final dos anos 70 e tem algumas obras conhecidas no currículo, com destaque para Tolerância de 2000. Essa última afirmação é importante para situar o amigo leitor, porque nesse seu novo trabalho, Gerbase consegue nossa atenção enquanto estamos assistindo, mas parece (e muito) um filme de um realizador novato (e confuso).

Como disse ainda no inicio do primeiro parágrafo, Menos que Nada é uma realização que atrai a curiosidade. Se por um lado, ele pode causar certo desinteresse, por outro, um público mais despojado, antenado e com a cabeça aberta para produções de menor porte, começa a perceber nuances de um cinema de teor B. São evidentes as influências de filmes de gênero, principalmente os americanos, mas o diretor não deixa de impregnar à obra de algumas características pertinentes a um cinema nacional de guerrilha. Claro que ambas as escolhas conflitam na tela. Existem tomadas cruas e cruéis, em ritmo documentarial, principalmente as realizadas dentro do manicômio onde Dante Becker (Felipe Kannenberg) está internado a um bocado de anos, mas também acompanhamos outras seqüências muito bem iluminadas, de uma fotografia mais trabalhada, que sugerem uma realização com algum apreço por virtuosismos técnicos. O filme também concatena cenas que elucidam um breve found footage, com outras de câmera tremida ou bem colada ao rosto dos atores. Escolhas onde facilmente identificamos a existência de diversos estilos de se filmar e construir tensão. Resultado: o diretor tenta de todas as maneiras possíveis imbuir o seu filme de aura cool.

Na trama, Dante é um interno de longa data de um decadente hospital psiquiátrico. Ainda diagnosticado como psicopata/esquizofrênico e dado como caso perdido. Uma nova residente, a psiquiatra recém-formada, Paula (Branca Messina), resolve estudar o homem para a sua tese e durante essas sessões, vamos acompanhando flashbacks que remontam o passado do personagem. Logo duas mulheres surgem como peças fundamentais para o enlouquecimento de Dante, são elas: a amiga de infância Berenice (Maria Manoella) e a arqueologista René (a estonteante Rosane Mulholand). Dante, também arqueologista, apesar de sempre aparentar uma loucura latejante, era um sujeito que levava uma vida normal e a descoberta de uma ossada milenar em uma praia, marca o inicio da sua derrocada mental. Não é difícil chegar à conclusão de um envolvimento “mais aprofundado”, digamos assim, entre o homem e as duas belas mulheres desse seu turbulento passado. Assim, rendendo alguns bons momentos sensuais na história, apesar de funcionarem como justificativas e resoluções tolas para a trama. O diretor não detém sua câmera em explorar e desnudar os exuberantes corpos das moças. O que não deixa de ser um sopro de ousadia em meio a tantas produções nacionais caretas. Menos que Nada não deixa de entreter, mas também não deixa de ser um pastiche descarado e, infelizmente, esquecível. 


1 Comente Aqui! :

  • Amanda Aouad disse...

    Poxa, Celo, discordo da essência, a trama e a construção dos personagens (a exceção de Ciro) são o forte do filme, que constrói a questão das doenças mentais de uma maneira próxima e plausível. Pode parecer estranho aquela questão arqueológica, mas não deixa de ser inusitado, fora que realmente existem pesquisas assim no Rio Grande do Sul. A técnica é frágil, principalmente a arte, provavelmente por falta de verba também, mas não deixa de ser um filme interessante. Horrível mesmo é aquela lamentável cena de computação gráfica.

    bjs

    P.S. Ah, e apenas uma correção, psicopata e esquizofrênico são duas patologias totalmente opostas, um psicopata jamais será um esquizofrênico, pois sua doença o impede de ter emoções, enquanto que o esquizofrênico sente até demais.

 
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